80% da geração Z acredita que as empresas devem ajudar o planeta (Foto: Nadine Ijewere/ Condé Nast Archive)
Rotina de beleza sustentável: dicas para apostar em produtos eco-friendly
Sem essa de beleza a qualquer preço! A clean beauty propõe a união de sustentabilidade, baixo impacto negativo socioambiental e consumo
Três passos de beleza transformadores não só para você mas também para o planeta: 1) ler o rótulo do produto; 2) checar se os ingredientes agridem de alguma forma o meio ambiente; 3) entender qual o impacto causado pela embalagem. Pronto! Tais hábitos vão ao encontro do movimento global batizado de clean beauty (beleza limpa, na tradução do inglês), quese consolidou comercialmente em 2016 e promete movimentar US$ 22 bilhões até 2024, segundo pesquisa da consultoria americana Persistence Market Research.
“O clean beauty abrange um comportamento baseado no consumo consciente, que envolve desde o ciclo de cultivo da matéria-prima natural, passando pela fabricação sem ativos nocivos até o pós-descarte”, explica Cris Dios, cosmetóloga e empresária à frente do grupo B9, que inclui os salões Laces and Hair e Bioma Salon Aveda, e a loja online slowbeauty.com.br. “O termo é novo e tecnicamente sem regulamentação, pois órgãos do governo, como a brasileira Anvisa e a americana FDA, ainda não definiram quais pré-requisitos uma marca precisa atender para o produto ser considerado natural, orgânico ou vegano.” Isso se complica ainda mais porque a lista de substâncias proibidas com propriedades cancerígenas, mutagênicas ou tóxicas em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumaria muda conforme o país.
No Brasil e na Europa, por exemplo, há mais de 1.300 químicos banidos, enquanto no Canadá são 500, e, nos Estados Unidos, apenas 11. Para Marco Bodini, sociólogo e especialista de tendências do birô Stylus, é possível fazer um paralelo com o que ocorreu na indústria de alimentos, com a ascensão do vegetarianismo, do veganismo e da alimentação sem glúten, lactose e transgênicos. “Conforme as pessoas ganham consciência sobre o que consomem e se preocupam mais com saúde e bem-estar, é natural que busquem cosméticos alinhados a esse estilo de vida”, diz. Sabe aquela história de comprar e usar com propósito? De acordo com relatório da consultoria Nielsen (2018), 80% dos jovens da geração Z acreditam que as empresas devem ajudar o planeta; 68% dos jovens americanos fazem compras eco-friendly; e 82% dos sul-asiáticos preferem produtos de marcas éticas.
E não para por aí: os consultores da empresa de estratégias OC&C descobriram que 27% da geração Z preferem comprar cosméticos multifuncionais e 37% tentam adquirir somente o que precisam. Porém, contudo, todavia... Nem tudo são flores orgânicas cultivadas lindamente sem agrotóxicos. As versões limpas e verdes dos produtos, geralmente, chegam ao mercado com preço mais alto que o dos cosméticos convencionais. Assim, grande parte da população — no mundo e no Brasil, claro — acaba privada do direito de escolha. “No fim, clean beauty é ainda uma questão de justiça social”, enfatiza Cher Wexia Chen, professora americana de direitos humanos.
Uma questão de valores
E por que os produtos do clean beauty tendem a ser caros? “Além da sua produção em menor escala, as matérias-primas naturais e orgânicas com boa procedência custam mais que substâncias químicas de laboratório, pois levam em consideração cadeia de extração, respeito à legislação, direitos trabalhistas, certificações, impostos e taxas, tipo a aplicada pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (Cegen) para os insumos originários da floresta amazônica”, explica Cris. “Como o cosmético precisa ter no mínimo 95% de ingredientes naturais na sua formulação, de acordo com alguns selos, como USDA Organic, Ecocert e IBD, sua base já fica encarecida.” Por exemplo, um xampu da marca de Cris, a LSC, sai da fábrica por quase R$ 20, enquanto um comum pode chegar a R$ 2. “Quando coloco na loja seu valor é de R$ 59, porque ainda entram na equação os tributos, a logística de distribuição, a embalagem reciclável... Posso dizer que meu lucro, hoje, é o mínimo para fechar as contas do ciclo inteiro.”
Há ainda o fato de que, muitas vezes, pesquisas científicas de ativos químicos nocivos são incentivadas e financiadas devido a interesses político-econômicos, o que cria uma desvantagem de concorrência para os ingredientes botânicos e minerais. Ok, ok. Mas, então, como podemos tornar o movimento mais democrático sabendo de tudo isso? Para Marcela Rodrigues, consultora de comunicação ética e de beleza natural, é preciso tornar a ciência e a tecnologia aliadas da sustentabilidade. “Tem que haver equilíbrio. Em vez de demonizar todos os sintéticos e colocá-los na mesma categoria ruim, precisamos entender que existem opções seguras e com a qualidade controlada para nós e o planeta”, diz ela. “A maioria das marcas de maquiagem natural, por exemplo, possui batons coloridos em seu portfólio. Quando a gama de tons não puder ser criada a partir de extratos vegetais e minerais, tudo bem substituí-los por corantes sintéticos regulamentados. Já é melhor que usar pigmentos de origem animal.”
O mesmo vale para substitutos sintéticos de ingredientes naturais problemáticos habituais, como o óleo de palma e a mica, que devastam ecossistemas inteiros e vêm carregados de exploração do trabalho infantil e adulto, e a água, cuja demanda supera a oferta – a ONU estima que 2/3 do mundo irá sofrer problemas de escassez hídrica até 2025.
Mudança a caminho
Por isso, o clean beauty não precisa ser restrito a pequenas marcas naturebas 100% verdes. Quando grandes grupos tradicionais, caso da Natura, L’Oréal, Estée Lauder, Unilever, P&G e Boticário, investem na criação de fórmulas acessíveis e processos limpos, vide a pele sintética para testes, a indústria toda se movimenta. “É um reflexo do consumo além do consumo, agregando propósitos aos produtos, que o consumidor contemporâneo está exigindo”, afirma Marcela. Lá fora, varejistas, como a Walmart e a Target, também estão contribuindo para a evolução do setor ao incluírem marcas independentes em seu portfólio. “Atualmente, a Target vende várias marcas de clean beauty, das quais, pelo menos 70% oferecem produtos abaixo de US$ 15. Essa é uma mudança e tanto se pensarmos que, há dez anos, não tínhamos essas ofertas. Só no ano passado, introduzimos mais de 30 linhas da categoria”, explica Christina Hennington, vice-presidente sênior e gerente geral de mercadorias. “Na maioria das vezes quando trabalhamos com essas neolabels, começamos com pequenas gôndolas [em poucas lojas] ou no e-commerce. Não queremos aumentar a escala além da capacidade do fornecedor”, completa.
Já, a Sephora aposta no selo próprio “Clean at Sephora”, iniciativa pensada para ajudar seus clientes a fazerem escolhas saudáveis e identificar quais produtos da loja são naturais, orgânicos e veganos. É promissor? Com certeza, mas ainda há um longo caminho até construirmos um mundo igualitário onde cada um tenha livre-arbítrio para decidir o que realmente quer ou não usar. “A saúde, assim como a alimentação, é considerada um direito humano fundamental”, diz a professora Cher Wexia Chen. “Tanto as marcas quanto os consumidores precisam ser transparentes e questionar como o que está sendo produzido agora irá impactar a sociedade e a natureza amanhã”, completa Patrícia Lima, fundadora da marca natural brasileira Simple Organic. Afinal, não há futuro sem presente.
Coleção de selos
Ecocert Concedido quando a marca usa ativos orgânicos.
IBD Garante 95% de ingredientes orgânicos.
Leaping Bunny Produto não testado em animais.
IBD Garante 95% de ingredientes orgânicos.
Leaping Bunny Produto não testado em animais.
Tudo limpo
Essas marcas unem produção sustentável e perfomance
1. Baims Os makes com óleo de pracaxi também tratam a pele.
2. Aveda Pioneira, a marca verde do grupo Estée Lauder foi fundada em 1978.
3. Biossance Usa esqualano extraído da cana-de-açúcar brasileira.
4. Love Beauty and Planet O rótulo verde da Unilever usa ingredientes veganos.
2. Aveda Pioneira, a marca verde do grupo Estée Lauder foi fundada em 1978.
3. Biossance Usa esqualano extraído da cana-de-açúcar brasileira.
4. Love Beauty and Planet O rótulo verde da Unilever usa ingredientes veganos.
Reportagem: Jessica Chia
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