Acne pode matar? Médicos explicam por que isso acontece e os melhores tratamentos para a doença
A acne pode ocorrer em qualquer fase da vida e devido a vários motivos, incluindo o uso de substâncias e medicamentos
Por Giulia Vidale — São Paulo
27/06/2023 04h30 Atualizado há 4 meses
Espinhas são um problema dermatológico comum, normalmente associado à adolescência. Entretanto, a acne pode ocorrer em qualquer fase da vida e devido a vários motivos, incluindo o uso de substâncias e medicamentos. Embora seja comum, a acne precisa ser tratada da forma correta ou pode trazer riscos. Basta lembrar de dois casos que ganharam o noticiário recentemente.
Casos alertam para riscos
Em maio, viralizou nas redes sociais a história de Johnathon James, um jovem americano que desenvolveu um quadro de acne severa após tomar anabolizantes. As inflamações eram tão grandes que chegava a causar dores horríveis ao deitar ou se reclinar em uma cadeira.
Há algumas semanas, a estudante de Biomedicina Dâmilly Beatriz da Graça, morreu após contrair a superbactéria Staphylococcus aureus. Segundo sua mãe, a acne foi a porta de entrada para a infecção da filha.
O que é a acne?
A acne é uma doença inflamatória da pele que ocorre quando os folículos pilosos ficam entupidos com sebo - óleo que ajuda a evitar que a pele resseque - e células mortas da pele. Isso leva ao surgimento de cravos, espinhas e cistos, de acordo com o grau de inflamação. De acordo com a médica Elisete Crocco, coordenadora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a acne é a doença de pele mais frequente no consultório de dermatologistas.
Tanto que diversas celebridades que desfilam pelos tapetes vermelhos com a pele perfeita já assumiram publicamente que enfrentam ou já sofreram com o problema. Entre elas estão a atriz Millie Bobby Brown, a modelo Rosie Huntington-Whiteley a cantora Doja Cat e a influenciadora Rafa Kaliman.
O que causa a acne?
O fato de serem todas mulheres não é coincidência. O principal fator para o surgimento da acne são alterações hormonais. É por isso que a condição atinge principalmente os adolescentes. Cerca de 60% das meninas e 70% dos meninos sofrem com cravos e espinhas na puberdade.
A questão é que enquanto na adolescência os homens são mais suscetíveis, devido ao pico de hormônios andrógenos, que são responsáveis pelo início do funcionamento das glândulas sebáceas, na idade adulta, as mulheres são mais propensas às oscilações hormonais e à acne. Tanto que a acne adulta, aquela que afeta pessoas com mais de 25 anos, costuma ser chamada de acne da mulher adulta, pois afeta 54% das mulheres dessa faixa etária, segundo informações do Journal of American Academy of Dermatology.
Outras causas da acne
Mas as alterações hormonais não são o único fator para o desenvolvimento da acne na idade adulta. Estresse, tabagismo, alimentação, uso de medicamentos, cuidados com a pele, exposição solar e à poluição e oleosidade são outros fatores de risco.
Normalmente, a acne aparece no rosto, nas costas, no tórax e nos ombros. Segundo o médio Renato Soriani, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), na adolescência, os locais mais acometidos são a região “T” da face (testa, nariz e parte superior das bochechas) e as costas.
— Na mulher adulta, a acne costuma aparecer com mais frequência na moldura do rosto, que é a região do queixo, mandíbula e pescoço.
Quais são os tipos de acne?
Em qualquer fase da vida e local do corpo a acne pode se manifestar em quatro estágios principais, que variam de leve à grave. São eles: comedões, que são os cravos brancos ou pretos; pápulas, que são pequenas lesões elevadas e avermelhadas; pústulas, que são as famosas espinhas; nódulos e cistos, que são lesões maiores e que se expandem para camadas mais profundas da pele.
É importante mencionar que esses graus não são necessariamente progressivos. Isso significa que não é preciso apresentar primeiro os graus leves para depois evoluir para os níveis mais graves.
Qual é o tratamento para a acne?
A boa notícia é que independentemente da idade em que o problema aparece e do grau, há tratamento. E ele deve o mais precocemente possível.
— A acne tem cura e todos os quadros, mesmo os mais leves, precisam ser tratados. Isso muda a história da evolução e da formação de cicatrizes a longo prazo — afirma Crocco.
O tratamento varia de acordo com a gravidade. Casos leves, como os cravos ou espinhas pontuais, podem ser resolvidos com o uso de produtos tópicos com substâncias como ácido salicílico, peróxido de benzoíla, retinoides, antibióticos e ácido azeláico.
Quando o quadro não evolui bem o tratamento por via oral é associado, utilizando-se antibióticos específicos. Esse também é o tratamento recomendado para acnes mais graves, como nódulos e cistos. Caso os antibióticos não funcionem e se houver tendência a cicatrizes, é indicado o uso da isotretinoína oral.
Embora haja muita polêmica em relação ao uso desse medicamento, devido aos seus efeitos colaterais, os especialistas afirmam que o tratamento é eficaz e seguro, desde que feito sob orientação e supervisão médica.
— É uma medicação que exige cuidados na hora de usar, mas não é um medicamento perigoso — avalia Soriani.
Independentemente de ser tópico ou oral, é fundamental que o tratamento da acne seja prescrito por um dermatologista. Pode parecer preciosismo, mas a automedicação, mesmo com o uso de produtos tópicos pode envolver riscos. Os principais são: eczema, alergia, irritação, ressecamento excessivo e efeito rebote.
O principal objetivo do tratamento é evitar o desenvolvimento de cicatrizes, que além de afetarem negativamente a autoestima de um paciente que normalmente já tem uma autoestima baixa, são difíceis de tratar.
Os riscos da acne para a saúde
Além do impacto psicológico, a acne não tratada pode trazer riscos à saúde.
— A acne é uma infecção e uma inflamação. Se o quadro é muito difuso, pode causar dor e desconforto no paciente. Além disso, é uma porta aberta para a entrada de bactérias diretamente na circulação sanguínea — alerta Soriani.
É por esse isso que espremer as espinhas é fortemente contraindicado. Além de aumentar o risco de cicatriz, as mãos podem ser uma fonte de contaminação, aumentando a chance de infecção. Ficar mexendo no rosto também não é uma boa. Além de espalhar a sujeira, aumenta a oleosidade
Prevenção da acne
Quem tem a pele oleosa ou com tendência à acne precisa prevenir novos surtos. Isso inclui tanto a manutenção de uma rotina de cuidados com a pele quanto uma alimentação adequada.
— A pele é reflexo de tudo o que a gente faz. Por isso, a hidratação os cuidados alimentares são importantes. Existem estudos que mostram que dieta rica em carboidratos, aumenta o risco de acne, assim como a ingestão de uma carga elevada de proteína derivada do leite — pontua Soriani.
Outros cuidados incluem:
- Manter a pele higienizada e hidratada, com produtos que controlam a oleosidade;
- Não dormir com maquiagem;
- Usar filtro soltar diariamente;
- Fazer limpezas de pele periodicamente se houver muitos cravos.
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