Calor, doenças, poluição atmosférica: como as alterações climáticas afetam a saúde
Apelos crescentes para que o mundo enfrente as muitas formas como o aquecimento global afeta os seres humanos motivaram o primeiro dia dedicado à questão nas negociações da ONU
Por AFP — Paris
27/11/2023 04h00 Atualizado há 10 horas
O aquecimento global deve ser limitado à meta do Acordo de Paris de 1,5 graus Celsius "para evitar impactos catastróficos na saúde e prevenir milhões de mortes relacionadas com as alterações climáticas", segundo a OMS.
Calor pra cachorro: onda de calor exige cuidado redobrado com pets
No entanto, de acordo com os atuais planos nacionais de redução de carbono, o mundo está no caminho certo para aquecer até 2,9ºC neste século, afirmou a ONU esta semana.
Embora ninguém esteja completamente a salvo dos efeitos das alterações climáticas, os especialistas esperam que os maiores riscos estão em crianças, mulheres, idosos, migrantes e pessoas de países menos desenvolvidos que emitiram os gases do efeito estufa que menos provocam o aquecimento do planeta.
No dia 3 de dezembro, as negociações da COP28 em Dubai sediarão o primeiro “dia da saúde” já realizado nas negociações climáticas.
Calor extremo
Espera-se que este ano seja o mais quente já registrado na História. E à medida que o mundo continua aquecendo, a expectativa é que as ondas de calor sejam ainda mais frequentes e intensas. Acredita-se que o calor tenha causado mais de 70 mil mortes na Europa durante o verão de 2022, disseram pesquisadores esta semana, revisando o número anterior de 62 mil.
Em todo o mundo, as pessoas foram expostas a uma média de 86 dias de temperaturas potencialmente fatais no ano passado, de acordo com o relatório Lancet Countdown. O número de indivíduos com mais de 65 anos que morreram devido ao calor aumentou 85% entre 1991-2000 e 2013-2022, acrescentou o documento.
Até 2050, mais de cinco vezes mais pessoas morrerão devido ao calor todos os anos num cenário de aquecimento de 2ºC, previu o Lancet Countdown.
- Morte súbita em jovens: por quê?
Mais secas também irão provocar o aumento da fome. No cenário de aquecimento de 2°C até ao final do século, mais 520 milhões de pessoas sofrerão de insegurança alimentar moderada ou grave até 2050. Entretanto, outros fenômenos climáticos extremos, como tempestades, inundações e incêndios, continuarão a ameaçar a saúde em todo o mundo.
Poluição do ar
Quase 99% da população mundial respira um ar que excede as diretrizes da OMS para a poluição atmosférica. A poluição atmosférica exterior, causada pelas emissões de combustíveis fósseis, mata mais de quatro milhões de pessoas todos os anos, segundo a organização.
Isso aumenta o risco de doenças respiratórias, acidentes vasculares cerebrais, doenças cardíacas, câncer de pulmão, diabetes e outros problemas de saúde, representando uma ameaça que tem sido comparada ao tabaco.
Os danos são causados em parte por micropartículas PM2,5, provenientes principalmente de combustíveis fósseis. Essas pequenas partículas vão para os pulmões, onde podem entrar na corrente sanguínea.
Embora os picos de poluição atmosférica, como os observados na capital da Índia, Nova Deli, no início deste mês, desencadeiem problemas respiratórios e alergias, acredita-se que a exposição a longo prazo seja ainda mais prejudicial. Contudo, nem tudo são más notícias.
O relatório Lancet Countdown concluiu que as mortes por poluição do ar causada por combustíveis fósseis diminuíram 16% desde 2005, principalmente devido aos esforços para reduzir o impacto da queima de carvão.
Doenças infecciosas
A mudança climática significa que os mosquitos, as aves e os mamíferos irão vagar para além dos seus habitats anteriores, aumentando a ameaça de que possam espalhar doenças infecciosas com eles.
As enfermidades transmitidas por mosquitos que apresentam maior risco de propagação devido às alterações climáticas incluem dengue, chikungunya, zika, vírus do Nilo Ocidental e malária. O potencial de transmissão apenas da dengue aumentará 36% com o aquecimento de 2ºC, alertou o relatório Lancet Countdown.
Tempestades e inundações criam águas estagnadas que são criadouros de mosquitos e também aumentam o risco de doenças transmitidas pela água, como cólera, febre tifóide e diarreia.
Os cientistas também temem que os mamíferos que se deslocam para novas áreas possam partilhar doenças entre si, criando potencialmente novos vírus que poderão, então, passar para os humanos.
Saúde mental
A preocupação com o presente e o futuro do planeta em aquecimento também provocou o aumento da ansiedade, da depressão e até do stress pós-traumático – especialmente para aqueles que já lutam com estas doenças, alertaram os psicólogos.
Nos primeiros 10 meses do ano, as pessoas pesquisaram online o termo “ansiedade climática” 27 vezes mais do que durante o mesmo período de 2017, segundo dados do Google Trends citados pela BBC esta semana.
O calor extremo, a poluição atmosférica e a crescente propagação de doenças infecciosas mortais são apenas algumas das razões pelas quais a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou as alterações climáticas como a maior ameaça à saúde que a humanidade enfrenta.
Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2023/11/27/calor-doencas-poluicao-atmosferica-como-as-alteracoes-climaticas-afetam-a-saude.ghtml
Comentários
Postar um comentário