CAMINHADA OU CORRIDA? MUSCULAÇÃO OU CROSSFIT? ESPECIALISTAS TIRAM DÚVIDAS SOBRE ATIVIDADES FÍSICAS POPULARES
Caminhada ou corrida? Musculação ou crossfit? Especialistas tiram dúvidas sobre atividades físicas populares
Não há resposta única, dizem médicos, preparadores físicos e fisioterapeuta: o melhor treino depende das características de cada pessoa
Por Maíra Rubim — Rio de Janeiro
27/08/2023 04h31 Atualizado há 2 meses
Num passeio pela orla e por outros espaços abertos da cidade, é díficil não encontrar alguém praticando corrida ou caminhada. Nas academias, as salas de musculação e os boxes de crossfit estão sempre cheios. Que a atividade física está diretamente associada à qualidade vida, ajuda a reduzir o risco de doenças, melhora o condicionamento do corpo e ainda favorece o convívio social, (quase) ninguém mais duvida. Mas qual é a atividade física ideal? Como tudo na vida, não há uma resposta única, e muitos aspectos devem ser analisados antes de se fazer a escolha. Para ajudar quem está disposto a começar a movimentar o corpo ou já faz exercícios sem ter certeza de estar no caminho certo, O GLOBO-Barra ouviu especialistas e praticantes de atividades que, embora sejam muito populares, costumam despertar uma série de dúvidas.
Entre exercícios aeróbicos e de força, vale a pena ficar com os dois, já que cada um tem sua função. É o que explica André Siqueira, cirurgião ortopedista especialista em medicina esportiva.
— Sempre tentamos associar as atividades aeróbicas com as de fortalecimento: caminhada, corrida, bicicleta ou natação com musculação ou crossfit — diz.
O especialista diz que a caminhada é a mais simples de todas, sendo necessário apenas um par de tênis com um bom amortecedor para praticá-la. Avalia também que a atividade costuma ser um bom ponto de partida para sair do sedentarismo. Segundo ele, qualquer pessoa que não tenha problema ortopédico nos membros inferiores pode fazer a atividade. Quem tem alguma lesão, artrose ou fascite, porém, deve se abster ou percorrer distâncias curtas.
— Quando a pessoa toma gosto, costuma querer se desafiar partindo para caminhadas maiores ou corridas, participar de eventos, sempre buscando se superar. É importante tomar cuidado porque, quanto maior a distância, geralmente acima de sete quilômetros, maiores as chances de lesões. É interessante consultar um ortopedista, que pode até orientar sobre que tênis usar, ou um professor — diz.
De acordo com ele, caminhar no asfalto é o mais fácil, já que basta escolher o lugar de sua preferência e começar. Mas, para quem tem facilidade de acesso à praia, ele recomenda que os treinos sejam feitos na areia:
— Sempre descalço, para trabalhar a musculatura do pé. É bom intercalar asfalto e areia, porque torna o treino menos repetitivo e com menos impacto. Mas a areia tem que ser fofa: a dura pode ter uma inclinação que desequilibre o corpo e cause lesões.
Moradora do Jardim Oceânico, a advogada Lara Godinho, de 36 anos, estava acostumada a correr, mas trocou a atividade pela caminhada após uma bursite no quadril.
— Corria e me lesionei em 2017. Quando pude voltar a fazer atividade, comecei com caminhadas de cinco quilômetros, quatro vezes por semana. É minha terapia e não tem tanto impacto — relata.
Já a médica Luísa Gouvêa, de 28 anos, moradora da Freguesia, descobriu a corrida há dois anos, quando quis fazer outra atividade além da musculação.
— Sempre gostei de academia, treino desde os 16 anos. Mas correr é a minha atividade preferida; a endorfina me dá muito prazer. É uma competição comigo mesma. Busco melhorar meu tempo. Comecei na esteira e hoje só corro na Praia da Barra — diz.
Siqueira diz que a liberação de endorfina na corrida serve também como terapia para a mente e proporciona resposta rápida em termos de ganho de resistência, condicionamento físico e queima calórica. Mas nem todos podem praticá-la. Quem está acima do peso deve emagrecer antes, para reduzir as chances de lesão.
— A corrida é muito dinâmica. Quem tem patologias nos membros inferiores ou na coluna também não deve praticá-la. Para quem já tem artrose estabelecida e sintomática nessa parte do corpo, a corrida não é indicada, assim como nenhuma atividade com impacto — alerta.
Dudu Netto, diretor técnico da BodyTech, avalia que a caminhada é a atividade física mais democrática:
— O gasto calórico na corrida é muito alto, e há um ótimo trabalho cardiovascular. Mas o ideal é sempre começar pela caminhada.
Coordenador do curso de Educação Física da Unigranrio, Cícero Freitas salienta ainda que a caminhada pode preceder a corrida:
—Qualquer atividade física precisa de uma variação de estímulo, e a caminhada pode ser ideal para um treino regenerativo.
Nathalie Scherer, especialista em medicina integrativa e esportiva, só faz uma ressalva a respeito de caminhada:
— A pessoa tem que sair de casa com esse objetivo, e não achar que porque faz muita coisa a pé está caminhando. Os benfícios são aumento da capacidade pulmonar e manutenção de ativação do metabolismo. Já a corrida traz resistência física, melhora cardiovascular e redução da glicose, mas não deve ser praticada por cardiopatas. É interessante fazer avaliação médica antes de começar.
Musculação e crossfit: mesmos objetivos, dinâmica diferente
Os quatro profissionais entrevistados para esta reportagem foram unânimes ao afirmar que a musculação deve ser praticada por todos. Isto porque a atividade é essencial para o fortalecimento do corpo e permite adaptações para quem tem algum tipo de lesão ou patologia. A partir dos 12 anos, dizem os especialistas, ela está liberada para qualquer pessoa.
— Quanto mais cedo a pessoa começa a fazer a atividade, melhor, para que vire um hábito — diz André Siqueira. — Depois dos 30 anos, nossa musculatura perde força, e o exercício auxilia na sua manutenção e ajuda a prolongar a independência, para quando a pessoa chegar aos 80 poder continuar fazendo suas atividades e necessidades sem ajuda de ninguém.
O exercício ainda ajuda a prevenir lesões e desgastes dos músculos, que com o passar do tempo ficam mais suscetíveis a tendinites, por exemplo. Os idosos que têm mais massa correm menos riscos de quedas acidentais. A médica Nathalie Scherer frisa que a atividade melhora a composição corporal:
— Ela permite a troca da gordura pela massa muscular. Acelera o metabolismo, melhora a remodelação óssea, a pressão arterial e o colesterol, diminui a hipertensão e trabalha a parte cardiovascular.
O profissional de educação física Cícero Freitas explica que os exercícios são os mesmos que qualquer pessoa faz em seu dia a dia; o que muda é a intensidade com que cada um é realizado. E Dudu Netto afirma que fazer musculação duas vezes por semana já é o suficiente para proporcionar benefícios.
— Não precisa ficar uma hora na musculação. Uma série de oito a dez exercícios já faz atingir os objetivos. É pouco tempo para o benefício que a prática traz — assegura.
Diferentemente de sua irmã, Luísa, a advogada Laís Gouvêa, de 29 anos, começou a musculação dois anos atrás, e desde então não parou mais.
— Tive uma insuficiência venosa na perna esquerda, e os médicos queriam me operar. Comecei a musculação e consegui evitar a cirurgia. Nunca tinha feito e comecei a treinar com um personal. Tomei gosto e hoje me sinto muito mais disposta. Meus exames de sangue todos melhoraram, e de 27% de gordura corporal fui para 16% — relata.
Como não são todas as pessoas que gostam de musculação, um bom substituto é o crossfit, que se popularizou nos últimos anos. Profissionais apontam que, como o treino muda a cada dia e a atividade é coletiva, acaba atraindo quem entende que precisa fortalecer o corpo, mas não gosta de ideia de fazer musculação.
— Por mais que o foco seja em performance individual e desafio pessoal, um acaba incentivando o outro. Os exercícios melhoram o condicionamento cardiovascular, o condicionamento geral e a força, além de trabalhar o senso de comunidade. O importante no crossfit é que as individualidades e os limites sejam respeitados. Tem que tomar cuidado com o aspecto competitivo, para não exagerar — diz Dudu Netto.
O objetivo da musculação e do crossfit é o mesmo: ganho de força e massa muscular. No entanto, por ser mais dinâmica, com mais esforço aeróbico, inclusive pequenas corridas incluídas no treino, a atividade pode ser mais prazerosa para alguns.
— Os objetivos são iguais, trabalhados de formas diferentes. O crossfit usa cordas, barras, bolas. Tem muitos saltos também. Por isso, quem tem desgaste articular não deve praticá-lo. Os exercícios são mais difíceis de serem adaptados para quem tem limitações — diz o ortopedista e médico esportivo.
Nathalie observa que a modalidade demanda capacidades metabólica, pulmonar e cardiovascular, mas deve ser evitada também por quem tem lesões na coluna e problemas cardíacos.
— Quem faz crossfit acaba formando uma espécie de família. Os desafios são diários e trabalham o corpo todo. É um exercício muito completo. Mas quem gosta de competição pode acabar tendo lesões por querer pegar mais peso. É um esporte que precisa ser muito bem orientado. E a pessoa tem que passar por uma avaliação médica para saber se está apta a realizá-la — frisa.
Freitas aponta um outro aspecto: no crossfit, é bom que o próprio aluno esteja mais atento aos seus movimentos e entenda até onde pode ir.
— Na musculação é mais fácil corrigir os erros do aluno do que na atividade coletiva — pondera.
É possível até intercalar musculação e crossfit, como faz a médica Ana Carolina Bernardes, de 29 anos. Ela começou o crossfit há sete. Já era praticante de musculação e acabou trocando-a pela novidade, mas de vez em quando volta a praticá-la:
— Gosto muito de estar em grupo. Às vezes estou cansada, mas as pessoas me motivam. É um exercício de alta performance, e os movimentos são mais difíceis que os da musculação. Mas quando o treino não se encaixa na minha agenda, vou para a musculação, que tem horário mais flexível.
Fonte:https://oglobo.globo.com/rio/bairros/barra/noticia/2023/08/27/caminhada-ou-corrida-musculacao-ou-crossfit-especialistas-tiram-duvidas-sobre-atividades-fisicas-populares.ghtml
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