'Descobri um câncer de mama aos 21 anos e a médica disse que eu tinha 6 meses de vida'
A designer Giulianna Nardini, 25, foi diagnosticada com câncer de mama triplo negativo, um dos tipos mais agressivos da doença. Ela passou por quimioterapia, cirurgia para retirada das mamas e radioterapia. Atualmente, está sem células cancerígenas no organismo
Por Alice Arnoldi, Colaboração Para Marie Claire — São Paulo
03/10/2023 18h05 Atualizado há um mês
A designer Giulianna Nardini tinha 21 anos quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama triplo negativo. Ela decidiu recorrer a uma segunda opinião médica após descobrir a doença, só que acabou tendo o pior prognóstico em relação ao seu quadro.
“Fui ouvir uma outra pessoa, supostamente mais experiente, e me deparei com a notícia de que eu não sobreviveria mais do que seis meses. Foi um diagnóstico bem cruel. Eu decidi que faria o tratamento com alguém que acreditasse na minha cura”, lembra, quatro anos depois.
Giulianna procurou por outra oncologista e encontrou a médica que a acompanhou durante o tratamento. Diferentemente da anterior, a profissional disse que a designer tinha chances de ficar curada.
A descoberta do câncer
Giulianna sempre sentiu incômodo nas mamas no período pré-menstrual, o que associava à TPM. “Só que um dia eu estava saindo do banho, relei no meu peito e palpei algo muito grande. Na hora, pensei que tinha alguma coisa errada”, diz.
A designer procurou por um mastologista de sua confiança. Ele explicou que dificilmente seria algo preocupante pela idade de Giulianna, mas pediria um ultrassom com biópsia devido ao tamanho do nódulo. O exame mostrou que o tumor já tinha mais de 6 centímetros e que era um câncer de mama triplo negativo.
“Trata-se de um subtipo do câncer de mama que não precisa dos receptores de estrógeno e progesterona e nem da proteína HER2 para se desenvolver. Ele é um dos tumores mais agressivos, porque a divisão celular é mais rápida, em comparação aos que são hormonais”, explica a mastologista Fernanda Perez Magnani Leite, do A.C. Camargo Cancer Center.
Essa característica do tumor também faz com que as células cancerígenas se espalhem com mais facilidade pelas regiões próximas das mamas. No exame de Giulianna não constava metástase da doença.
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A designer esperou 20 dias entre a primeira consulta com o mastologista e o exame que confirmou o câncer de mama. A alta velocidade no diagnóstico fez com que ela pudesse começar o tratamento rapidamente e tivesse ainda mais chances de ficar curada. De acordo com a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA), a probabilidade de cura chega a 95%, caso a pessoa seja diagnosticada precocemente.
A jornada contra o câncer de mama
Fernanda Perez Magnani Leite explica que o tratamento do câncer de mama varia de acordo com o estágio da doença e o seu tipo. No caso do triplo negativo, em tumores com mais de 1 centímetro, inicia-se o processo com quimioterapia, que pode ser associada à imunoterapia.
Foi o que aconteceu com Giulianna. Ela começou o tratamento com a intervenção quimioterápica para diminuir o tamanho do tumor e, posteriormente, conseguir operar. “Fiz 12 sessões brancas, quatro vermelhas, depois a adenomastectomia bilateral e coloquei a prótese. Depois, passei por 25 sessões de radioterapia”, enumera.
Antes de iniciar o tratamento, a designer precisou congelar óvulos para preservar sua fertilidade, uma vez que a quimioterapia pode tornar a mulher infértil.
A luta contra o câncer de mama fez com que o corpo de Giulianna passasse por diversas mudanças, como a perda do cabelo. “O processo de ver os fios caindo foi impactante, porque saíam tufos. A minha franja saiu inteira na minha mão. Eu não podia lavar ou pentear o cabelo”, lembra.
Giulianna decidiu raspar a cabeça para que a queda dos fios parasse. “Naquele momento, eu entendi que o meu cabelo estava caindo porque estava morrendo o câncer que eu tinha”, conta.
O medo do retorno
Segundo a designer, o câncer não está mais presente no seu corpo. No entanto, ela só entra em remissão da doença dez anos após a data em que se constatou o fim das células cancerígenas em seu organismo.
Esse período após o câncer de mama tem sido desafiador para ela, principalmente pelo receio de a doença retornar. Inclusive, esse medo se potencializou por ela ter a mutação genética chamada BRCA1.
“BRCA1 é a proteína reparadora do DNA. Logo, quando ele está danificado, essa proteína tem a capacidade de consertá-lo. Já quando há uma mutação nela, a proteína perde a capacidade de identificar o erro no DNA da célula, o que pode fazer com que ela se multiplique de forma desorganizada, originando o câncer de mama ou de ovário”, explica Fernanda Perez Magnani Leite.
A mãe e a avó de Giulianna também tinham essa mutação genética e vieram a falecer devido ao câncer. “Eu vivo com esse medo de quando vai chegar a minha vez. É uma batalha dentro da minha cabeça entre viver o máximo porque pode ser o último dia e não querer fazer nada porque vai que isso me deixa doente”, reflete.
A terapia tem sido fundamental para ela nesse momento. “Me sinto um pouco perdida no pós-câncer. Mas tem sido um período para me reencontrar, me reconhecer e até mesmo criar uma nova versão de mim”, pondera.
Durante o tratamento da doença, Giulianna precisou parar de trabalhar, mas continuou a faculdade, porque isso a ajudava a lembrar que ela era mais do que uma paciente oncológica. Atualmente, ela já conseguiu voltar para as atividades que gostaria e, cada vez mais, tem buscado uma rotina que a ajude a se manter saudável tanto fisicamente quanto psicologicamente.
Fonte:https://revistamarieclaire.globo.com/saude/noticia/2023/10/descobri-um-cancer-de-mama-aos-21-anos-e-a-medica-disse-que-eu-tinha-6-meses-de-vida.ghtml
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