O QUE CONTA MAIS PARA A LONGEVIDADE : GENÉTICA OU ESTILO DE VIDA





A busca pela fonte para a juventude e o desejo da beleza eterna são anseios quase tão antigos quanto a própria humanidade. Apesar dos avanços da medicina e da consciência sobre a importância do estilo de vida para ter longevidade, ainda não existe uma intervenção capaz de brecar ou reverter o envelhecimento. 

Segundo o médico e geneticista Salmo Raskin, presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica, muito já se falou sobre os efeitos do tempo sobre o corpo humano. Agora, os pesquisadores querem entender quais são os genes capazes de alterar ou atenuar o envelhecimento. 

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Azeite, peixes ricos em ômega-3 e uvas, que contêm resveratrol: a combinação, que é a base da Dieta Mediterrânea, tem sido associada a uma vida longa e saudável
"Esses genes seriam capazes de forçar certos mecanismos de reparo, o que aumentaria a resistência celular ao estresse (infecções e danos oxidativos)", diz Raskin. "Além disso, haveria algum elemento apto a manipular processos de desgaste e sistemas de defesa celular", complementa. 

Indagado sobre a possibilidade futura de intervenção nos mecanismos genéticos do envelhecimento, o especialista declara que a hipótese é viável caso sejam identificados os componentes genéticos do envelhecimento. 

Nesse caso, será possível repor no organismo aquilo que, com o tempo, ele deixou de produzir, bem como eliminar o que foi acumulado indevidamente. "Se as as pesquisas com as células-tronco avançarem, talvez possamos regenerar tecidos desgastados pelo tempo ou pelas doenças", conclui.

Loteria genética

Envelhecer bem, então, seria uma característica genética? Não necessariamente, de acordo com Raskin: "Nossos genes fornecem apenas sugestões de quem envelhecerá bem e quem terá alguma doença que o levará à morte prematura. Contudo, isso não é determinante, a não ser em raras situações".

"Grosso modo, poderíamos dizer que a genética é 50% do processo, mas os fatores ambientais contam muito para se envelhecer bem", resume o médico. Ou seja: se uma pessoa com predisposição genética a morrer cedo por diabetes ou derrame tiver uma vida saudável (boa alimentação, exercícios, estímulo intelectual, distância do fumo e do álcool em excesso), é provável que a genética não prevaleça. 
Sciam Brasil
Segundo o professor S. Jay Olshansky, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Illinois-Chicago, o corpo humano seria bem diferente se tivesse sido concebido para durar um século ou mais


Já para S. Jay Olshansky, professor da Escola de Saúde Pública da Universidade de Illinois-Chicago, a genética sempre prevalecerá sobre o estilo de vida. "A pessoa pode ter uma vida saudável, comer direito e fazer exercícios, mas, se não tiver os genes certos, não viverá 100 anos", garante. 

Cuidar do estilo de vida é fundamental para viver melhor, não importa por quanto tempo. Mas consumir um coquetel de vitaminas todos os dias, como reza a indústria de suplementos, não contribui em nada. "As vitaminas vão resultar no máximo em um xixi extremamente valioso", ironiza. 

Pílula da longevidade

Olshansky acredita que uma pílula capaz de aumentar a expectativa de vida não está longe de existir. "Provavelmente será uma droga para diabetes ou câncer que terá a longevidade como efeito colateral", adianta. Assim surgiu o Viagra, há uma década: um medicamento para o coração em estudo parecia melhorar a ereção dos pacientes, o que trouxe outro rumo às pesquisas.

Ele defende, entretanto, que seria mais interessante trilhar o caminho oposto: encontrar uma droga capaz de reverter o envelhecimento. Assim, seria possível prevenir o câncer, o diabetes, o Alzheimer e uma porção de outras doenças ao mesmo tempo. "Se esse composto pudesse desacelerar o processo de envelhecimento em apenas sete anos, o impacto sobre a saúde pública seria muito maior que uma eventual cura para o câncer", estima. 

Resta saber, Olshansky pondera, se a sociedade está preparada para abrigar uma população centenária. E se o próprio corpo humano terá condições de acompanhar esse avanço, em termos evolutivos. Seria preciso resolver problemas de locomoção, visão e audição, por exemplo. E o mais importante: "se essa intervenção não brecar também o envelhecimento do cérebro, não adiantará nada". 
Autoria : Cristina Almeida
Especial para o UOL Ciência e Saúde


*Colaborou Tatiana Pronin, editora do UOL Ciência e Saúde

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