Um livro muito interessante sobre os efeitos individuais e sociais do bombardeio de estímulos promovido pela internet é “The Shallows”, escrito pelo americano Nicholas Carr em 2010. Quando eu gravei esse comentário, o livro não havia sido publicado ainda no Brasil. O título, “The Shallows”, quer dizer “Os superficiais”. Subtítulo: “O que a Internet está fazendo com nossos cérebros”. São cerca de 250 páginas bem elaboradas, com muitas entrevistas e informações de pessoas relevantes nos meios científico, médico, acadêmico, nas artes, na teoria da comunicação.
A tese central: mais do que uma revolução a partir do conteúdo disponibilizado, a internet está revolucionando a forma de organizar nosso pensamento. Essa seria a principal característica do mundo on-line, com consequências profundas na maneira de pensarmos e nos relacionarmos.
O livro bate na tecla que os neurocientistas já conhecem bem: a neuroplasticidade, ou seja, nossos neurônios se reorganizam a partir de estímulos externos.
O livro bate na tecla que os neurocientistas já conhecem bem: a neuroplasticidade, ou seja, nossos neurônios se reorganizam a partir de estímulos externos.
Nicholas Carr confronta de uma maneira interessantíssima e assustadora a questão do pensamento linear característico de toda humanidade a partir de Gutemberg – foi o objeto livro que teria organizado a nossa maneira de pensar – e como a mudança da página física para a tela do computador está consolidando um novo modo do cérebro funcionar. Desde que li esse livro, fiquei encafifada com essa questão da neuroplasticidade, como realmente o cérebro se amolda de acordo com estímulos externos ...e como os clássicos têm capacidade comprovada de reorganizar estados de espírito.
Dia desses, assisti a uma palestra do médico chileno Bernardo Káliks sobre meditação no contexto da Antroposofia. Esse senhor é um amante da música clássica, fiquei sabendo no dia da palestra. Para ilustrar o efeito ”reorganizador” dos exercícios de meditação, ele se valeu do exemplo de ouvir músicas nas tonalidades maior ou menor, como essas tonalidades despertam emoções distintas no ouvinte. Uma das frases que ouvi na palestra foi: “Assim como a alma se organiza de formas distintas a partir de vivências musicais distintas, a alma também se modela a partir da meditação”.
Depois de ouvir de um médico que a alma se organiza de uma forma nova a partir da vivência musical, me deparei com uma frase de um maestro russo que tem feito muito sucesso em Londres, Vladimir Jurowski. Entrevistado pela revista inglesa BBC Music Magazine, lá pelas tantas Jurowski faz uma afirmação de grande efeito: “A música é capaz de moficar certas constelações de átomos no universo”. A convicção do regente russo e do médico chileno na capacidade reorganizatória da música é também a minha convicção. E creio ainda na força da música clássica nesse momento de dispersão com o bombardeio de estímulos e superficialidade de contato que a internet impõe.
Quanto mais a gente se expõe a telas repletas de links, banners de publicidade piscantes, toneladas de atualizações de Facebook e Twitter, milhares de resultados em buscas no Google, torpedos e emails que parecem sempre requerer resposta imediata....quando mais esse entorno dispersante e superficializante se apodera da nossa rotina, mais valor ganham os momentos em quea gente se dedica a ouvir, simplesmente ouvir, música clássica.
Eis um poderoso antídoto anti-dispersante e anti-superficializante, com bons efeitos no cérebro e na alma.
Fonte:
http://pensandoclassicos.podomatic.com/
http://pensandoclassicos.podomatic.com/
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