Alzheimer e as Fases da Doença
Alzheimer é uma doença neurológica que afeta o Sistema Nervoso Central devido à progressiva degeneração dos neurônios, afetando sobremaneira o raciocínio e o comportamento do portador. A doença é classificada em fases: Inicial, Intermediária e Avançada ou Terminal. A distinção destas fases é importante, pois é a partir deste conhecimento que o profissional da saúde poderá adequar o tratamento, bem como, a intervenção junto aos familiares e cuidadores, considerando as necessidades do portador.
Fase Inicial: é de difícil identificação, pois, normalmente, a doença já está instalada e não foi diagnosticada devido à dificuldade de reconhecimento dos sintomas pelos familiares e pelo próprio paciente. Inicialmente acredita-se que se refere ao declínio cognitivo normal da velhice ou um alto nível de estresse quando o portador não é idoso.
Os sintomas observados na fase inicial apresentam as seguintes características: perda de memória recente - geralmente lapsos que não interferem significativamente no cotidiano do indivíduo. Em alguns casos, o próprio paciente percebe que anda esquecido, mas acredita ser devido à idade, não dando a devida importância para o fato. Porém, com o tempo, estes esquecimentos aumentam comprometendo a autonomia na realização de determinadas tarefas, motivando a procura de ajuda profissional. Normalmente, a iniciativa de buscar um especialista é tomada por um familiar próximo que percebe a incoerência em algumas atitudes do portador.
Neste caso, é importante ressaltar que a avaliação de um profissional poderá ajudar a família a perceber a diferença entre os esquecimentos oriundos de um processo de envelhecimento normal e o desenvolvimento de uma demência.
A organização espaço-temporal também passa a ser falha comprometendo a dinâmica funcional do portador como, por exemplo: esquecer de pagar as contas, esquecer de se alimentar levando a perda de peso; os afazeres começam a ficar limitados e com pouca criatividade.
Na primeira fase além do declínio da memória de fixação, também podem aparecer distúrbios de comportamento, isto é, o paciente começa a se comportar de maneira diferente do habitual. Veja um exemplo desta mudança: Um familiar relatou, que sua tia estava estranha, criava intrigas entre as sobrinhas que iam visitá-la, inventado estórias que uma falou algo da qual elas não haviam falado. A partir destes fatos, associado à perda da capacidade de armazenamento de fatos recente, a família buscou orientação médica, a paciente foi encaminhada a um especialista e este diagnosticou como sendo um quadro de demência.
O surgimento de uma demência pode ocorrer de maneira lenta ou de forma abrupta. Neste último caso, o inicio é marcado pelo aparecimento de sintomas bem definidos como: confusão mental, ou seja, o paciente não reconhece a si, o outro e nem os lugares; sintomas de agressividade, alucinações e delírios de perseguição. Esta fase pode ser um indicador do aparecimento da Doença Alzheimer.
Na fase intermediaria o paciente apresenta mais claramente os déficits cognitivos, já não sendo mais possível camuflar ou ignorar a perda de memória. Surgem as dificuldades de linguagem para formulação de uma frase, o pensamento fica confuso e até as escolhas simples tornam –se impossíveis de serem realizados pelo portador.
Nesta fase, assim como na primeira os familiares são acometidos por um estresse muito grande, pois, dentre outros problemas, o paciente fica repetitivo, por não guardar mais informações. Normalmente ele que ir embora para sua casa mesmo estando nela; não reconhece mais as pessoas de suas relações, tornando-se dependente dos outros no que se refere às atitudes cotidianas e na tomada de decisões, mesmo que seja para coisas simples como que roupa vai colocar, o que vai comer.
Normalmente o estresse psicológico aumenta nesta fase, pois apesar do paciente se encontrar impossibilitado de realizar autonomamente muitas tarefas, este não reconhece sua dificuldade, entrando, muitas vezes, em conflito com os familiares. O portador não reconhece que as atitudes dos familiares são para preservar sua integridade. E é comum o idoso apresentar atitude agressiva quando se sente contrariado.
Nos casos em que a Doença se apresenta lentamente, ocorrem estados de lucidez no paciente reforçando a idéia de que ele está sadio. Para os familiares esta oscilação entre momentos de lucidez e de confusão mental traz confusão e sofrimento, principalmente, para os que não estão diretamente ligados ao paciente.
Na terceira fase, o paciente perde toda sua capacidade funcional, pois os comandos cerebrais já foram destruídos, levando-o a dependência total, ou seja, o paciente não consegue andar, falar. A deglutição também é afetada e a funcionalidade motora apresenta uma rigidez em que ele se mantém em estado de alerta (consciente), mas não apresenta mais a lucidez necessária para realização das tarefas. O portador depende totalmente dos cuidadores, desde o banho até a avaliação da temperatura ambiente (frio ou calor) e a necessidade de agasalhá-lo. Nesta fase, alguns pacientes, precisam do auxilio de sonda para se alimentar, visto que, mesmo fazendo o processo de engolir corretamente, muitas vezes este alimento acaba indo para o pulmão, ocasionando em internações por broncopneumonia.
O cuidado nesta fase é maior em relação ao seu estado fisiológico, devido à debilidade orgânica, sendo comum o surgimento de infecção urinaria, principalmente por causa do uso freqüente de fraldas; As escaras também são freqüentes devido ao aspecto circulatório deficiente do paciente e a compressão da pele do paciente que nesta fase permanece mais sentado ou deitado.
É importante que os familiares conheçam as características da doença, bem como, sua sintomatologia. Além disso, a união familiar, o suporte profissional especializado e o apoio social, através de grupos de apoio, serão úteis para melhorar o cuidado com o portador, aliviar o sentimento de culpa e ter a orientação necessária nos momentos de decisão e mudanças.
Sobre a Autora
Marcia Limeira Dourado – Psicóloga - Membro do Grupo de Apoio Psicológico a Familiares e Cuidadores de Portadores de Doença de Alzheimer e Demências Similares
Fonte:https://psicologado.com/neuropsicologia/alzheimer-e-as-fases-da-doenca
Evolução da doença
A Doença de Alzheimer é
caracterizada pela piora progressiva dos sintomas. Entretanto, muitos pacientes
podem apresentar períodos de maior estabilidade. A evolução dos sintomas da
Doença de Alzheimer pode ser dividida em três fases: leve, moderada e grave *.
Na fase leve, podem ocorrer
alterações como perda de memória recente, dificuldade para encontrar palavras,
desorientação no tempo e no espaço, dificuldade para tomar decisões, perda de
iniciativa e de motivação, sinais de depressão, agressividade, diminuição do
interesse por atividades e passatempos.
Na fase moderada, são comuns
dificuldades mais evidentes com atividades do dia a dia, com prejuízo de
memória, com esquecimento de fatos mais importantes, nomes de pessoas próximas,
incapacidade de viver sozinho, incapacidade de cozinhar e de cuidar da casa, de
fazer compras, dependência importante de outras pessoas, necessidade de ajuda
com a higiene pessoal e autocuidados, maior dificuldade para falar e se
expressar com clareza, alterações de comportamento (agressividade,
irritabilidade, inquietação), ideias sem sentido (desconfiança, ciúmes) e
alucinações (ver pessoas, ouvir vozes de pessoas que não estão presentes).
Na fase grave, observa-se
prejuízo gravíssimo da memória, com incapacidade de registro de dados e muita
dificuldade na recuperação de informações antigas como reconhecimento de
parentes, amigos, locais conhecidos, dificuldade para alimentar-se associada a
prejuízos na deglutição, dificuldade de entender o que se passa a sua volta,
dificuldade de orientar-se dentro de casa. Pode haver incontinência urinária e
fecal e intensificação de comportamento inadequado. Há tendência de prejuízo
motor, que interfere na capacidade de locomoção, sendo necessário auxílio para
caminhar. Posteriormente, o paciente pode necessitar de cadeira de rodas ou
ficar acamado.
Estágio
inicial
O estágio inicial raramente é percebido. Parentes e amigos (e, às vezes, os
profissionais) veem isso como "velhice", apenas uma fase normal do
processo do envelhecimento. Como o começo da doença é gradual, é difícil ter
certeza exatamente de quando a doença começa. A pessoa pode:
·
Ter problemas com a propriedade
da fala (problemas de linguagem).
·
Ter perda significativa de
memória – particularmente das coisas que acabam de acontecer.
·
Não saber a hora ou o dia da
semana.
·
Ficar perdida em locais
familiares.
·
Ter dificuldade na tomada de
decisões.
·
Ficar inativa ou desmotivada.
·
Apresentar mudança de humor,
depressão ou ansiedade.
·
Reagir com raiva incomum ou agressivamente
em determinadas ocasiões.
·
Apresentar perda de interesse por
hobbies e outras atividades.
Estágio
intermediário
Como a doença progride, as limitações ficam mais claras e mais graves. A pessoa
com demência tem dificuldade com a vida no dia a dia e:
·
Pode ficar muito desmemoriada,
especialmente com eventos recentes e nomes das pessoas.
·
Pode não gerenciar mais viver
sozinha, sem problemas.
·
É incapaz de cozinhar, limpar ou
fazer compras.
·
Pode ficar extremamente
dependente de um membro familiar e do cuidador.
·
Necessita de ajuda para a higiene
pessoal, isto é, lavar-se e vestir-se.
·
A dificuldade com a fala avança.
·
Apresenta problemas como
perder-se e de ordem de comportamento, tais como repetição de perguntas,
gritar, agarrar-se e distúrbios de sono.
·
Perde-se tanto em casa como fora
de casa.
·
Pode ter alucinações (vendo ou
ouvindo coisas que não existem).
Estágio
avançado
O estágio avançado é o mais próximo da total dependência e da inatividade.
Distúrbios de memória são muito sérios e o lado físico da doença torna-se mais
óbvio. A pessoa pode:
·
Ter dificuldades para comer.
·
Ficar incapacitada para
comunicar-se.
·
Não reconhecer parentes, amigos e
objetos familiares.
·
Ter dificuldade de entender o que
acontece ao seu redor.
·
É incapaz de encontrar o seu
caminho de volta para a casa.
·
Ter dificuldade para caminhar.
·
Ter dificuldade na deglutição.
·
Ter incontinência urinária e
fecal.
·
Manifestar comportamento
inapropriado em público.
·
Ficar confinada a uma cadeira de
rodas ou cama.
*Alertamos para o fato de que essa divisão tem caráter didático e, muitas
vezes, sintomas classificados em diferentes fases se mesclam em um mesmo
período.
Demência
A demência é uma doença mental
caracterizada por prejuízo cognitivo que pode incluir alterações de memória,
desorientação em relação ao tempo e ao espaço, raciocínio, concentração,
aprendizado, realização de tarefas complexas, julgamento, linguagem e habilidades
visuais-espaciais. Essas alterações podem ser acompanhadas por mudanças no
comportamento ou na personalidade (sintomas neuropsiquiátricos).
Os prejuízos, necessariamente,
interferem com a habilidade no trabalho ou nas atividades usuais, representam declínio
em relação a níveis prévios de funcionamento e desempenho e não são explicáveis
por outras doenças físicas ou psiquiátricas. Muitas doenças podem causar um
quadro de demência. Entre as várias causas conhecidas, a Doença de Alzheimer é
a mais frequente.
Quais são
os sinais da Doença de Alzheimer?
O paciente com Alzheimer pode
apresentar:
·
Perda de memória recente com
repetição das mesmas perguntas ou dos mesmos assuntos.
·
Esquecimento de eventos, de
compromissos ou do lugar onde guardou seus pertences.
·
Dificuldade para perceber uma
situação de risco, para cuidar do próprio dinheiro e de seus bens pessoais,
para tomar decisões e para planejar atividades mais complexas.
·
Dificuldade para se orientar no
tempo e no espaço.
·
Incapacidade em reconhecer faces
ou objetos comuns, podendo não conseguir reconhecer pessoas conhecidas.
·
Dificuldade para manusear
utensílios, para vestir-se, e em atividades que envolvam autocuidado.
·
Dificuldade para encontrar e/ou
compreender palavras, cometendo erros ao falar e ao escrever.
·
Alterações no comportamento ou na
personalidade: pode se tornar agitado, apático, desinteressado, isolado,
desinibido, inadequado e até agressivo.
·
Interpretações delirantes da
realidade, sendo comuns quadros paranoicos ao achar que está sendo roubado,
perseguido ou enganado por alguém. Esquecer o que aconteceu ou o que ficou
combinado pode contribuir para esse quadro.
·
Alucinações visuais (ver o que
não existe) ou auditivas (ouvir vozes) podem ocorrer, sendo mais frequentes da
metade para o final do dia.
·
Alteração do apetite com
tendência a comer exageradamente, ou, ao contrário, pode ocorrer diminuição da
fome.
·
Agitação noturna ou insônia com
troca do dia pela noite.
Os sintomas não são os mesmos
para todos os pacientes com demência, mesmo quando a causa de demência é a
mesma. Nem todos os sintomas aparecerão em todos os pacientes. Como uma doença
de curso progressivo, o quadro clínico do paciente com demência sofre
modificações. Com a evolução da doença, há o aparecimento de novos sintomas ou
o agravamento dos sintomas existentes.
Outras
demências
Além da Doença de Alzheimer,
existem muitos outros tipos de demência.
Demência
vascular
Pode ser considerada a segunda
maior causa de demência. A demência vascular é causada por lesões cerebrais de
origem vascular e as manifestações clínicas dependem da localização e do número
de lesões cerebrais. As lesões vasculares cerebrais podem ocorrer como infartos
silenciosos, que não resultam em ataque reconhecido clinicamente, e como
acidentes vasculares encefálicos, conhecidos popularmente como “derrame”. Os
fatores de risco são: hipertensão arterial, diabetes mellitus,
hipercolesterolemia, doença cardiovascular, fibrilação atrial, tabagismo,
trombose, abuso de álcool e fatores genéticos.
Demência
com corpos de Lewy
Causada pela presença de
alterações cerebrais chamadas de corpos de Lewy. Os critérios para o
diagnóstico clínico da doença incluem demência com sintomas da Doença de
Parkinson (rigidez da musculatura, movimentos mais lentos; tremores são mais
raros); alucinações visuais (ver coisas que não existem, geralmente pessoas,
animais, objetos e crianças) e oscilação dos sintomas ao longo do dia. Os
sintomas parkinsonianos e alucinações ocorrem no estágio inicial, quando
alterações importantes na memória podem não ocorrer. Outras características da
doença incluem quedas repetidas, desmaios, delírios (acreditar em coisas que
não existem), outras formas de alucinações (auditivas, ouvir coisas que não
existem) e sensibilidade importante, com reações adversas intensas, ao uso de
medicações para delírios e alucinações (antipsicóticos).
Demência
na Doença de Parkinson
Cerca de 40% dos pacientes com
Doença de Parkinson podem evoluir para quadros demenciais. Também é causada
pela presença de corpos de Lewy, mas estão presentes em locais diferentes do
cérebro. Para esse diagnóstico, é necessário que o quadro demencial ocorra após
um ano do início do quadro da Doença de Parkinson. Se a demência ocorrer em
menos de um ano após o início dos sinais de Parkinson, a hipótese clínica
principal passa a ser de demência por corpos de Lewy. A atenção é uma das
funções mais prejudicadas. A memória também pode estar afetada, mas em um grau
menos intenso do que é observado na Doença de Alzheimer. Outra capacidade muito
comprometida é a de planejar, organizar e regular um comportamento motor
(função executiva). Também são comuns os quadros de depressão e de alucinações
visuais (ver animais, pessoas).
Demência
frontotemporal
Quadro caracterizado por
deterioração na personalidade e na cognição. A alteração típica no exame de
neuroimagem é a redução da região frontal e temporal do cérebro. As mudanças no
comportamento são mais importantes que os problemas na memória e orientação. As
mudanças podem incluir: desinibição, impulsividade, inquietude, perda do
julgamento, oscilação emocional, apatia, desinteresse, perda de motivação,
isolamento, sentimentalismo excessivo, hipocondria, comportamento exaltado,
choro fácil, risos inadequados, irritabilidade, comentários sexuais
inadequados, atos indecentes, comportamento muito inadequado como urinar em
público, alterações importantes do hábito alimentar (por exemplo, preferência
por doces), negligência da higiene pessoal. As alterações cognitivas são menos
evidentes que na Doença de Alzheimer e ocorrem após dois anos, aproximadamente,
do início das alterações de comportamento. Ansiedade e depressão são comuns. O
paciente pode apresentar atos violentos, comportamentos ruins que não
apresentava antes da doença.
Diagnóstico
É muito comum que os sintomas
iniciais da Doença de Alzheimer (DA) sejam confundidos com o processo de
envelhecimento normal. Essa confusão tende a adiar a busca por orientação
profissional e, não tão raro, a doença é diagnosticada tardiamente. Recomenda-se
que, diante dos primeiros sinais, as famílias procurem profissionais e/ou
serviços de saúde especializados para diagnóstico precoce no estágio inicial da
doença, o que favorecerá a evolução e o prognóstico do quadro.
Nos quadros de demência da Doença
de Alzheimer, normalmente observa-se um início lento dos sintomas (meses ou
anos) e uma piora progressiva das funções cerebrais.
A certeza do diagnóstico só pode
ser obtida por meio do exame microscópico do tecido cerebral do doente após seu
falecimento. Antes disso, esse exame não é indicado, por apresentar riscos ao
paciente. Na prática, o diagnóstico da Doença de Alzheimer é clínico, isto é,
depende da avaliação feita por um médico, que irá definir, a partir de exames e
da história do paciente, qual a principal hipótese para a causa da demência.
Exames de sangue e de imagem,
como tomografia ou, preferencialmente, ressonância magnética do crânio, devem
ser realizados para excluir a possibilidade de outras doenças.
Faz parte da bateria de exames
complementares uma avaliação aprofundada das funções cognitivas. A avaliação
neuropsicológica envolve o uso de testes psicológicos para a verificação do
funcionamento cognitivo em várias esferas. Os resultados, associados a dados da
história e da observação do comportamento do paciente, permitem identificar a
intensidade das perdas em relação ao nível prévio, e o perfil de funcionamento
permite a indicação de hipóteses sobre a presença da doença.
O mapeamento pode ser útil ainda
para a programação do tratamento de estimulação cognitiva, que considera as
habilidades que merecem investimentos para serem preservadas e aquelas que
precisam ser compensadas.
A Doença de Alzheimer não deve
ser a principal hipótese para o quadro demencial quando houver evidências de
outras doenças que justifiquem a demência (por exemplo, doença vascular
cerebral ou características típicas de outras causas de demência), ou quando há
uso de medicação que possa prejudicar a cognição.
É reconhecida uma fase da Doença
de Alzheimer anterior ao quadro de demência. Essa fase é chamada de
comprometimento cognitivo leve devido à Doença de Alzheimer. Essa hipótese é
feita quando ocorre alteração cognitiva relatada pelo paciente ou por um
informante próximo, com evidência de comprometimento, mas ainda há a preservação
da independência nas atividades do dia a dia.
Pode haver problemas leves para
executar tarefas complexas anteriormente habituais, tais como pagar contas,
preparar uma refeição ou fazer compras. O paciente pode demorar mais para
executar atividades ou ser menos eficiente e cometer mais erros. No entanto,
ainda é capaz de manter sua independência com mínima assistência. Não é
possível saber se pacientes que apresentam esse quadro evoluirão para a
demência.
Muitos pacientes apresentam um
comprometimento cognitivo leve que não tem como causa a Doença de Alzheimer, e
muitos não evoluem para a demência, mas é importante que o paciente e seu
familiar procurem um profissional para a avaliação cuidadosa e seguimento.
Uma novidade nas pesquisas
científicas é a análise de biomarcadores de beta-amiloide (das placas senis) e
de proteína tau (dos emaranhados neurofibrilares) que estão sendo estudados
para auxiliar no diagnóstico preciso da Doença de Alzheimer. Porém, essa
análise ainda não é indicada para a prática clínica. Por enquanto, ela
está restrita a pesquisas. No campo das pesquisas na área da genética, sabe-se
que alguns genes estão relacionados a maior risco de desenvolvimento da doença.
Evolução da doença
Como a doença progride, as limitações ficam mais claras e mais graves. A pessoa com demência tem dificuldade com a vida no dia a dia e:
O estágio avançado é o mais próximo da total dependência e da inatividade. Distúrbios de memória são muito sérios e o lado físico da doença torna-se mais óbvio. A pessoa pode:
Demência
Diagnóstico
Tratamento
Até o momento, não existe
cura para a Doença de Alzheimer. Os avanços da medicina têm permitido que os
pacientes tenham uma sobrevida maior e uma qualidade de vida melhor, mesmo na
fase grave da doença.
As pesquisas têm progredido
na compreensão dos mecanismos que causam a doença e no desenvolvimento das
drogas para o tratamento. Os objetivos dos tratamentos são aliviar os sintomas
existentes, estabilizando-os ou, ao menos, permitindo que boa parte dos pacientes
tenha uma progressão mais lenta da doença, conseguindo manter-se independentes
nas atividades da vida diária por mais tempo. Os tratamentos indicados podem
ser divididos em farmacológico e não farmacológico.
Tratamento farmacológico
Na Doença de Alzheimer,
acredita-se que parte dos sintomas decorra de alterações em uma substância
presente no cérebro chamada de acetilcolina, que se encontra reduzida em
pacientes com a doença. Um modo possível de tratar a doença é utilizar
medicações que inibam a degradação dessa substância.
A primeira medicação,
testada há mais de 30 anos, foi a fisostigmina, que apesar de proporcionar
melhora da memória foi inutilizada por provocar muitos efeitos colaterais.
A primeira droga utilizada
em larga escala e aprovada pela agências reguladoras, em 1993, foi a tacrina.
Porém, essa medicação caiu em desuso com o advento de novas medicações, pela
dificuldade na administração e pelo risco de complicações e efeitos adversos.
As medicações que atuam na
acetilcolina, e que estão aprovadas para uso no Brasil nos casos de demências
leve e moderada, são a rivastigmina, a donepezila e a galantamina (conhecidas
como inibidores da acetilcolinesterase ou anticolinesterásicos).
As vantagens e as
desvantagens de cada medicação e o modo de administração devem ser discutidos
com o médico que acompanha o paciente. Teoricamente, a resposta esperada com o
uso dessas medicações é uma melhora inicial dos sintomas, que será perdida com
a progressão da doença, mas há evidências de que essas drogas podem estabilizar
parcialmente essa progressão, de modo que a evolução torne-se mais lenta. Os
efeitos positivos, que visam à melhoria ou à estabilização, foram demonstrados
para a cognição, o comportamento e a funcionalidade. A resposta ao tratamento é
individual e muito variada.
A memantina é outra
medicação aprovada para o tratamento da demência da Doença de Alzheimer. Ela
atua reduzindo um mecanismo específico de toxicidade das células cerebrais. É
possível também que facilite a neurotransmissão e a neuroplasticidade. O uso da
memantina, isoladamente ou associada aos anticolinesterásicos, é indicado no
tratamento das pessoas com Doença de Alzheimer nas fases moderada a grave.
Para o tratamento da
demência da Doença de Alzheimer nas fases leve a moderada, até o momento, a
memantina tem demonstrado resultados conflitantes entre os estudos. Portanto,
não há respaldo na literatura científica para o uso da memantina nos estágios
iniciais da Doença de Alzheimer.
Os sintomas comportamentais
e psicológicos podem ser tratados com medicações específicas e controladas.
Muitas medicações, com expectativa de bons resultados, podem ser indicadas para
o tratamento e o controle de agitação, agressividade, alterações do sono,
depressão, ansiedade, apatia, delírios e alucinações.
É importante que doses e
horários das medicações prescritas sejam seguidas com rigor. Alterações ou
reações não esperadas devem ser comunicadas ao médico responsável pelo
tratamento, para possíveis ajustes. É terminantemente desaconselhável que
pacientes ou familiares testem modificações, sob risco de efeitos indesejáveis
e prejuízo no controle de sintomas.
Outras medicações e
substâncias
Não são incomuns
prescrições de outras substâncias e medicações para o tratamento da demência da
Doença de Alzheimer. As evidências, até o momento, são de ineficácia do
tratamento com ginkgo biloba, selegilina, vitamina E, Ômega 3, redutores da
homocisteína, estrogênio, anti-inflamatórios e estatina. Sendo assim, o uso
dessas substâncias e medicações, com fim específico de tratamento para a
demência, não é recomendado.
Tratamento não
farmacológico
Há evidências científicas
que indicam que atividades de estimulação cognitiva, social e física beneficiam
a manutenção de habilidades preservadas e favorecem a funcionalidade.
O treinamento das funções
cognitivas como atenção, memória, linguagem, orientação e a utilização de
estratégias compensatórias são muito úteis para investimento em qualidade de
vida e para estimulação cognitiva.
Pacientes mais ativos
utilizam o cérebro de maneira mais ampla e frequente e sentem-se mais seguros e
confiantes quando submetidos a tarefas prazerosas e alcançáveis. A seleção,
frequência e distribuição de tarefas deve ser criteriosa e, preferencialmente,
orientada por profissionais.
Com o intuito de auxiliar
os pacientes, algumas famílias ou cuidadores tendem a sobrecarregá-los com
atividades que julgam poder ajudar no tratamento, desfavorecendo resultados e
correndo o risco de criar resistência ou de tornar o ambiente tenso.
A qualidade e a quantidade
de estímulos devem ser monitoradas e avaliadas a partir da resposta dos
pacientes. É de fundamental importância para a adesão às propostas que essas
atividades sejam agradáveis e compatíveis com as capacidades dos pacientes.
O intuito dos tratamentos não
farmacológicos não é fazer com que a pessoa com demência volte a funcionar como
antes da instalação da doença, mas que funcione o melhor possível a partir de
novos e evolutivos parâmetros.
Quando estimulados e
submetidos a atividades que conseguem realizar, os pacientes apresentam ganho
de autoestima e iniciativa, e assim tendem a otimizar o uso das funções ainda
preservadas.
As intervenções oferecidas
podem ser de três áreas diversas. Quando combinadas, podem obter melhores
resultados. Embora sejam importantes, sugere-se cautela na oferta de tratamento
com intervalo entre atividades.
1. Estimulação cognitiva
Consiste em atividades ou programas de intervenção que visam a potencializar as
habilidades cognitivas mediante a estimulação sistemática e continuada em
situações práticas que requerem o uso de pensamento, raciocínio lógico,
atenção, memória, linguagem e planejamento.
O objetivo geral desse tipo
de estimulação é minimizar as dificuldades dos pacientes a partir de
estratégias compensatórias, para que possam fazer uso de recursos intelectuais
presentes de maneira consistente. Podem ser feitas atividades grupais ou
individuais. Em ambos os casos, deve-se atentar para as necessidades dos
pacientes, para situações do dia a dia que promovam autonomia e capacidade
decisória, a partir de novas estratégias, para o cumprimento de tarefas.
Durante as atividades são
utilizadas técnicas que resgatam memória antiga, exploram alternativas de
aprendizado, promovem associação de ideias, exigem raciocínio e atenção dirigida,
favorecem planejamento com sequenciamento em etapas e antecipação de resultados
e consequências, proporcionam treino de funções motoras e oferecem controle
comportamental relacionado aos impulsos e reações.
Pode ser praticada em
tarefas variadas como jogos, desafios mentais, treinos específicos,
construções, reflexões, resgate de histórias e uso de materiais que compensem
dificuldades específicas (por exemplo, calendário para problemas de orientação
temporal).
2. Estimulação social
São iniciativas que priorizam o contato social dos pacientes estimulando as
habilidades de comunicação, convivência e afeto, promovendo integração e
evitando a apatia e a inatividade diante de dificuldades. Além de intervenções
em grupo para estimulação cognitiva e física, podem ser realizadas atividades
de lazer, culturais, celebração de datas importantes e festivas. É essencial
que sejam organizadas a partir das experiências anteriores do paciente e que
envolvam temas que despertem seu interesse e motivação. Lugares muito movimentados
e com muitas pessoas podem dificultar o aproveitamento dos pacientes, pois
estímulos simultâneos podem deixá-los confusos. Sugere-se que a família observe
o comportamento de pacientes em situações sociais e que verifique se estão à
vontade e aproveitando. Caso o idoso com Alzheimer tenha dificuldade em
acompanhar conversas paralelas ou fique agitado com a movimentação, a conduta
deve ser a de tornar o ambiente mais propício para ele, com menos estímulos
simultâneos. Nesse caso, não há necessidade de cancelar compromissos, mas de
proporcionar ambiente mais calmo e com menos pessoas a cada encontro.
Para o idoso, o contato com
a família tende a ser a principal fonte de convívio e satisfação a partir de
interação social. Diante das dificuldades dos idosos com Alzheimer, pode
parecer que as alternativas de contato fiquem limitadas a ponto de inviabilizar
o relacionamento. Isso não é verdade. Há muitas maneiras de relacionamento de
qualidade com alcance mútuo de satisfação: resgatar histórias antigas,
especialmente envolvendo lembranças agradáveis e que tenham relevância
familiar, contato físico e afetuoso bem como acompanhamento de rotina e
atividades diárias. São esses os tipos de tarefas que o paciente tende a ficar
mais à vontade e aproveitar melhor o momento de encontro com familiares.
3. Estimulação física
A prática de atividade física e de fisioterapia oferece benefícios neurológicos
e melhora na coordenação, força muscular, equilíbrio e flexibilidade. Contribui
para o ganho de independência, favorece a percepção sensorial, além de retardar
o declínio funcional nas atividades de vida diária. Alguns estudos mostram que
atividades regulares estão associadas a evolução mais lenta da Doença de
Alzheimer. Além de alongamentos, podem ser indicados exercícios para
fortalecimento muscular e exercícios aeróbicos moderados, sob orientação e com
acompanhamento dirigido.
4. Organização do ambiente
O ambiente da pessoa com Doença de Alzheimer influencia seu humor, sua relação
com as pessoas e até sua capacidade cognitiva. Diante de situações agitadas ou
desorganizadas, pode haver uma tendência à confusão mental que prejudica o
funcionamento de modo geral. Por isso, oferecer ambiente adequado pode ser uma
forma de minimizar sintomas, bem como favorecer a qualidade de vida.
Organizar o ambiente tem
como objetivo inibir ou controlar as manifestações de sintomas comportamentais
como ansiedade e agitação, delírios e alucinações e inadequações sociais. O
ambiente deve ser tranquilo, com situações previsíveis, evitando características
que possam ser interpretadas como ameaçadoras. Sugere-se utilizar tom de voz
ameno e evitar confrontos e conflitos desnecessários, repetitivos e duradouros,
diminuir e evitar barulhos e ruídos, amenizar estímulos luminosos muito
intensos, deixar o ambiente claro, limpo e organizado, estabelecer uma rotina
estável e simplificada.
5. Tratamentos específicos
para problemas específicos
Nos estágios iniciais da Doença de Alzheimer são esperadas reações emocionais
negativas, assim como dificuldade de adaptação a mudanças, com prejuízos
sociais progressivos. Lidar com as perdas associadas ao processo de adoecimento
envolve o confronto com déficits e, consequentemente, com frustrações. Nessa
etapa da doença, é esperado que o paciente identifique, pelo menos
parcialmente, os prejuízos e tente evitá-los. Por isso, pode acontecer de ficar
menos motivado para atividades e encontros sociais.
Em fases mais avançadas da
doença, em que os sintomas passam a ser mais evidentes, o confronto com
prejuízos que interferem na autonomia é mais presente. Alguns pacientes podem
precisar de monitoramento constante, para evitar exposição a situações de risco.
Em algumas famílias, pode ser necessário o auxílio de cuidadores profissionais
ou de mais integrantes na equipe de cuidados.
Além de auxílio dos
cuidadores, podem ser necessários tratamentos específicos, envolvendo a busca
pela minimização de dificuldades que passam a interferir nas atividades
diárias. Os tratamentos mais frequentes são os que requerem estímulo à
locomoção e motricidade, deglutição, comunicação e nutrição.
A cada
etapa da doença, profissionais especializados podem ser indicados para minimizar
problemas e orientar a família, com o objetivo de favorecer a superação de
perdas e enfrentar o processo de adoecimento, mantendo a qualidade de contato e
relacionamento. Muitos são os profissionais que cuidam de pessoas com Doença de
Alzheimer. Além de médicos (geralmente neurologistas, geriatras, psiquiatras ou
clínicos gerais), há a atuação de outros profissionais de saúde: psicólogos,
enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas,
nutricionistas, educadores, educadores físicos, assistentes sociais e dentistas
Evolução da doença
A Doença de Alzheimer é
caracterizada pela piora progressiva dos sintomas. Entretanto, muitos pacientes
podem apresentar períodos de maior estabilidade. A evolução dos sintomas da
Doença de Alzheimer pode ser dividida em três fases: leve, moderada e grave *.
Na fase leve, podem ocorrer
alterações como perda de memória recente, dificuldade para encontrar palavras,
desorientação no tempo e no espaço, dificuldade para tomar decisões, perda de
iniciativa e de motivação, sinais de depressão, agressividade, diminuição do
interesse por atividades e passatempos.
Na fase moderada, são comuns
dificuldades mais evidentes com atividades do dia a dia, com prejuízo de
memória, com esquecimento de fatos mais importantes, nomes de pessoas próximas,
incapacidade de viver sozinho, incapacidade de cozinhar e de cuidar da casa, de
fazer compras, dependência importante de outras pessoas, necessidade de ajuda
com a higiene pessoal e autocuidados, maior dificuldade para falar e se
expressar com clareza, alterações de comportamento (agressividade,
irritabilidade, inquietação), ideias sem sentido (desconfiança, ciúmes) e
alucinações (ver pessoas, ouvir vozes de pessoas que não estão presentes).
Na fase grave, observa-se
prejuízo gravíssimo da memória, com incapacidade de registro de dados e muita
dificuldade na recuperação de informações antigas como reconhecimento de
parentes, amigos, locais conhecidos, dificuldade para alimentar-se associada a
prejuízos na deglutição, dificuldade de entender o que se passa a sua volta,
dificuldade de orientar-se dentro de casa. Pode haver incontinência urinária e
fecal e intensificação de comportamento inadequado. Há tendência de prejuízo
motor, que interfere na capacidade de locomoção, sendo necessário auxílio para
caminhar. Posteriormente, o paciente pode necessitar de cadeira de rodas ou
ficar acamado.
Estágio
inicial
O estágio inicial raramente é percebido. Parentes e amigos (e, às vezes, os
profissionais) veem isso como "velhice", apenas uma fase normal do
processo do envelhecimento. Como o começo da doença é gradual, é difícil ter
certeza exatamente de quando a doença começa. A pessoa pode:
·
Ter problemas com a propriedade
da fala (problemas de linguagem).
·
Ter perda significativa de
memória – particularmente das coisas que acabam de acontecer.
·
Não saber a hora ou o dia da
semana.
·
Ficar perdida em locais
familiares.
·
Ter dificuldade na tomada de
decisões.
·
Ficar inativa ou desmotivada.
·
Apresentar mudança de humor,
depressão ou ansiedade.
·
Reagir com raiva incomum ou agressivamente
em determinadas ocasiões.
·
Apresentar perda de interesse por
hobbies e outras atividades.
Estágio
intermediário
Como a doença progride, as limitações ficam mais claras e mais graves. A pessoa
com demência tem dificuldade com a vida no dia a dia e:
·
Pode ficar muito desmemoriada,
especialmente com eventos recentes e nomes das pessoas.
·
Pode não gerenciar mais viver
sozinha, sem problemas.
·
É incapaz de cozinhar, limpar ou
fazer compras.
·
Pode ficar extremamente
dependente de um membro familiar e do cuidador.
·
Necessita de ajuda para a higiene
pessoal, isto é, lavar-se e vestir-se.
·
A dificuldade com a fala avança.
·
Apresenta problemas como
perder-se e de ordem de comportamento, tais como repetição de perguntas,
gritar, agarrar-se e distúrbios de sono.
·
Perde-se tanto em casa como fora
de casa.
·
Pode ter alucinações (vendo ou
ouvindo coisas que não existem).
Estágio
avançado
O estágio avançado é o mais próximo da total dependência e da inatividade.
Distúrbios de memória são muito sérios e o lado físico da doença torna-se mais
óbvio. A pessoa pode:
·
Ter dificuldades para comer.
·
Ficar incapacitada para
comunicar-se.
·
Não reconhecer parentes, amigos e
objetos familiares.
·
Ter dificuldade de entender o que
acontece ao seu redor.
·
É incapaz de encontrar o seu
caminho de volta para a casa.
·
Ter dificuldade para caminhar.
·
Ter dificuldade na deglutição.
·
Ter incontinência urinária e
fecal.
·
Manifestar comportamento
inapropriado em público.
·
Ficar confinada a uma cadeira de
rodas ou cama.
*Alertamos para o fato de que essa divisão tem caráter didático e, muitas
vezes, sintomas classificados em diferentes fases se mesclam em um mesmo
período.
Fatores de Risco
A idade é o principal fator de
risco para o desenvolvimento de demência da Doença de Alzheimer (DA). Após os
65 anos, o risco de desenvolver a doença dobra a cada cinco anos.
As mulheres parecem ter risco
maior para o desenvolvimento da doença, mas talvez isso aconteça pelo fato de
elas viverem mais do que os homens.
Os familiares de pacientes com DA
têm risco maior de desenvolver essa doença no futuro, comparados com indivíduos
sem parentes com Alzheimer. No entanto, isso não quer dizer que a doença seja
hereditária.
Embora a doença não seja
considerada hereditária, há casos, principalmente quando a doença tem início
antes dos 65 anos, em que a herança genética é importante. Esses casos
correspondem a 10% dos pacientes com Doença de Alzheimer.
Pessoas com histórico de complexa
atividade intelectual e alta escolaridade tendem a desenvolver os sintomas da
doença em um estágio mais avançado da atrofia cerebral, pois é necessária uma
maior perda de neurônios para que os sintomas de demência comecem a aparecer.
Por isso, uma maneira de retardar o processo da doença é a estimulação
cognitiva constante e diversificada ao longo da vida.
Outros fatores importantes
referem-se ao estilo de vida. São considerados fatores de risco: hipertensão,
diabetes, obesidade, tabagismo e sedentarismo. Esses fatores relacionados aos
hábitos são considerados modificáveis. Alguns estudos apontam que se eles forem
controlados podem retardar o aparecimento da doença.
Atualizações científicas
Exame de marcadores biológicos
O diagnóstico da Doença de
Alzheimer continua sendo clínico, mas a diferença verificada desde o início da
atual década foi a constatação de que marcadores biológicos podem auxiliar a
tornar o diagnóstico da DA mais preciso. Os marcadores biológicos que passam a
fazer parte da investigação clínica são o beta-amiloide e a proteína fosfo-tau.
A proteína beta-amiloide, como se sabe, é acumulada nas placas senis, um dos
marcos patológicos da doença. Essa proteína é produzida normalmente no cérebro
e há evidências de que quantidades muito pequenas dela são necessárias para
manter os neurônios viáveis. O problema na DA é que sua produção aumenta muito
e moléculas acumulam-se como oligômeros, levando à alteração nas sinapses, o
primeiro passo para a série de eventos que leva à perda de neurônios e aos
sintomas da doença.
Normalmente, a beta-amiloide é
eliminada pelo liquor, mas na DA sua acumulação no cérebro faz com que sua
concentração no liquor caia. Simultaneamente, ocorre fosforilação da proteína
tau, que forma os emaranhados neurofibrilares dentro dos neurônios, que é outra
alteração patológica conhecida da DA. Com a morte neuronal, a fosfo-tau é
eliminada pelo liquor, aumentando sua concentração. Dessa forma, na DA ocorre
diminuição da concentração de beta-amiloide e aumento da concentração de
fosfo-tau no liquor.
É necessário ter em mente algumas
implicações desse exame:
·
A alteração das concentrações de
marcadores por si não garante o diagnóstico de DA, que deve ter a correlação
com sintomas clínicos.
·
Essas alterações podem ser úteis
no diagnóstico diferencial entre DA e outras demências, quando o que ocorre com
frequência é a superposição de sintomas.
Com os marcadores biológicos, é
possível fazer o diagnóstico da doença prodrômica, isto é, de pessoas com
queixa e dificuldade objetivamente verificadas, mas que não preenchem os
critérios para o diagnóstico de demência como, por exemplo, as que não têm
prejuízo em suas atividades. Pessoas com doença prodrômica têm chance muito elevada
de vir a desenvolver a demência da DA.
Essa mudança nos paradigmas do
diagnóstico levou também a uma mudança na busca de novos tratamentos, que agora
são dirigidos para a produção e agregação de moléculas de beta-amiloide e para
a inibição da produção de fosfo-tau.
A Doença
de Alzheimer antes dos sintomas
Os marcadores biológicos e os
estudos sistemáticos do cérebro deixaram claro que, por um período de 15 a 20
anos, estão acontecendo alterações no cérebro antes do diagnóstico da demência
da Doença de Alzheimer, ainda que seja em sua fase inicial. Assim, poderíamos
falar em:
·
Envelhecimento normal: não há
alterações clínicas ou queixa de mau funcionamento cognitivo. Perdas referentes
ao processo de envelhecimento envolvem principalmente alterações físicas e
sensoriais.
·
Doença pré-clínica: as pessoas
não apresentam alteração clínica alguma e sua avaliação clínica será normal,
exceto no final desta fase, quando testes de memória e de outras áreas da
cognição podem mostrar alterações muito sutis. Por outro lado, verifica-se uma
mudança nos marcadores biológicos, com queda na concentração de beta-amiloide e
aumento na concentração de fosfo-tau. Exame de ressonância com marcador para
beta-amiloide mostrará que esta substância está se acumulando no cérebro. A não
ser por esses exames especiais, e que ainda estão disponíveis em poucos
lugares, não se pode fazer o diagnóstico de doença pré-clínica.
·
Doença prodrômica: aqui começam
as queixas de memória, que se tornarão mais acentuadas ao longo do tempo. A
avaliação clínica mostra objetivamente que há alteração, a mais comum sendo nos
testes de memória. Nesta fase, a ressonância com marcador para beta-amiloide
mostra maior acúmulo e a ressonância convencional começa a mostrar atrofia
cerebral, particularmente para os hipocampos, que constituem uma área central
da memória. Nesta fase, as pessoas continuam com suas atividades e, portanto,
não se pode falar em demência, apesar de no final desta fase manterem as
atividades, principalmente as mais complexas, que requerem mais memória e
planejamento, como gerenciar finanças ou planejar viagens, que exigem um
esforço maior. Para essas pessoas, portanto, o diagnóstico pode ser feito pelo
exame clínico, ajudado pelo exame de liquor e pela ressonância de cérebro.
·
Demência da Doença de Alzheimer:
a DA, como a conhecemos, envolve perdas significativas de capacidades com
interferência nas atividades cotidianas.
Nesse sentido, as mudanças
previsíveis para diagnóstico e tratamento da DA serão:
·
O diagnóstico será mais precoce,
preferencialmente na fase prodrômica.
·
O tratamento será mais precoce,
preferencialmente na fase prodrômica.
Caso se chegue de fato a
medicações mais eficientes, então a perspectiva para as pessoas com DA mudará
radicalmente.
Fonte:
http://abraz.org.br/sobre-alzheimer/evolucao-da-doenca
Tratamento
Até o momento, não existe
cura para a Doença de Alzheimer. Os avanços da medicina têm permitido que os
pacientes tenham uma sobrevida maior e uma qualidade de vida melhor, mesmo na
fase grave da doença.
As pesquisas têm progredido
na compreensão dos mecanismos que causam a doença e no desenvolvimento das
drogas para o tratamento. Os objetivos dos tratamentos são aliviar os sintomas
existentes, estabilizando-os ou, ao menos, permitindo que boa parte dos pacientes
tenha uma progressão mais lenta da doença, conseguindo manter-se independentes
nas atividades da vida diária por mais tempo. Os tratamentos indicados podem
ser divididos em farmacológico e não farmacológico.
Tratamento farmacológico
Na Doença de Alzheimer,
acredita-se que parte dos sintomas decorra de alterações em uma substância
presente no cérebro chamada de acetilcolina, que se encontra reduzida em
pacientes com a doença. Um modo possível de tratar a doença é utilizar
medicações que inibam a degradação dessa substância.
A primeira medicação,
testada há mais de 30 anos, foi a fisostigmina, que apesar de proporcionar
melhora da memória foi inutilizada por provocar muitos efeitos colaterais.
A primeira droga utilizada
em larga escala e aprovada pela agências reguladoras, em 1993, foi a tacrina.
Porém, essa medicação caiu em desuso com o advento de novas medicações, pela
dificuldade na administração e pelo risco de complicações e efeitos adversos.
As medicações que atuam na
acetilcolina, e que estão aprovadas para uso no Brasil nos casos de demências
leve e moderada, são a rivastigmina, a donepezila e a galantamina (conhecidas
como inibidores da acetilcolinesterase ou anticolinesterásicos).
As vantagens e as
desvantagens de cada medicação e o modo de administração devem ser discutidos
com o médico que acompanha o paciente. Teoricamente, a resposta esperada com o
uso dessas medicações é uma melhora inicial dos sintomas, que será perdida com
a progressão da doença, mas há evidências de que essas drogas podem estabilizar
parcialmente essa progressão, de modo que a evolução torne-se mais lenta. Os
efeitos positivos, que visam à melhoria ou à estabilização, foram demonstrados
para a cognição, o comportamento e a funcionalidade. A resposta ao tratamento é
individual e muito variada.
A memantina é outra
medicação aprovada para o tratamento da demência da Doença de Alzheimer. Ela
atua reduzindo um mecanismo específico de toxicidade das células cerebrais. É
possível também que facilite a neurotransmissão e a neuroplasticidade. O uso da
memantina, isoladamente ou associada aos anticolinesterásicos, é indicado no
tratamento das pessoas com Doença de Alzheimer nas fases moderada a grave.
Para o tratamento da
demência da Doença de Alzheimer nas fases leve a moderada, até o momento, a
memantina tem demonstrado resultados conflitantes entre os estudos. Portanto,
não há respaldo na literatura científica para o uso da memantina nos estágios
iniciais da Doença de Alzheimer.
Os sintomas comportamentais
e psicológicos podem ser tratados com medicações específicas e controladas.
Muitas medicações, com expectativa de bons resultados, podem ser indicadas para
o tratamento e o controle de agitação, agressividade, alterações do sono,
depressão, ansiedade, apatia, delírios e alucinações.
É importante que doses e
horários das medicações prescritas sejam seguidas com rigor. Alterações ou
reações não esperadas devem ser comunicadas ao médico responsável pelo
tratamento, para possíveis ajustes. É terminantemente desaconselhável que
pacientes ou familiares testem modificações, sob risco de efeitos indesejáveis
e prejuízo no controle de sintomas.
Outras medicações e
substâncias
Não são incomuns
prescrições de outras substâncias e medicações para o tratamento da demência da
Doença de Alzheimer. As evidências, até o momento, são de ineficácia do
tratamento com ginkgo biloba, selegilina, vitamina E, Ômega 3, redutores da
homocisteína, estrogênio, anti-inflamatórios e estatina. Sendo assim, o uso
dessas substâncias e medicações, com fim específico de tratamento para a
demência, não é recomendado.
Tratamento não
farmacológico
Há evidências científicas
que indicam que atividades de estimulação cognitiva, social e física beneficiam
a manutenção de habilidades preservadas e favorecem a funcionalidade.
O treinamento das funções
cognitivas como atenção, memória, linguagem, orientação e a utilização de
estratégias compensatórias são muito úteis para investimento em qualidade de
vida e para estimulação cognitiva.
Pacientes mais ativos
utilizam o cérebro de maneira mais ampla e frequente e sentem-se mais seguros e
confiantes quando submetidos a tarefas prazerosas e alcançáveis. A seleção,
frequência e distribuição de tarefas deve ser criteriosa e, preferencialmente,
orientada por profissionais.
Com o intuito de auxiliar
os pacientes, algumas famílias ou cuidadores tendem a sobrecarregá-los com
atividades que julgam poder ajudar no tratamento, desfavorecendo resultados e
correndo o risco de criar resistência ou de tornar o ambiente tenso.
A qualidade e a quantidade
de estímulos devem ser monitoradas e avaliadas a partir da resposta dos
pacientes. É de fundamental importância para a adesão às propostas que essas
atividades sejam agradáveis e compatíveis com as capacidades dos pacientes.
O intuito dos tratamentos não
farmacológicos não é fazer com que a pessoa com demência volte a funcionar como
antes da instalação da doença, mas que funcione o melhor possível a partir de
novos e evolutivos parâmetros.
Quando estimulados e
submetidos a atividades que conseguem realizar, os pacientes apresentam ganho
de autoestima e iniciativa, e assim tendem a otimizar o uso das funções ainda
preservadas.
As intervenções oferecidas
podem ser de três áreas diversas. Quando combinadas, podem obter melhores
resultados. Embora sejam importantes, sugere-se cautela na oferta de tratamento
com intervalo entre atividades.
1. Estimulação cognitiva
Consiste em atividades ou programas de intervenção que visam a potencializar as habilidades cognitivas mediante a estimulação sistemática e continuada em situações práticas que requerem o uso de pensamento, raciocínio lógico, atenção, memória, linguagem e planejamento.
O objetivo geral desse tipo
de estimulação é minimizar as dificuldades dos pacientes a partir de
estratégias compensatórias, para que possam fazer uso de recursos intelectuais
presentes de maneira consistente. Podem ser feitas atividades grupais ou
individuais. Em ambos os casos, deve-se atentar para as necessidades dos
pacientes, para situações do dia a dia que promovam autonomia e capacidade
decisória, a partir de novas estratégias, para o cumprimento de tarefas.
Durante as atividades são
utilizadas técnicas que resgatam memória antiga, exploram alternativas de
aprendizado, promovem associação de ideias, exigem raciocínio e atenção dirigida,
favorecem planejamento com sequenciamento em etapas e antecipação de resultados
e consequências, proporcionam treino de funções motoras e oferecem controle
comportamental relacionado aos impulsos e reações.
Pode ser praticada em
tarefas variadas como jogos, desafios mentais, treinos específicos,
construções, reflexões, resgate de histórias e uso de materiais que compensem
dificuldades específicas (por exemplo, calendário para problemas de orientação
temporal).
2. Estimulação social
São iniciativas que priorizam o contato social dos pacientes estimulando as habilidades de comunicação, convivência e afeto, promovendo integração e evitando a apatia e a inatividade diante de dificuldades. Além de intervenções em grupo para estimulação cognitiva e física, podem ser realizadas atividades de lazer, culturais, celebração de datas importantes e festivas. É essencial que sejam organizadas a partir das experiências anteriores do paciente e que envolvam temas que despertem seu interesse e motivação. Lugares muito movimentados e com muitas pessoas podem dificultar o aproveitamento dos pacientes, pois estímulos simultâneos podem deixá-los confusos. Sugere-se que a família observe o comportamento de pacientes em situações sociais e que verifique se estão à vontade e aproveitando. Caso o idoso com Alzheimer tenha dificuldade em acompanhar conversas paralelas ou fique agitado com a movimentação, a conduta deve ser a de tornar o ambiente mais propício para ele, com menos estímulos simultâneos. Nesse caso, não há necessidade de cancelar compromissos, mas de proporcionar ambiente mais calmo e com menos pessoas a cada encontro.
Para o idoso, o contato com
a família tende a ser a principal fonte de convívio e satisfação a partir de
interação social. Diante das dificuldades dos idosos com Alzheimer, pode
parecer que as alternativas de contato fiquem limitadas a ponto de inviabilizar
o relacionamento. Isso não é verdade. Há muitas maneiras de relacionamento de
qualidade com alcance mútuo de satisfação: resgatar histórias antigas,
especialmente envolvendo lembranças agradáveis e que tenham relevância
familiar, contato físico e afetuoso bem como acompanhamento de rotina e
atividades diárias. São esses os tipos de tarefas que o paciente tende a ficar
mais à vontade e aproveitar melhor o momento de encontro com familiares.
3. Estimulação física
A prática de atividade física e de fisioterapia oferece benefícios neurológicos e melhora na coordenação, força muscular, equilíbrio e flexibilidade. Contribui para o ganho de independência, favorece a percepção sensorial, além de retardar o declínio funcional nas atividades de vida diária. Alguns estudos mostram que atividades regulares estão associadas a evolução mais lenta da Doença de Alzheimer. Além de alongamentos, podem ser indicados exercícios para fortalecimento muscular e exercícios aeróbicos moderados, sob orientação e com acompanhamento dirigido.
4. Organização do ambiente
O ambiente da pessoa com Doença de Alzheimer influencia seu humor, sua relação com as pessoas e até sua capacidade cognitiva. Diante de situações agitadas ou desorganizadas, pode haver uma tendência à confusão mental que prejudica o funcionamento de modo geral. Por isso, oferecer ambiente adequado pode ser uma forma de minimizar sintomas, bem como favorecer a qualidade de vida.
Organizar o ambiente tem
como objetivo inibir ou controlar as manifestações de sintomas comportamentais
como ansiedade e agitação, delírios e alucinações e inadequações sociais. O
ambiente deve ser tranquilo, com situações previsíveis, evitando características
que possam ser interpretadas como ameaçadoras. Sugere-se utilizar tom de voz
ameno e evitar confrontos e conflitos desnecessários, repetitivos e duradouros,
diminuir e evitar barulhos e ruídos, amenizar estímulos luminosos muito
intensos, deixar o ambiente claro, limpo e organizado, estabelecer uma rotina
estável e simplificada.
5. Tratamentos específicos
para problemas específicos
Nos estágios iniciais da Doença de Alzheimer são esperadas reações emocionais negativas, assim como dificuldade de adaptação a mudanças, com prejuízos sociais progressivos. Lidar com as perdas associadas ao processo de adoecimento envolve o confronto com déficits e, consequentemente, com frustrações. Nessa etapa da doença, é esperado que o paciente identifique, pelo menos parcialmente, os prejuízos e tente evitá-los. Por isso, pode acontecer de ficar menos motivado para atividades e encontros sociais.
Em fases mais avançadas da
doença, em que os sintomas passam a ser mais evidentes, o confronto com
prejuízos que interferem na autonomia é mais presente. Alguns pacientes podem
precisar de monitoramento constante, para evitar exposição a situações de risco.
Em algumas famílias, pode ser necessário o auxílio de cuidadores profissionais
ou de mais integrantes na equipe de cuidados.
Além de auxílio dos
cuidadores, podem ser necessários tratamentos específicos, envolvendo a busca
pela minimização de dificuldades que passam a interferir nas atividades
diárias. Os tratamentos mais frequentes são os que requerem estímulo à
locomoção e motricidade, deglutição, comunicação e nutrição.
A cada
etapa da doença, profissionais especializados podem ser indicados para minimizar
problemas e orientar a família, com o objetivo de favorecer a superação de
perdas e enfrentar o processo de adoecimento, mantendo a qualidade de contato e
relacionamento. Muitos são os profissionais que cuidam de pessoas com Doença de
Alzheimer. Além de médicos (geralmente neurologistas, geriatras, psiquiatras ou
clínicos gerais), há a atuação de outros profissionais de saúde: psicólogos,
enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas,
nutricionistas, educadores, educadores físicos, assistentes sociais e dentistas
Evolução da doença
A Doença de Alzheimer é
caracterizada pela piora progressiva dos sintomas. Entretanto, muitos pacientes
podem apresentar períodos de maior estabilidade. A evolução dos sintomas da
Doença de Alzheimer pode ser dividida em três fases: leve, moderada e grave *.
Na fase leve, podem ocorrer
alterações como perda de memória recente, dificuldade para encontrar palavras,
desorientação no tempo e no espaço, dificuldade para tomar decisões, perda de
iniciativa e de motivação, sinais de depressão, agressividade, diminuição do
interesse por atividades e passatempos.
Na fase moderada, são comuns
dificuldades mais evidentes com atividades do dia a dia, com prejuízo de
memória, com esquecimento de fatos mais importantes, nomes de pessoas próximas,
incapacidade de viver sozinho, incapacidade de cozinhar e de cuidar da casa, de
fazer compras, dependência importante de outras pessoas, necessidade de ajuda
com a higiene pessoal e autocuidados, maior dificuldade para falar e se
expressar com clareza, alterações de comportamento (agressividade,
irritabilidade, inquietação), ideias sem sentido (desconfiança, ciúmes) e
alucinações (ver pessoas, ouvir vozes de pessoas que não estão presentes).
Na fase grave, observa-se
prejuízo gravíssimo da memória, com incapacidade de registro de dados e muita
dificuldade na recuperação de informações antigas como reconhecimento de
parentes, amigos, locais conhecidos, dificuldade para alimentar-se associada a
prejuízos na deglutição, dificuldade de entender o que se passa a sua volta,
dificuldade de orientar-se dentro de casa. Pode haver incontinência urinária e
fecal e intensificação de comportamento inadequado. Há tendência de prejuízo
motor, que interfere na capacidade de locomoção, sendo necessário auxílio para
caminhar. Posteriormente, o paciente pode necessitar de cadeira de rodas ou
ficar acamado.
Estágio
inicial
O estágio inicial raramente é percebido. Parentes e amigos (e, às vezes, os profissionais) veem isso como "velhice", apenas uma fase normal do processo do envelhecimento. Como o começo da doença é gradual, é difícil ter certeza exatamente de quando a doença começa. A pessoa pode:
·
Ter problemas com a propriedade
da fala (problemas de linguagem).
·
Ter perda significativa de
memória – particularmente das coisas que acabam de acontecer.
·
Não saber a hora ou o dia da
semana.
·
Ficar perdida em locais
familiares.
·
Ter dificuldade na tomada de
decisões.
·
Ficar inativa ou desmotivada.
·
Apresentar mudança de humor,
depressão ou ansiedade.
·
Reagir com raiva incomum ou agressivamente
em determinadas ocasiões.
·
Apresentar perda de interesse por
hobbies e outras atividades.
Estágio
intermediário
Como a doença progride, as limitações ficam mais claras e mais graves. A pessoa com demência tem dificuldade com a vida no dia a dia e:
·
Pode ficar muito desmemoriada,
especialmente com eventos recentes e nomes das pessoas.
·
Pode não gerenciar mais viver
sozinha, sem problemas.
·
É incapaz de cozinhar, limpar ou
fazer compras.
·
Pode ficar extremamente
dependente de um membro familiar e do cuidador.
·
Necessita de ajuda para a higiene
pessoal, isto é, lavar-se e vestir-se.
·
A dificuldade com a fala avança.
·
Apresenta problemas como
perder-se e de ordem de comportamento, tais como repetição de perguntas,
gritar, agarrar-se e distúrbios de sono.
·
Perde-se tanto em casa como fora
de casa.
·
Pode ter alucinações (vendo ou
ouvindo coisas que não existem).
Estágio
avançado
O estágio avançado é o mais próximo da total dependência e da inatividade. Distúrbios de memória são muito sérios e o lado físico da doença torna-se mais óbvio. A pessoa pode:
·
Ter dificuldades para comer.
·
Ficar incapacitada para
comunicar-se.
·
Não reconhecer parentes, amigos e
objetos familiares.
·
Ter dificuldade de entender o que
acontece ao seu redor.
·
É incapaz de encontrar o seu
caminho de volta para a casa.
·
Ter dificuldade para caminhar.
·
Ter dificuldade na deglutição.
·
Ter incontinência urinária e
fecal.
·
Manifestar comportamento
inapropriado em público.
·
Ficar confinada a uma cadeira de
rodas ou cama.
*Alertamos para o fato de que essa divisão tem caráter didático e, muitas
vezes, sintomas classificados em diferentes fases se mesclam em um mesmo
período.
Fatores de Risco
A idade é o principal fator de
risco para o desenvolvimento de demência da Doença de Alzheimer (DA). Após os
65 anos, o risco de desenvolver a doença dobra a cada cinco anos.
As mulheres parecem ter risco
maior para o desenvolvimento da doença, mas talvez isso aconteça pelo fato de
elas viverem mais do que os homens.
Os familiares de pacientes com DA
têm risco maior de desenvolver essa doença no futuro, comparados com indivíduos
sem parentes com Alzheimer. No entanto, isso não quer dizer que a doença seja
hereditária.
Embora a doença não seja
considerada hereditária, há casos, principalmente quando a doença tem início
antes dos 65 anos, em que a herança genética é importante. Esses casos
correspondem a 10% dos pacientes com Doença de Alzheimer.
Pessoas com histórico de complexa
atividade intelectual e alta escolaridade tendem a desenvolver os sintomas da
doença em um estágio mais avançado da atrofia cerebral, pois é necessária uma
maior perda de neurônios para que os sintomas de demência comecem a aparecer.
Por isso, uma maneira de retardar o processo da doença é a estimulação
cognitiva constante e diversificada ao longo da vida.
Outros fatores importantes
referem-se ao estilo de vida. São considerados fatores de risco: hipertensão,
diabetes, obesidade, tabagismo e sedentarismo. Esses fatores relacionados aos
hábitos são considerados modificáveis. Alguns estudos apontam que se eles forem
controlados podem retardar o aparecimento da doença.
Atualizações científicas
Exame de marcadores biológicos
O diagnóstico da Doença de
Alzheimer continua sendo clínico, mas a diferença verificada desde o início da
atual década foi a constatação de que marcadores biológicos podem auxiliar a
tornar o diagnóstico da DA mais preciso. Os marcadores biológicos que passam a
fazer parte da investigação clínica são o beta-amiloide e a proteína fosfo-tau.
A proteína beta-amiloide, como se sabe, é acumulada nas placas senis, um dos
marcos patológicos da doença. Essa proteína é produzida normalmente no cérebro
e há evidências de que quantidades muito pequenas dela são necessárias para
manter os neurônios viáveis. O problema na DA é que sua produção aumenta muito
e moléculas acumulam-se como oligômeros, levando à alteração nas sinapses, o
primeiro passo para a série de eventos que leva à perda de neurônios e aos
sintomas da doença.
Normalmente, a beta-amiloide é
eliminada pelo liquor, mas na DA sua acumulação no cérebro faz com que sua
concentração no liquor caia. Simultaneamente, ocorre fosforilação da proteína
tau, que forma os emaranhados neurofibrilares dentro dos neurônios, que é outra
alteração patológica conhecida da DA. Com a morte neuronal, a fosfo-tau é
eliminada pelo liquor, aumentando sua concentração. Dessa forma, na DA ocorre
diminuição da concentração de beta-amiloide e aumento da concentração de
fosfo-tau no liquor.
É necessário ter em mente algumas
implicações desse exame:
·
A alteração das concentrações de
marcadores por si não garante o diagnóstico de DA, que deve ter a correlação
com sintomas clínicos.
·
Essas alterações podem ser úteis
no diagnóstico diferencial entre DA e outras demências, quando o que ocorre com
frequência é a superposição de sintomas.
Com os marcadores biológicos, é
possível fazer o diagnóstico da doença prodrômica, isto é, de pessoas com
queixa e dificuldade objetivamente verificadas, mas que não preenchem os
critérios para o diagnóstico de demência como, por exemplo, as que não têm
prejuízo em suas atividades. Pessoas com doença prodrômica têm chance muito elevada
de vir a desenvolver a demência da DA.
Essa mudança nos paradigmas do
diagnóstico levou também a uma mudança na busca de novos tratamentos, que agora
são dirigidos para a produção e agregação de moléculas de beta-amiloide e para
a inibição da produção de fosfo-tau.
A Doença
de Alzheimer antes dos sintomas
Os marcadores biológicos e os
estudos sistemáticos do cérebro deixaram claro que, por um período de 15 a 20
anos, estão acontecendo alterações no cérebro antes do diagnóstico da demência
da Doença de Alzheimer, ainda que seja em sua fase inicial. Assim, poderíamos
falar em:
·
Envelhecimento normal: não há
alterações clínicas ou queixa de mau funcionamento cognitivo. Perdas referentes
ao processo de envelhecimento envolvem principalmente alterações físicas e
sensoriais.
·
Doença pré-clínica: as pessoas
não apresentam alteração clínica alguma e sua avaliação clínica será normal,
exceto no final desta fase, quando testes de memória e de outras áreas da
cognição podem mostrar alterações muito sutis. Por outro lado, verifica-se uma
mudança nos marcadores biológicos, com queda na concentração de beta-amiloide e
aumento na concentração de fosfo-tau. Exame de ressonância com marcador para
beta-amiloide mostrará que esta substância está se acumulando no cérebro. A não
ser por esses exames especiais, e que ainda estão disponíveis em poucos
lugares, não se pode fazer o diagnóstico de doença pré-clínica.
·
Doença prodrômica: aqui começam
as queixas de memória, que se tornarão mais acentuadas ao longo do tempo. A
avaliação clínica mostra objetivamente que há alteração, a mais comum sendo nos
testes de memória. Nesta fase, a ressonância com marcador para beta-amiloide
mostra maior acúmulo e a ressonância convencional começa a mostrar atrofia
cerebral, particularmente para os hipocampos, que constituem uma área central
da memória. Nesta fase, as pessoas continuam com suas atividades e, portanto,
não se pode falar em demência, apesar de no final desta fase manterem as
atividades, principalmente as mais complexas, que requerem mais memória e
planejamento, como gerenciar finanças ou planejar viagens, que exigem um
esforço maior. Para essas pessoas, portanto, o diagnóstico pode ser feito pelo
exame clínico, ajudado pelo exame de liquor e pela ressonância de cérebro.
·
Demência da Doença de Alzheimer:
a DA, como a conhecemos, envolve perdas significativas de capacidades com
interferência nas atividades cotidianas.
Nesse sentido, as mudanças
previsíveis para diagnóstico e tratamento da DA serão:
·
O diagnóstico será mais precoce,
preferencialmente na fase prodrômica.
·
O tratamento será mais precoce,
preferencialmente na fase prodrômica.
Caso se chegue de fato a
medicações mais eficientes, então a perspectiva para as pessoas com DA mudará
radicalmente.
Fonte:
http://abraz.org.br/sobre-alzheimer/evolucao-da-doenca
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