O estresse como inimigo do coração
Quando se fala dos principais fatores de risco para doenças cardíacas logo surgem colesterol alto, hipertensão, diabetes, cigarro, obesidade, sedentarismo, histórico familiar. Mas hoje não vou falar sobre a importância de ter uma alimentação saudável ou praticar atividade física para ter um coração saudável.
O foco aqui é o estresse. Pesquisas recentes mostram que o estresse mental crônico pode ser tão ou mais importante para a saúde do coração quanto os fatores citados acima.
Segundo estudo publicado na Jama (Journal of the American Medical Association), o estresse mental supera o estresse físico como potencial gatilho para ataques cardíacos (fatais e não fatais) e outros eventos cardiovasculares em pacientes com doenças coroniana estável.
Embora o estudo tenha sido feito com pessoas com coração menos saudável, o resultado reforça estudos anteriores que associam estresse, raiva e depressão a eventos cardiovasculares.
“Estudo realizado pela European Society of Cardiology (ESC) mostrou que o risco de ataque cardíaco, derrames e outros problemas cardiovasculares aumenta 8,5 vezes nas duas horas seguintes a explosões de raiva”, afirma o médico Luiz Fernando Sella, especialista em Medicina do Estilo de Vida e autor do livro Os 7 Inimigos do Coração.
Outro estudo, chamado Interheart, pesquisou os fatores de risco para o infarto do miocárdio na população mundial (52 países, incluindo o Brasil). O estudo, coordenado pela Universidade McMaster (Canadá) e patrocinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) coloca os fatores psicossociais (estresse e depressão) ao lado dos fatores físicos, como colesterol alto, tabagismo, diabetes e hipertensão como gatilhos para infarto agudo do miocárdio.
A conclusão foi que o estresse e depressão são gatilhos associados ao infarto em todas as regiões do mundo, em homens e mulheres e em todas as faixas etárias.
“O estresse causa a diminuição da quantidade de oxigênio que chega ao músculo cardíaco, chamado miocárdio, aumentando o risco de eventos cardiovasculares adversos, como o infarto”, explica Sella.
O médico explica como o estresse emocional pode induzir essa isquemia:
- ele está associado à liberação de adrenalina, neurotransmissor que aumenta a frequência cardíaca e gera uma maior demanda por oxigênio no músculo cardíaco;
- a liberação de adrenalina também provoca uma vasoconstrição no corpo de forma sistêmica. O estreitamento dos vasos sanguíneos aumenta a resistência à passagem do sangue e gera aumento da pressão arterial;
- o estresse também pode causar disfunção no endotélio, que é a camada dos vasos sanguíneos cardíacos, e induzir a inflamação dos vasos, piorando o quadro.
O estresse psicossocial pode ter várias causas — a pandemia, problemas de relacionamento, problemas financeiros, no trabalho, perda do emprego, doença na família e todo esse contexto político e econômico que vivemos.
O cenário é preocupante: segundo a OMS, o Brasil é o campeão mundial de transtorno de ansiedade e é o segundo país do mundo com maior nível de estresse. O país também é campeão em casos de depressão na América Latina. “Existem vários estudos mostrando que quadros de depressão também representam fator de risco importante para doenças cardíacas”, diz Sella.
Mas, afinal, o que podemos fazer sobre isso?
O estresse tem um lado positivo: faz parte do nosso mecanismo de defesa a ameaças externas. Ele deveria ser ativado em situações especiais e precisa de um tempo para a recuperação do organismo.
Como enfrentamos tempos estressantes, as pessoas tendem a ativar a resposta ao estresse várias vezes ao dia: vivem uma situação de estresse permanente. Com o tempo, esse estresse crônico de baixo grau pode se acumular e causar doenças.
“O Dr. Herbert Benson, da Harvard Medical School, demonstrou que podemos reverter a resposta ao estresse provocando uma resposta de relaxamento, ou seja, um estado físico de descanso profundo”, diz Sella. “A ativação regular da resposta de relaxamento foi cientificamente comprovada como um tratamento eficaz para uma ampla gama de distúrbios relacionados ao estresse”, completa.
Durante a resposta de relaxamento, os hormônios do estresse, a frequência cardíaca e a pressão arterial diminuem, enquanto a respiração se torna mais profunda e os músculos relaxam.
Sella afirma que existem várias maneiras de ativar a resposta de relaxamento, entre elas:
- exercícios respiratórios
- relaxamento muscular progressivo
- exercícios físicos repetitivos, como caminhar ou correr
- oração e meditação.
Praticar a resposta de relaxamento pode realmente levar a alterações na atividade genômica. Ela modula a expressão gênica e induz alterações antioxidantes e anti-inflamatórias que neutralizam os efeitos do estresse no organismo.”
Fonte:https://blogs.oglobo.globo.com/espiritualidade-e-bem-estar/post/o-estresse-como-inimigo-do-coracao.html
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