Até quando mulheres 50+ serão valorizadas por padrões de beleza ou pelo aspecto de juventude?
"Como a cultura do eternamente jovem – essa ilusão – pode ser ainda usada em 2021, enquanto tentamos normalizar e qualificar o envelhecimento com algum ou muito sucesso?", questiona a nossa colunista Viva a Coroa
Já escreveu “musas 50+” no Google, o grande oráculo contemporâneo? Eu sim, e faço o convite para você. Nos meus algoritmos, as 5 primeiras matérias que aparecem são relacionadas à forma física de mulheres famosas e uma delas diz que as musas 50+ esbanjam juventude pois estão no “shape”, no corpo ideal, segundo os padrões que torturam mulheres de todas as idades, imagina na nossa.
A pesquisa do Google é breve e superficial, passível de muitos erros e enganos, e não se compara às pesquisas sérias, acadêmicas, longas e fundamentadas realizadas por mulheres 50+, como a minha colega aqui, a minha musa Mirian Goldenberg.
Contudo, a busca no grande oráculo virtual é termômetro e comprova que precisamos mesmo de um olhar mais profundo e real da sociedade sobre o envelhecimento feminino, não sem antes exercitarmos esse próprio olhar diante do espelho – pois temos nossa parcela de responsabilidade nesse resultado. Quanto mais reduzirmos o envelhecimento aos aspectos físicos e estéticos, tanto mais sofreremos com o mesmo veneno.
Isso quer dizer que estou condenando tratamentos estéticos? De jeito NENHUM. Seu corpo, suas regras. Seu rosto, suas regras. A proposta aqui é ir mais a fundo, não se deixar reduzir a um corpo ou um rosto. É um convite para refletirmos o quanto podemos mudar essa realidade para uma menos superficial, que desvie de “enganos” corriqueiros, tais como: falar de corpo para falar de idade ou usar jovem/juventude como adjetivo qualitativo para quem não é mais tão jovem.
Voltemos ao Google… mais de uma matéria cita a juventude (“elas esbanjam juventude”, por exemplo) como uma qualidade de uma mulher 50+. Como pode isso, me explica? Como a cultura do eternamente jovem – essa ilusão – pode ser ainda usada em 2021, enquanto tentamos normalizar e qualificar o envelhecimento com algum ou muito sucesso?
Todas as vezes que aceitamos o “corpão”, a “pele incrível” com únicos atributos de uma 50+, e toda vez que se faz uso da juventude como um “adjetivo" para velhos, sem questionar, damos mais espaço para esse tipo de “opá, como assim?". Todas as vezes que nos referirmos a nós, ou ao envelhecimento, de maneira pejorativa, idem. Juventude não é valor agregado nem adjetivo, é substantivo feminino e se refere ao período da vida do ser humano compreendido entre a infância e o desenvolvimento pleno de seu organismo.
E a beleza padrão não pode ser decisiva para a definição de musas 50+, nem 50 menos. A realmente jovem geração da diversidade nos mostra isso com coragem e poesia. Elas se olham no espelho, se expõe como são, inspiram outras mulheres a fazerem o mesmo: a se amarem na própria pele e de frente para o espelho. Resultado: representatividade real, na mídia, nos algoritmos, no mercado de moda e beleza, nas ruas. Cada mês uma nova musa.
Lembrando que a palavra musa vem da mitologia grega e é empregada para descrever quem inspira. Por isso, quando – e se for – fazer sua pesquisa no Google procure também por “Body Positive” ou “corpo positivo” e pratique a partir do reflexo no espelho. Descubra a musa que você é, sem ser jovem, sem ser perfeita. Inspire alguém. Faça um post, traga o papo para o mundo. Quem sabe assim, em alguns anos, o grande oráculo não relacionará corpos perfeitos e juventude com musas 50+. No final, tudo começa na gente, você sabe. E as garotinhas musas comprovam.
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