SOBRE OS RISCOS DO USO DE DERMATO-COSMÉTICOS : FIQUE DE OLHO NOS AGENTES TÓXICOS,ALERGÊNICOS E IRRITANTES NOS PRODUTOS COSMÉTICOS
A importância de se utilizar um produto seguro, com menor risco de toxicidade, alergenicidade e irritação à pele ou cabelo.
Portanto descreveremos um breve resumo histórico da utilização de produtos cosméticos sem critérios de biossegurança e quais as conseqüências que isso traz à população usuária.
Sofrer em nome da beleza é um antigo costume referido inclusive em contos infantis, porém as agressões à pele podem trazer sérias conseqüências à saúde do indivíduo em também à sociedade, devendo-se considerar o uso em larga escala de compostos tóxicos, irritantes ou sensibilizantes uma questão de saúde coletiva.
Os produtos cosméticos são destinados a proteger e embelezar a pele, sendo considerados seguros pela população. Porém ao longo da história do desenvolvimento da indústria cosmética, alguns episódios mostraram à população e às autoridades a necessidade de olhar para esta questão de maneira mais séria.
O uso de cosméticos permeia toda a história da humanidade, desde o uso de perfumes em rituais e celebrações religiosas ou não, até receitas caseiras tradicionais para preservar a beleza. Empregadas desde o Antigo Egito, sendo mencionadas inclusive no Livro dos mortos, diversas formulações cosméticas usadas na época eram potencialmente perigosas. As sombras para os olhos, por exemplo, eram preparadas à base de minérios, como malaquita (óxido de cobre) e galena (sulfeto de chumbo), e o Kajal para delinear os olhos se constituía de uma pasta macia feita com materiais graxos e metais - chumbo, antimônio e cobre.
Contudo, à medida que a comercialização se expande e os períodos negros da Idade Média são deixados para trás, inicia-se uma grande busca pela perfeição e preservação da juventude. Com isso, diversas receitas começam a surgir como a utilização de vapores de mercúrio para peelings, o uso de óxido de chumbo branco como maquiagem, do antimônio e de tantas outras receitas milagrosas. Muitas dessas formulações causavam irritações e ferimentos que exigiam a aplicação de mais substâncias e coberturas para disfarçar as lesões, o que piorava o quadro, produzindo um ciclo vicioso.
Como exemplo um dos venenos mais conhecidos tem-se o arsênico, que fez grande sucesso como cosmético, graças à crença de preservar a juventude e à sua qualidade em manter "a face rosada". Mas não sabia que o arsênico provoca danos nos vasos sanguíneos, causando pequenas hemorragias.
Outro conhecido produto, denominado de cesure, foi muito utilizado por saudáveis senhoritas na Europa. Preparado à base de óxido de chumbo branco, deixava a cútis delicadamente pálida.
Um episódio envolvendo uma senhora da alta sociedade, a senhora Brown, que ficou cega por causa do uso de uma sombra. A sombra possuía nome comercial Lash Lure e em sua embalagem alegava os benefícios do produto "Os novos e melhorados corantes para sobrancelhas e cílios, Cílio encantador. Irradia personalidade.".
Diante da vasta utilização de produtos cosméticos e vários relatos de eventos adversos graves, notou-se a necessidade de regulamentação, fiscalização e monitoramento dos ingredientes que compõe uma formulação. Fato considerado essencial, a fim de minimizar dessa maneira a exposição da população a agentes alergênicos ou irritantes.
Porém com a grande expansão da indústria cosmética e a intensa busca por novos ativos, observa-se que esses produtos, com os produtos de limpeza doméstica, ainda exercem um impacto significativo sobre a saúde da população.
Assim é observado que aproximadamente 20% da população sofre algum tipo de dermatite. As principais manifestações relatadas como eventos adversos ao uso de cosméticos são prurido (>80%), eritema (70%), ressecamento e descamação (40%), queimação (40%), edema (30%), pápulas (30%), uticária (20%) e acne (25%), havendo também outras manifestações não tão comumente relatadas. É importante salientar que, entre as manifestações induzidas por produtos de uso tópico, também podem ocorrer manifestações alérgicas, respiratórias e anafiláticas, com asma, rinite e até pneumonia por hipersensibilidade.
Segundo J. Bourke et al., "Guidelines for Care of Contact Dermatitis" a incidência de dermatites atribuídas diretamente à produtos cosméticos se dá principalmente devido à substâncias como: fragrâncias e seus componentes (30%), conservantes (28%) e tensoativos.
Um estudo posterior envolvendo apenas pacientes sensibilizados a cosméticos mostrou que os produtos de tratamento de pele (skin care) foram responsáveis por mais da metade das reações adversas (56,3%), sendo os conservantes os principais responsáveis pelas reações observadas (32%).
Citaremos algumas destas substâncias conservantes que ainda são utilizados em grande parte dos produtos cosméticos, objetivando o repasse de informações para que conhecimento seja expandido e o consumidor tenha capacidade de escolher seu produto cosmético com qualidade e segurança.
CONSERVANTES
São compostos químicos adicionados à formulação com a finalidade de protegê-las contra o crescimento microbiano. Importante e necessário o seu uso, desde que observada a concentração e poder de irritação ou alergenicidade.
PARABENOS
Os parabenos constituem uma classe homóloga de ésteres do ácido p-hidroxibenzoico que é utilizada na forma pura ou combinada para exercer efeito antimicrobiano, sendo particularmente útil contra fungos, leveduras e bolores. Em cosméticos, o metilparabeno e o propilparabeno são freqüentemente os mais utilizados.
Segue a relação de diferentes tipos químicos de parabenos: metilparabeno, p-hidroxibenzoato, etilparabeno, propilparabeno, ácido p-hidroxibenzóico e butilparabeno.
Um dos maiores problemas relacionados aos parabenos é a sua vasta utilização. Como são utilizados em uma grande variedade de produtos cosméticos, alimentos e medicamentos, estima-se que o consumo diário de parabenos possa atingir valores na ordem de 77,5 mg/dia. Os parabenos, principalmente o metilparabeno, podem ser absorvidos na pele, sendo essa absorção facilitada pela presença do etanol e mentol. Os parabenos exercem efeitos citotóxicos e há estudos de possíveis efeitos carcinogênico e mutagênico.
O metilparabeno também é capaz de ativar a fosfoesterase específica do cAMP, produzindo redução do cAMP cortical, podendo agravar as situações de dermatite atópica em que o catabolismo do cAMP está acima do normal, além de produzir alterações nas propriedades elétricas de células neuronais e também potencializar a resposta humoral a outro aditivo utilizado como antioxidante em cosméticos, o BHT.
A exposição crônica a parabenos gera eritema, edema e descamação, observado por meio de análises histológicas inflamação dérmica e hiperqueratose.
O uso de parabenos em cosméticos foi associado a numerosos casos de sensibilização, confirmados pela realização de testes de contato. Observa-se ainda uma tendência ao aumento da incidência de processos de sensibilização com o aumento da idade.
Portanto, podemos perceber a importante necessidade de não utilizar este tipo de substância em qualquer produto. Cabe a cada consumidor selecionar o seu cosmético que irá ser aplicado até várias vezes ao dia em sua pele.
FORMALDEÍDO E LIBERADORES DE FORMALDEÍDO
O histórico alergênico do formaldeído é conhecido a longa data. Seu uso em cosméticos é regulamentado ou voluntariamente restrito em muitos países.
Muitos conservantes são liberadores de formaldeído através de sua decomposição, que é dependente da temperatura e do pH da formulação, e suas utilizações cada vez mais comuns são tidas como causa de novas sensibilizações.
Segue a relação química de substâncias na classe de formaldeído ou liberadores de formaldeído: 2-bromo-2-nitropropano-1,3-diol, 5-bromo-5-nitro-1,3-dioxano, diazolidinil uréia, DMDM hidantoína, formaldeído, formiato de sódio, glicerol formal, imidazolidinil uréia e quatérnio-15. Pois muitas vezes estes nomes químicos estão presentes nos rótulos e não conhecemos a sua classificação, função e efeitos.
Os liberadores de formaldeído podem atuar como agentes sensibilizantes por si só, independentemente da formação do formaldeído.
O conservante denominado bromopol é considerado liberador de formaldeído e além disso liberador de nitrosaminas que são carcinogênicas.
Casos de dermatite alérgica de contato a quatérnio-15 são bastante conhecidas. Desde 1982 esse composto foi adicionado a séries-padrão de agentes alergênicos, como a série do Grupo Britânico de Dermatite de Contato. Seu emprego, mesmo em cremes com formulações consideradas suaves e indicadas para utilização em pele eczematosa, leva à sensibilização e manifestação de dermatite alérgica, tendo sido relatada piora das condições desses indivíduos após o uso de formulação contendo esse conservante.
Testes in vitro mostram que o formaldeído pode provocar a formação de ligações cruzadas entre DNA e proteínas, quebras de fita simples de DNA, aberrações cromossômicas, troca de cromátides irmãs e mutações genéticas em seres humanos e ratos.
O formaldeído, inicialmente classificado como provável carcinogênico em decorrência de achados laboratoriais, foi classificado em 2004 pelo Iarc como um agente carcinogênico para o homem, uma vez que foram considerados evidentes os efeitos lesivos ao homem quando exposto a essa substância.
Espera-se que esse ingrediente seja banido dos cosméticos, a exemplo do que ocorreu com os produtos saneantes, pois, além da recomendação de não se empregar compostos classificados como carcinogênicos, o uso desse agente deve ser evitado dada à alta toxicidade.
Referências:
K. Douthwaite, "Preservatives. Friend or Foe?: the Use of Preservatives in Cosmetics Products is a Sensitive Issue", em Global Cosmetic Industry, março de 2000, disponível em http: //www.findarticles.com/cf_0/m0HLW/3_166/60520588/print.jhtml.
HARRIS, MARIA INÊS NOGUEIRA DE CAMARGO, Pele: Estrutura, Propriedades e Envelhecimento. Agentes Tóxicos, alergênicos e irritantes em produtos cosméticos. 3 ed. Revista e ampliada. Editora SENAC/SP, 2009.
Fonte:http://www.livealoe.com.br/informativos/curiosidades/saiba-o-que-constitui-o-seu-cosmetico/
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