DO CONSUMO DE ÁLCOOL A FIBRAS: AS 10 DICAS DO MÉDICO BEN-HUR FERRAZ NETO PARA A SAÚDE DO PÂNCREAS, FÍGADO E INTESTINO
DO CONSUMO DE ÁLCOOL A FIBRAS: AS 10 DICAS DO MÉDICO BEN-HUR FERRAZ NETO PARA A SAÚDE DO PÂNCREAS, FÍGADO E INTESTINO
O cirurgião do fígado e aparelho digestivo dá dicas
sobre check-ups, dieta e primeiros sinais de doenças que devemos ficar atentos
POR
BEN-HUR FERRAZ NETO
Dois em cada dez
brasileiros relatam manter um consumo abusivo de álcool, revelou estudo do
Ministério da Saúde. O mesmo levantamento mostra que 56,8% da população está
com excesso de peso, considerado os quadros de sobrepeso e obesidade. Os dois
cenários, em alta, funcionam como uma bomba-relógio para o fígado e o aparelho
digestivo. E para completar o cenário delicado, os problemas nessa região do
corpo muitas vezes começam sem dar sinais. A boa notícia é que o impacto de
bons hábitos de vida é fortíssimo, o que torna possível evitar doenças.
A convite do GLOBO, o cirurgião especialista em
fígado e aparelho digestivo e Diretor do Instituto do Fígado Americas, Ben-hur
Ferraz Neto, listou 10 conselhos para se viver mais e melhor. São dicas
exclusivas para os assinantes do nosso novo projeto Tem que Ler!
MUITO ALÉM
DA BARRIGA TANQUINHO: ATIVIDADE FÍSICA QUEIMA A GORDURA DO FÍGADO
Enfrentamos uma nova epidemia que se caracteriza por sobrepeso e
obesidade, hábitos alimentares pouco saudáveis, sedentarismo, alterações do
colesterol e da glicemia, bem como da microbiota intestinal (população de
bactérias saudáveis que vivem no intestino). Tudo isso, junto ou separadamente,
tem contribuído para a ocorrência do que chamamos de esteatose hepática, que
nada mais é do que o acúmulo de
gordura no fígado.
A
prevalência chega a índices ao redor de 35% da população. Por meio de uma
simples conta, podemos concluir que, no Brasil, são mais de 75 milhões de
pessoas com a enfermidade Em indivíduos com sobrepeso e obesidade, este número
pode atingir 80%.
E
mais sério ainda é saber que a gordura no fígado não causa sintomas e pode
evoluir para fibrose, cirrose e câncer sem que percebamos.Ao contrário do que a
maioria acredita, o problema não é uma “capa de gordura” que envolve o fígado,
mas sim a inclusão de gordura dentro de cada célula do órgão, o que é muito
pior.
Mas,
tudo isso tem solução se encarado de frente e diagnosticado precocemente. O
melhor tratamento e prevenção para a ocorrência da esteatose é a mudança no
estilo de vida. Um melhor controle da alimentação, redução do consumo de
bebidas alcoólicas, do peso, da glicemia e, principalmente, mais atividade
física, com o abandono do sedentarismo.
VOCÊ TEM
MAIS DE 50 ANOS? CORRE PARA O CHECK-UP DO FÍGADO
Você sabia que 7 em cada 10 pessoas têm alguma doença crônica no fígado
e não sabem? Elas representam, hoje, uma epidemia silenciosa e que custará
muitas vidas nas próximas décadas. Se continuarem aumentando no mesmo ritmo, os
diagnósticos do tipo serão responsáveis por mais mortes do que a hipertensão
arterial em um curto espaço de tempo.
Por
isso, todos a partir dos 50 anos devem realizar um check-up do fígado, que é a
única forma de tomar consciência sobre o estado do órgão e prevenir
complicações graves no futuro. Além disso, aqueles que fazem parte
de um grupo de risco, como sobrepeso, obesidade, dislipidemia, diabetes,
hipertensão arterial, entre outros, devem se submeter a essa avaliação em
qualquer idade.
O
check-up é eficaz e pode sugerir graus de risco de doenças crônicas no fígado
por meio de fórmulas matemáticas partindo de testes de sangue. Lembre-se, 90%
das doenças hepáticas são preveníveis.
O ÁLCOOL
NÃO É A PRINCIPAL CAUSA DE CIRROSE – MUITO PELO CONTRÁRIO
Estima-se que, apenas no Brasil, morram anualmente mais de 40 mil
pessoas como consequência de cirrose hepática. Ao contrário do que a maioria
acredita, grande parte dos pacientes com o diagnóstico não faz uso de bebidas
alcoólicas.
Hoje
conhecemos dezenas de causas de cirrose, apenas uma delas relacionada ao consumo
excessivo de álcool. Outra causa que traz enorme preocupação é a
ligada justamente ao acúmulo de gordura no fígado, a esteatose hepática.
Além
disso, embora seja comum associarmos a cirrose apenas a pacientes com quadros
mais graves, como “barriga d’água” (ascite), olhos amarelos (icterícia) e
câncer, esses sintomas e diagnósticos só aparecem quando a cirrose já está em
suas formas muito avançadas, ou seja, em pessoas que tinham o problema há anos
e sequer suspeitavam.
Muitos
casos têm apenas no transplante uma chance real de cura, embora faltem doadores
para todos os que necessitam. Então como devemos fazer para prevenir suas
complicações ou mesmo diagnosticá-la ainda numa fase que tratamentos curativos
são disponíveis?
A
resposta é: conhecendo a saúde do seu fígado através de orientação médica, com
os devidos check-ups. Em caso de uma doença crônica de fígado, é preciso o
acompanhamento rigoroso com um especialista, exames de sangue e de imagem no
máximo a cada 180 dias para que não evolua para cirrose. Hoje, essa é a única
alternativa para descobrir precocemente suas complicações e atuar para ter uma
perspectiva de cura.
NÃO É SÓ
ESTILO DE VIDA: AS VACINAS TAMBÉM EVITAM CÂNCER
Cerca de 90% dos tumores primários do fígado ocorrem em órgãos doentes
há anos, mas que nunca apresentaram sintomas. O câncer mais comum que nasce no
fígado chama-se carcinoma hepatocelular. Quando diagnosticado precocemente,
apresenta mais de 90% de chance de cura. Porém, seu diagnóstico em fases
avançadas leva essa chance a se aproximar de zero.
Para
aqueles que têm doenças hepáticas crônicas, exames rotineiros e periódicos a
cada seis meses, no máximo, permitem essa rápida identificação. Mas um desafio
é que, pela doença ser silenciosa e assintomática, não induz o paciente a
aderir ao importante acompanhamento.
Quanto
aos tumores secundários ou metastáticos do fígado, que há alguns anos
representavam uma doença incurável, hoje, graças à evolução da oncologia,
muitos apresentam chances reais e grandes de cura com o tratamento.
Todavia, a
prevenção é a forma mais eficiente de evitar o problema. Para isso,
algumas medidas importantes são não fazer uso abusivo de bebidas alcoólicas,
vacinar-se para proteger-se contra as hepatites, fazer exercícios físicos,
evitar o sedentarismo e prevenir o sobrepeso.
PEDRA NA
VESÍCULA NÃO É BRINCADEIRA: PROCURE O MÉDICO SEMPRE
Os cálculos biliares, ou pedra na vesícula, possuem uma alta prevalência
na população em geral, cerca de 15%, e, em sua maioria, são assintomáticos.
Entretanto, quando os sinais se manifestam, são uma das principais causas de
hospitalização e utilização dos serviços de saúde dentre os motivos
gastrointestinais.
Os
principais fatores de risco são ser mulher; ter mais de 40 anos; passado de
gravidez ou múltiplas gestações anteriores; hereditariedade; dislipidemia;
obesidade e rápida perda de peso. O desenvolvimento de sintomas geralmente está
associado a complicações e são variados, podem ser dor (cólica biliar),
náuseas, vômitos e até icterícia (pele e olhos amarelados).
Uma
das formas de tratamento indicadas é a cirurgia. Se receber o diagnóstico, não
deixe de procurar orientação de um profissional capacitado que possa discutir
com você os riscos e benefícios do procedimento. Não se deixe enganar por
informações inverídicas e mal-intencionadas na internet e, caso tenha dúvidas,
procure seu médico de confiança antes de qualquer decisão.
Recentemente,
algumas “fake news” têm sido veiculadas nas redes sobre o problema de saúde,
como a necessidade de fazer uso de sais biliares após a cirurgia. Isso não é
verdade, não faz sentido e não tem qualquer apoio científico. Quem produz a
bile é o fígado, e não a vesícula biliar. Por isso, mesmo sem vesícula, não
faltará bile para digestão de alimentos e até de gorduras.
O FÍGADO É
TRAIÇOEIRO, QUANDO GRITA JÁ É TARDE
Há anos nos preocupamos com a nossa glicemia, com a pressão arterial,
com as condições de nossas coronárias, com o
nosso coração, com os pulmões e com o nosso cérebro, mas deixamos de
lado o fígado.
O
fígado é traiçoeiro, quando grita já é tarde. O fígado não tem o glamour do
coração (órgão que além de bater sem parar nos remete a emoção e ao amor), mas
é a usina do corpo humano. Atualmente, sabemos que as doenças que mais crescem
no mundo como causa de morte, são justamente as do órgão. Desde a década de 70,
as mortes por doenças hepáticas aumentaram em 400% e já se posicionam como a 3ª
causa de óbito prematuro no Reino Unido.
Outro
dado importante é que existe uma enorme relação entre as doenças hepáticas e as
cardiovasculares. O fígado doente tem um importante papel no processo que
desenvolve a aterosclerose, nos fatores inflamatórios relacionados ao sobrepeso
e obesidade, assim como na alteração do metabolismo dos lipídeos (colesterol e
triglicérides), aumentando o colesterol “ruim” e reduzindo o “bom”. Além disso,
aumenta a resistência à insulina e se associa ao aparecimento da diabetes tipo
2.
MAIS
FIBRAS E VERDURAS, MENOS CARNE: A DIETA PARA EVITAR O CÂNCER DE INTESTINO DESDE
A JUVENTUDE
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima mais de 45 mil novos casos
de câncer colorretal em 2023, o que inclui tumores que atingem uma parte do
intestino grosso (o cólon) e o reto (final do intestino, porção localizada
antes do ânus). Esse é o tipo de câncer mais comum no homem e na mulher após o
câncer da próstata e mama, respectivamente.
A
incidência aumenta de forma significativa após os 50 anos e continua crescendo
com o avançar da idade. Porém, temos observado um aumento crescente de casos em
pacientes jovens. Existem fatores de risco para isso.
Entre
eles, podemos considerar como principais as dietas ricas em carnes vermelhas,
carnes processadas e carnes expostas a calor intenso; as dietas pobres em
fibras (frutas, legumes e verduras), o sedentarismo, a obesidade e doenças
inflamatórias intestinais crônicas (como colite ulcerativa e doença de Crohn),
bem como a história familiar de casos de câncer colorretal e determinadas
síndromes que levam a alterações do intestino (síndrome de Lynch e a polipose
adenomatosa familiar – FAP).
Quando
diagnosticado em fases iniciais a chance de cura é grande. Para isso, é
importante estar em dia com a colonoscopia preventiva, ou seja, aquela
realizada em todos os pacientes com mais de 50 anos, mesmo sem sintomas ou
história de câncer.
Além
disso, focar em hábitos de vida que podem reduzir a incidência dos tumores do
intestino, como adotar dieta rica em fibras, frutas, verduras e legumes, reduzir o
consumo de carnes vermelhas e gordura animal, praticar atividades
físicas, evitar o sedentarismo e o sobrepeso, além de diminuir o uso de bebidas
alcoólicas e o tabagismo.
CÂNCER DE
PÂNCREAS: UM GRANDE INIMIGO QUE PODE SER VENCIDO
O câncer de pâncreas é raro antes dos 45 anos, mas sua incidência
aumenta consideravelmente após 65 anos, em ambos os sexos. Dentre os fatores de
risco, temos tabagismo, obesidade, alta ingesta calórica e consumo de álcool. A
apresentação clínica inicial depende da localização do tumor e pode envolver
icterícia (olhos amarelos), dor abdominal, falta de apetite, cansaço,
emagrecimento, diarreia e vômitos.
Porém,
devido à sua evolução silenciosa, geralmente apresentando sintomas nas fases
avançadas, somente 15% a 20% dos pacientes são candidatos à ressecção
cirúrgica, única chance de tratamento curativo. Logo, ele é altamente
agressivo, com pouca perspectiva de cura. Ainda assim, hábitos de
vida saudáveis, que corrijam os fatores de risco listados acima,
podem evitá-lo.
ABUSE DA
ÁGUA: 2 A 3 LITROS POR DIA AJUDAM A EVITAR TUMORES DE CÓLON
A doença diverticular dos cólons é extremamente comum em grande parte da
população acima dos 60 anos de idade e atinge a maioria das pessoas com mais de
80 anos. Os divertículos do intestino grosso são pequenas saculações (formação
de sacos) que se desenvolvem na parede do cólon e podem inflamar, causando a
diverticulite aguda. Sua presença sem inflamação é chamada de diverticulose.
Essas
alterações se formam por dois motivos: existe a forma hipotônica, resultado da
fraqueza da musculatura do organismo e do intestino que permite que estas
saculações se formem, e a hipertônica, que atinge indivíduos mais jovens, ao
redor de 50 anos, causada por constipação crônica, principalmente naqueles com
baixa ingesta de líquidos e fibras na dieta.
Essas
enfermidades atingem 35 a 50% da população, embora seja pouco comum antes dos
40 anos de idade (menos de 5%), mais comum aos 60 anos (30%) e extremamente
frequente após os 80 anos (65%).
Dessa
forma, vale ressaltar que hábitos alimentares saudáveis e ingerir bastante
líquido (2 a 3 litros diários) podem ajudar a prevenir as doenças em fases
precoces da vida. A dica é o aumento da ingesta de alimentos ricos em fibras (grãos,
legumes, vegetais, frutas) que reduzem a pressão dentro do cólon e evitam
recorrências e complicações mais frequentes.
DOR NA
BOCA DO ESTÔMAGO? NÃO SUBESTIME OS SINAIS DE REFLUXO E GASTRITE
Dores abdominais na “boca do estômago” e queimação que sobe pelo peito
até a garganta podem ser indícios de gastrite e doença do refluxo
gastro-esofágico. A parte superior do aparelho digestório conta com o esôfago,
com o estômago e o duodeno.
O
primeiro deles serve para levar o alimento ingerido para o estômago, onde se
inicia o processo de digestão. O estômago secreta ácido para auxiliar neste
processo, enquanto o esôfago, que não é preparado para suportar secreções
ácidas, se protege com o fechamento do chamado esfíncter inferior do esôfago
impedindo o refluxo deste conteúdo.
A
gastrite e a esofagite são inflamações da mucosa do estômago e esôfago,
respectivamente, e que podem ocorrer por vários motivos. No caso da gastrite as
causas mais comuns são medicamentosas (uso contínuo de anti-inflamatórios ou
ácido acetilsalicílico), consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo e a infecção
pela bactéria chamada Helicobacter pylori.
É
comum pensar que a gastrite seja de origem “nervosa”, mas isso não é verdade. O
que pode ocorrer é que, em situações de estresse excessivo, a secreção ácida do
estômago aumenta e torna o indivíduo mais suscetível à sua ação, provocando
sintomas passageiros semelhantes à gastrite, mesmo sem qualquer inflamação da
mucosa gástrica.
Já
no caso da doença do refluxo gastro-esofágico, como o próprio nome diz,
trata-se do refluxo do conteúdo ácido do estômago para o esôfago que acaba
sofrendo uma inflamação. O sintoma mais comum e bastante desagradável é a azia
que pode ser de leve até forte intensidade e se caracteriza por sensação de
queimação.
Algumas
dicas são importantes nesse contexto, pois existem substâncias, alimentos e
hábitos que favorecem o refluxo e por isso devem ser evitados nesses casos.
Tabagismo, uso de bebidas alcoólicas, café, massas, doces e comidas
condimentadas são alguns deles. O hábito de comer e deitar-se também facilita o
retorno de secreção ácida do estômago para o esôfago.
O
tratamento requer, na maioria das vezes, medicações específicas para cada caso,
embora as medidas comportamentais sejam importantíssimas para a melhora clínica
e manutenção da saúde. Entre elas, podemos destacar: respeitar os horários das
refeições, dando preferência a várias refeições diárias e menores, ao invés de
grandes refeições; parar de fumar e de fazer uso de bebidas alcoólicas;
mastigar bem os alimentos e comer sem pressa; evitar o uso de
anti-inflamatórios, corticoides e analgésicos que possam irritar a mucosa digestiva
e evitar comidas de difícil digestão.
Além
disso, o sobrepeso e a obesidade são fatores desencadeantes do refluxo e é
sempre bom lembrar que a manutenção do peso adequado é fundamental para uma
vida mais saudável.
Fonte: https://infograficos.oglobo.globo.com/tem-que-ler/do-consumo-de-alcool-a-fibras-as-dicas-para-a-saude-do-pancreas-figado-e-intestino-dicas-do-cirurgiao-do-figado-e-do-aparelho-digestivo-ben-hur.html?
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