sábado, 20 de dezembro de 2014
Afirmação é da pesquisadora americana Catherine
Bollard, que defende a imunoterapia como novo caminho para tratamento
A tão
temida e sofrível quimioterapia deve deixar de ser o único destino para quem
descobre um câncer. É isso que defende a pesquisadora americana Catherine
M. Bollard, especialista em transplante de medula dos Sistema Nacional de Saúde
Infantil dos EUA.
A
especialista é uma grande entusiasta da imunoterapia. A lógica está em
fazer com que anticorpos do próprio organismo se defendam e ataquem vírus,
tumores e outros microorganismos, no lugar de desenvolver uma droga que mate as
doenças. De modo simplista, é mais ou menos a diferença entre dar o peixe e
ensinar a pescar.
Catherine acredita
que dados os avanços recentes na área e a eficiência das novas terapias, cada
vez mais serão menos necessários tratamentos convencionais como a
quimioterapia.
Recentemente,
Catherine, foi eleita presidente da Sociedade Internacional de Terapia Celular
(ISCT) e afirmou em entrevista ao iG que pretende dar suporte para que estas
novas formas de tratamento torne-se cada vez mais comuns no Brasil.
iG: Por que é a imunoterapia pode ser melhor que
terapias tradicionais em muitos casos?
Catherine M. Bollard: Existem várias formas de imunoterapia, com diferentes processos para se obter isso, mas, basicamente, a imunoterapia consiste em melhorar a resposta imune do paciente para matar o tumor. Ao contrário da radioterapia e da quimioterapia convencional, terapias baseadas no sistema imune oferecem uma abordagem mais orientada para matar as células cancerosas sem intoxicar outros órgãos, com isto células saudáveis que não têm relação nenhuma com a doença não são atingidas. As células cancerosas têm muitas estratégias para ludibriar o sistema imunológico. Imunoterapias servem para superar estas estratégias e matar diretamente o tumor. Há menos efeitos colaterais, uma resposta mais eficaz.
Catherine M. Bollard: Existem várias formas de imunoterapia, com diferentes processos para se obter isso, mas, basicamente, a imunoterapia consiste em melhorar a resposta imune do paciente para matar o tumor. Ao contrário da radioterapia e da quimioterapia convencional, terapias baseadas no sistema imune oferecem uma abordagem mais orientada para matar as células cancerosas sem intoxicar outros órgãos, com isto células saudáveis que não têm relação nenhuma com a doença não são atingidas. As células cancerosas têm muitas estratégias para ludibriar o sistema imunológico. Imunoterapias servem para superar estas estratégias e matar diretamente o tumor. Há menos efeitos colaterais, uma resposta mais eficaz.
iG: Você acredita que poderemos, num futuro próximo
poderos dar adeus à quimioterapia?
CB: Acho
que sim. Principalmente por causa destes novos avanços em imunoterapias, vemos
que pode ser possível para alguns tipos de câncer utilizar uma combinação de
imunoterapias e tratar de modo eficaz o tumor sem a necessidade de
quimioterapia.
iG: O que há de mais novo nesta área?
CB:
Existem muitas novidades empolgantes sobre avanços baseados em imunoterapia no
câncer, inclusive vacinas contra tumores, terapias baseadas em anticorpos e as
celulas-T do sangue [glóbulos brancos do sangue que têm papel importante na
imunidade], só para citar alguns exemplos. Recentemente, o uso de células-T
alteradas geneticamente em laboratório e lançadas no organismo para matar
células de leucemia resultou no aumento de 80% na taxa de resposta de crianças
com leucemia linfoide aguda e que não tinham conseguido resultados positivos
com outras terapias. Além disso, há uma nova classe de terapias chamadas
“inibidores de pontos de verificação” que libera o freio do sistema imune,
tornando-o mais poderoso.
iG: O sistema imune é muito diferente em crianças e
adultos?
CB:
Dependendo da idade da criança, seu sistema imunológico pode ser diferente,
porque ele não encontrou ainda tantos patógenos quanto os adultos e, portanto,
não pode ter a mesma forma de "memória".
iG: Você e sua equipe, neste ano, curaram com
células-T um bebê de apenas seis meses de idade que tinha deficiência
imunológica congênita. Por que decidiu não usar o tratamento tradicional?
CB: Este
paciente tinha uma imunodeficiência que foi tratada por um transplante de sua
mãe. No entanto, ele também desenvolveu uma infecção por citomegalovírus (CMV),
porque seu sistema imunológico ainda estava muito fraco, mesmo após o
transplante. Ele foi tratado, inicialmente, com drogas convencionais contra o
CMV, mas ele era resistente a todas elas. Nós então produzimos células-T contra
o CMV a partir da mãe do bebê e injetamos no paciente. Dentro de poucas semanas
os vírus de CMV desapareceram.
iG: É possível treinar células-T com pouca
“memória”, como a de pacientes mais novos, a matar tumores e vírus?
CB: Sim,
nós somos o primeiro grupo a mostrar que é possível que células de sangue ainda
naif do cordão umbilical podem derivar um sistema imunológico “treinado” em
labortório capaz de matar três vírus simultaneamente.
iG: Depois dessa, o que vocês estão planejando
fazer?
CB:
Estamos atualmente desenvolvendo novas terapias imunes para pacientes
pediátricos com câncer no sangue, neuroblastoma, sarcomas e tumores de cérebro.
Estamos também desenvolvendo novos tratamentos contra infecções por vírus,
incluindo cinco vírus que podem causar grandes problemas em pacientes
deficientes imunes (por exemplo, aqueles com deficiências imunológicas
congênitas ou pacientes transplantados).
iG: Por que a imunoterapia é mais barata que os
tratamentos convencionais?
CB: O
custo das terapias com drogas tradicionais contra infecções por vírus pode
ultrapassar 30 mil dólares. Isto para evitar uma única infecção por vírus em um
paciente que fez um transplante de medula recentemente e ainda está com o
sistema imune baixo. O tratamento destes pacientes com células T não só trata a
infecção pelo vírus, como também repara o sistema imune e protege o organismo.
É portanto uma estratégia com maior custo benefício e que agora está sendo
usada nos Estados Unidos, Europa, Ásia e Austrália.
iG: Este tipo de tratamento está sendo utilizado no
Brasil e em outros países?
CB: A
América do Sul também está desenvolvendo algumas terapias com base imunes muito
promissoras e está se tornando muito ativa dentro da sociedade internacional de
terapias celulares (ISCT). Como presidente eleita desta sociedade, eu me
comprometo a chegar ao Brasil e outros países da América do Sul para ajudar com
o desenvolvimento e capacitação no campo da terapia celular.
iG
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