GORDURA NO FÍGADO E OS RISCOS DE CÂNCER

  

Gordura no fígado: doença silenciosa afeta 30% dos brasileiros
Gordura no fígado: doença silenciosa afeta 30% dos brasileiros Freepik

Gordura no fígado e os riscos de câncer

Estudo coreano traça um paralelo entre a gordura visceral e o desenvolvimento de câncer em outros órgãos do sistema digestivo

Por Fernando Maluf

20/05/2023 04h30  Atualizado

Estima-se que 25% da população brasileira tenha esteatose hepática, popularmente conhecida como gordura no fígado, condição que tem como principal causa o sobrepeso e a obesidade e pode levar a problemas graves no funcionamento do órgão. Nas últimas décadas o número de pessoas com sobrepeso ou obesidade tem aumentado em até 10 vezes, dependendo do país.

Recentemente, um estudo coreano publicado no Journal of Clinical Oncology, um dos principais periódicos de Oncologia, procurou avaliar as possíveis ligações entre a doença hepática gordurosa não alcoólica e o câncer.

Os pesquisadores analisaram dados de mais de 5,2 milhões de adultos jovens, com idade entre 20 e 39 anos, para verificar um potencial aumento do risco de câncer, principalmente na região do trato digestivo.

A triagem selecionou pacientes do Serviço Nacional de Seguro de Saúde da Coreia do Sul, entre 2009 e 2012, e os acompanhou até 2018, para determinar a incidência de cânceres. São tumores no esôfago, estômago, intestino, fígado, pâncreas, trato biliar e vesícula biliar.

Para se ter uma ideia, só no Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima mais de 100 mil novos casos de neoplasias nestes órgãos. O tumor de cólon e de reto, por exemplo, é um dos mais incidentes no país. Entre seus principais fatores de risco estão comportamentos ligados ao estilo de vida, como sedentarismo, baixo consumo de fibras, frutas, vegetais e carnes magras, ingestão regular de álcool e o tabagismo.

A ligação com os tumores de fígado e a esteatose já é estudada e entendemos que o acúmulo de gordura pode gerar uma inflamação que começa a danificar as células. A partir do processo crônico, é possível o desenvolvimento da cirrose hepática. Algumas células podem se tornar malignas, dando origem ao câncer de fígado.

Agora, este estudo coreano traça um paralelo entre a gordura visceral e o desenvolvimento de câncer em outros órgãos do sistema digestivo. Na pesquisa, a esteatose hepática foi associada a uma possibilidade aumentada de tumores de trato digestivo geral (16%), esôfago (67%), estômago e intestino (14%), fígado (13%), pâncreas (23%) vias biliares (29%) e vesícula biliar (53%).

Os resultados evidenciaram que a associação entre a gordura no fígado e o aumento no risco de câncer foi bastante relevante mesmo sem considerar fatores como idade, sexo, consumo de álcool, tabagismo e obesidade.

Esses dados são importantes porque uma das causas do aumento de casos de câncer do aparelho digestivo em pessoas jovens está, também, relacionado a um estilo de vida pouco saudável, tendo na gordura visceral e na esteatose hepática suas principais manifestações.

Também é muito importante enfatizar que a doença hepática gordurosa não alcoólica pode ser considerada um fator de risco independente e modificável, especialmente para tumores do trato digestivo em adultos jovens.

Os pesquisadores dizem que os achados “sugerem uma oportunidade crucial para reduzir a morbidade e a mortalidade prematuras associadas aos cânceres do trato digestivo de início precoce na próxima geração”.

O diagnóstico da esteatose hepática pode ser realizado por meio de exames de imagem, como ultrassom, tomografia e ressonância. Pessoas com colesterol elevado também devem ter maior atenção a essa condição. E ainda pacientes magros, que possuam alterações metabólicas, podem apresentar depósito de gordura no corpo. Trata-se de uma predisposição genética, que deve ser acompanhada de perto por um especialista.

A adoção de uma dieta balanceada, pobre em gorduras, rica em legumes e vegetais, sem muitos alimentos processados, além da prática de exercícios físicos, podem ajudar no controle da esteatose hepática e na prevenção de vários tipos de câncer. Além disso, a partir destes dados serão determinadas a melhor forma de monitorar pessoas com esteatose e o tratamento mais eficaz.


Fonte:https://oglobo.globo.com/blogs/receita-de-medico/post/2023/05/gordura-no-figado-e-os-riscos-de-cancer.ghtml



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