AS NOVAS FONTES DA JUVENTUDE
Cientistas decifram mistérios do
envelhecimento e testam terapias que aliam qualidade de vida à longevidade
O ENVELHECIMENTO é acelerado por fatores genéticos e hábitos como fumar,
comer demais e excesso de Sol. Cientistas tentam retardar o processo
Antônio Marinho e Jaqueline Falcão
Em sua nova aventura, o pirata Jack Sparrow (Johnny Depp) vai em busca
da fonte da juventude, ao lado de uma mulher de seu passado (Penélope Cruz).
Diz a lenda que as suas águas rejuvenescem e até imortalizam. Até hoje a
bendita fonte está apenas na imaginação de escritores e diretores de cinema.
Quem acredita, diz que ela existe em algum lugar do Ártico e ou em alguma ilha
desconhecida no oceano. Para cientistas, a fonte está perto de ser alcançada e
não seria uma só, mas várias. Afirmam isso com base em novas descobertas para
retardar o envelhecimento e experimentos que incluem aumento de sobrevida das
células, restrição de calorias e uso de células-tronco.
Um dos caminhos que leva à fonte, apostam cientistas, é o controle da
telomerase, a enzima que a cada ciclo de divisão celular repara os danos nas
extremidades (telômeros) dos cromossomos; essenciais para transmitir nossa
informação genética. O problema é que depois da infância a telomerase vai
perdendo a sua função e os cromossomos vão encurtando cada vez mais, o que está
diretamente relacionado ao envelhecimento e à morte, explica o pesquisador
Lício Velloso, do departamento de Clínica Médica da Unicamp.
Tanto que numa das experiências mais interessantes — publicada na
revista “Nature”— cientistas do Instituto de Câncer Dana-Farber, nos Estados
Unidos, forneceram telomerase a roedores modificados para não produzirem a
enzima. Com o tratamento, o envelhecimento desacelerou. Mais que isso: o
cérebro deles aumentou e apresentaram melhora da capacidade cognitiva. A pele
ficou viçosa e a fertilidade foi restaurada.
Exercícios teriam mesmo efeito
Seria perfeito, porém sabe-se que a atividade acelerada da telomerase é
ruim. Uma de suas consequências é o câncer.
— Ainda não temos dados que garantam que bloquear a telomerase em
humanos resultaria em aumento de longevidade ou aumento do risco de câncer —
diz Lício.
O geriatra Luiz Eugênio Garcez Leme, professor da USP, estuda telômeros
em atletas sêniores para saber se eles têm alteração nessa estrutura. A prática
de atividade física, por exemplo, faz bem aos telômeros. Estudos indicam que os
indivíduos que se exercitam têm essas estruturas maiores do que os sedentários.
Por enquanto, ele mantém cautela quanto ao possível uso da telomerase.
— Pode ser o caminho, mas nem tudo que funciona em animais se aplica a
humanos — avalia.
Radovan Borojevic, professor titular da UFRJ e presidente da Associação
Técnico-Científica Paul Ehrlich, duvida que interferir na telomerase seja
factível. Certos tecidos se renovam lentamente, como o nervoso e o músculo
cardíaco, e outros rapidamente, como o epitélio intestinal, a cada 24 horas:
— As células devem morrer para permitir a sua substituição pelas novas.
Todas as células cancerosas têm a capacidade de manter o comprimento dos
telômeros intacto e são imortais e danosas.
A possível aplicação da telomerase é só um caminho. Outro é o uso de
proteínas chamadas sirtuínas, presentes nas células. Em humanos foram
identificadas sete e elas parecem ter papel importante na longevidade. Em um
estudo na revista “Cell Metabolism”, os autores dizem que uma droga
experimental (a SRT1720) ativou a sirtuína 1 em camundongos. Resultado: eles
queimaram mais energia e houve queda de insulina e glicose.
As sirtuínas estão tão em evidência que já existem clínicas de estética
oferecendo cremes e substâncias à base do composto.
— Não há nada de concreto. É apenas mais uma forma de ganhar dinheiro
com expectativas futuras, sem qualquer embasamento científico — alerta o
pesquisador Carlos Montes Paixão Júnior, da UFRJ e presidente da Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia (RJ).
O que se sabe é que na natureza há substâncias que ativam a sirtuína,
como o resveratrol, encontrado no vinho. Porém seria preciso beber muito para
se obter o efeito. Diversos laboratórios tentam obter o resveratrol
concentrado.
Ainda no mapa para a fonte da juventude, um atalho é a restrição
calórica, orientada e sem excessos. Numa revisão sobre o tema, na revista
“Science”, especialistas dizem que comer menos influencia funções associadas ao
envelhecimento em animais e humanos. Por exemplo, a restrição reduz o acúmulo
de mutações no DNA. Na análise, os autores viram que o corte de até 50% da
ingestão de calorias diária interferiu na morte celular, e os animais tiveram
menos doenças relacionadas à idade, como câncer, infarto e demências.
Células-tronco: uso ainda é polêmico
E, além de comer menos, é preciso ingerir mais alimentos ricos em
antioxidantes que atacam o excesso de moléculas de radicais livres, aquelas
que, de forma descontrolada, oxidam o corpo, diz o endocrinologista Wilmar
Accursio, presidente da Sociedade Brasileira para Estudo do Envelhecimento.
Nessa lista estão verduras, legumes, frutas e cereais. Já suplementação com
vitaminas e minerais só com receita. Isso porque o abuso de vitaminas, como a
C, é prejudicial:
— Como temos grande quantidade de ferro, o excesso de vitamina C
transforma-se num pró-oxidante, na produção do pior radical livre.
Por falar em comer, Lício lembra que o hormônio insulina pode ter efeito
antienvelhecimento. Estudos com um pequeno verme de laboratório, o C. elegans,
revelaram que se a ação da insulina for reduzida (não abolida) o animal entra
num estado de “vida em suspensão”; seu crescimento é mais lento e a sua
reprodução inibida. É como se ele estivesse hibernando.
— Dessa forma sua vida pode ser prolongada em até 60% do tempo. Testes
em roedores mostraram um aumento de longevidade, mas apenas em 20%. Ao que tudo
indica, quanto mais complexo o organismo menos expressivo o aumento da
longevidade — explica.
Enquanto a verdadeira fonte não é descoberta, alguns pesquisadores
tentam atalhos. A suposta aplicação de células-tronco retiradas da gordura do
próprio indivíduo está sendo usada para rejuvenescer a face, ainda que tal uso
seja polêmico.
— Nos Estados Unidos e na Europa foram feitas centenas de aplicações,
sem qualquer efeito colateral sério. A satisfação a longo prazo fica em torno
de 70% a 80% — comenta Borojevic.
Para Mayana Zatz, do Departamento de Biologia do Instituto de Biociências
da USP, usar células-tronco de lipoaspiração para rejuvenescer é algo para o
futuro:
— Ainda não estamos prontos para usar tais células para reconstrução de
mamas nem para rejuvenescimento. Uma vez injetadas você não consegue controlar
as células. Elas podem formar cartilagem, bolas e até pequenos tumores. É um
risco.
Por enquanto, a dica é praticar exercícios, comer frutas ou vegetais
cinco vezes ao dia e evitar fumo, excesso de álcool e exposição solar, dizem os
médicos.
Fonte:http://www.juliotafforelli.com.br/2016/12/28/as-novas-fontes-da-juventude/
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