FALE MAIS DE DESEJO EM QUALQUER IDADE: AS 10 DICAS DA GINECOLOGISTA MARIANNE PINOTTI PARA A SAÚDE DA MULHER

  





FALE MAIS DE DESEJO EM QUALQUER IDADE: AS 10 DICAS DE MARIANNE PINOTTI PARA A SAÚDE DA MULHER

Ginecologista dá conselhos sobre acompanhamento clínico, sexualidade e gravidez

 

POR MARIANNE PINOTTI

11/09/2023

Ginecologistas costumam ser vistas como porto seguro para milhares de mulheres. Marianne Pinotti é assim. Uma das maiores do país, conhece como poucos a saúde da mulher. É ela a responsável pelas dicas desta semana do Tem que Ler, o novo produto do GLOBO, exclusivo para assinantes.

Ao longo das próximas semanas, o Tem que Ler trará dicas de outros oito grandes médicos brasileiros, de especialidades diferentes, dando dicas práticas e certeiras sobre o que é preciso fazer para viver mais.

O Tem que Ler sobre saúde é só o primeiro de uma série de temas que o GLOBO trará para você nos próximos meses. O conteúdo virá em diversos formatos: textos, vídeos, jogos, interatividade.

Leia abaixo as 10 dicas de Pinotti, que é doutora em obstetrícia e ginecologia e mastologia pela Universidade de São Paulo (USP) e cirurgiã do Grupo de Oncologia mamária e pélvica da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

 

QUEM VÊ CARA NÃO VÊ DOENÇAS TRANSMITIDAS PELO SEXO

Não podemos esquecer que “quem vê cara não vê as ISTs (infecções sexualmente transmissíveis)”, e que, infelizmente, há uma prevalência alta dessas infecções em nossa população. Minha dica é usar sempre preservativos em qualquer início de relacionamento ou numa transa casual. E, para deixar de utilizá-los, o casal deve fazer exames, se consultar com uma ginecologista no caso das mulheres para realizar vulvoscopia, colposcopia e citologia oncológica (teste de papanicolaou) e buscar um urologista, no caso dos homens, para realizar a peniscopia. Com esses exames negativos, e a discussão sobre métodos contraceptivos, o casal pode avaliar dispensar a proteção. Acrescento neste tema a importância da prevenção de câncer de colo de útero e de garganta, o segundo principalmente em homens jovens, que podem ser definidos como ISTs, já que em cerca de 90% das vezes é causado pelo vírus do papiloma humano (HPV). Se prevenirmos o HPV por meio das vacinas disponíveis nos postos de saúde, usarmos preservativos e/ou tratarmos as infecções causadas por ele, não teremos esses tumores.

 

ABRA A CABEÇA, FALE DE SEXO COM SEUS FILHOS

Informações sobre prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, métodos anticoncepcionais e estética íntima estão amplamente disponíveis nas redes sociais e na mídia, mas qual o significado disso para nossos jovens? Será que a “educação sexual” dessa forma tem funcionado? Há poucos meses foi publicada uma pesquisa que perguntou para meninas o que elas almejavam em sua primeira relação sexual e a resposta de mais de 70% foi que agradar o parceiro era seu maior desejo. Começamos bem mal! Precisamos urgentemente mudar a forma de abordagem da sexualidade na adolescência, passar a falar de desejo próprio, envolvimento, ternura e afeto, e nas entrelinhas colocar as questões mais técnicas e médicas. Talvez dessa forma tenhamos mais sucesso com as gerações futuras, retirando o sexo de sua posição de proibição, causador de doenças e gravidez indesejada e o colocando em seu devido lugar de afeto e prazer.

 

A HORA CERTA DE IR AO GINECOLOGISTA É AGORA

Na maioria dos casos, a primeira consulta na ginecologista deve ocorrer em torno dos 12 anos de idade ou quando a menina tiver algum sintoma ginecológico antes. Alguns desses sinais mais comuns são: corrimento, surgimento do broto mamário doloroso, alterações de humor e sono e a primeira menstruação. Este primeiro contato serve para detectarmos problemas ligados ao aparelho reprodutivo, mas, no meu ponto de vista, não é apenas isso. Serve principalmente para informar e criar um vínculo de confiança com esta jovem mulher, que poderá ver em sua médica um “porto seguro” para discutir questões que a afligem e aprender a cuidar de seu corpo e mente nesta nova fase de sua vida.

 

SEXO DEPOIS DOS 60 É MUITO BOM

A vida sexual, para além da questão reprodutiva, desperta prazer e afetividade. Tanto homens como mulheres sentem-se valorizados quando seu desejo se encontra em atividade, em qualquer fase da vida. Temos hoje conhecimento suficiente e recursos disponíveis para ajudar as mulheres a se adaptarem às mudanças na vida sexual no pós-menopausa. Infelizmente, muitos profissionais de saúde ainda não abordam as questões da esfera sexual nessa época, embora façam parte da saúde feminina em qualquer idade.

Os problemas mais comuns que podem envolver esse momento são a dificuldade nas fases de desejo, excitação e de atingir o orgasmo, o ressecamento vaginal e a dor na penetração.

Mas a mulher não precisa sofrer com esses sintomas. A medicina tem avançado nessa área e hoje se sabe que há tratamentos e hábitos de vida que podem virar o jogo. Eles incluem desde exercícios físicos diários e alimentação saudável, cuidados com a saúde mental, aconselhamento sexual com ou sem o parceiro, até tratamento hormonal que pode ser utilizado em baixas doses, por um período determinado.

 

PÍLULA, DISPOSITIVO, ESTERILIZAÇÃO: O MÉTODO IDEAL É DIFERENTE PARA CADA UMA DE NÓS

A possibilidade de planejar o momento de ter filhos e de evitar a gravidez indesejada trouxe para as famílias e, principalmente, para as mulheres, infinitas possibilidades de desenvolvimento pessoal e profissional. Mas, para que este planejamento ocorra de maneira correta, é fundamental que os casais tenham conhecimento dos métodos existentes e de como eles funcionam. O método ideal é diferente para cada uma. É aquele que oferece segurança, não cria riscos à saúde e está de acordo com os conceitos éticos, morais e até religiosos do casal. Eles se dividem em naturais e de barreira, hormonais, dispositivos intrauterinos e esterilização feminina e masculina. Se pensarmos que passamos cerca de 40 anos de nossa vida com necessidade de anticoncepção, entendemos a importância deste tema.

 

QUER UM FILHO? CUIDE DE SUA SAÚDE ANTES, DURANTE E DEPOIS DA GESTAÇÃO

Desde o momento em que se decide engravidar, já temos alguns cuidados a tomar. Somente o acompanhamento pré-natal durante a gestação não é suficiente, precisamos garantir que a futura mamãe está saudável, de preferência se alimentando bem, fazendo exercícios físicos e realizando a reposição de ácido fólico desde cerca de três meses antes de começar a tentar engravidar. Além disso, é importante ter em dia seu calendário vacinal e suas sorologias para doenças infectocontagiosas negativas (principalmente toxoplasmose). Já durante a gravidez, o acompanhamento pré-natal e o parto hospitalar tornaram segura esta fase da vida das mulheres, antigamente de alto risco. Desde a notícia da gestação, até o nascimento, as consultas e exames devem ser uma rotina. Neste tempo, haverá um espaço reservado para a discussão sobre a via de parto. Quando possível e seguro, o parto normal sem dúvida traz vantagens, mas a cesariana bem indicada pode ser salvadora de vidas. Nunca podemos esquecer que nós obstetras, mamães e papais somos os responsáveis por acompanhar o maior milagre da vida, que é o nascimento, lembrando sempre que nada deve ser mais importante do que o bem-estar da mãe e do bebê.

 

NÃO DESISTA: OS TRATAMENTOS PARA ENGRAVIDAR ESTÃO CADA VEZ MELHORES

As estatísticas mundiais mostram que 10% a 15% dos casais são inférteis, ou seja, têm dificuldades para engravidar. Essa incidência varia geograficamente e de acordo com muitos fatores, entre eles a atividade profissional das mulheres, que hoje adiam o projeto de ter filhos. As principais causas se dividem em: problemas com a ovulação (hormonais); obstrução das trompas; fatores imunológicos e de coagulação; fator masculino e a esterilidade sem causa aparente. Logo, não se trata de um diagnóstico simples. Os tratamentos disponíveis vão desde uma simples orientação sobre o período fértil até os mais complexos métodos de reprodução assistida, como fertilização in vitro e inseminação artificial. Por último, é importante lembrar que a infertilidade comporta medidas preventivas, que passam por hábitos de vida saudáveis, como boa alimentação, exercícios físicos, manutenção do índice de massa corpórea dentro da ideal, atenção no uso de medicamentos e cuidados com a saúde sexual, já que várias ISTs são causas de esterilidade. Assim os jovens casais poderão planejar sua família com tranquilidade e, se aparecerem problemas, eles serão mais facilmente solucionados.

 

SEM PRESSÃO: CONGELE SEUS ÓVULOS SE QUISER ENGRAVIDAR MAIS TARDE

Com a modernidade e a presença cada vez mais marcante das mulheres no mercado de trabalho, a ideia de maternidade muitas vezes precisa esperar. Mas, diferente dos homens, nós temos um limite natural em torno de nossos 40 anos, quando podemos não conseguir mais engravidar. Nós nascemos com cerca de 7 milhões de óvulos e, perto dos 40 anos, serão somente 25 mil. E, além de quantidade, perdemos também em qualidade.

Mas podemos hoje, com segurança, aumentar mais alguns anos nessa fertilidade. A solução mais moderna e indicada para essa questão é o congelamento de óvulos jovens, até os 35, 36 anos. Assim, mesmo que se decida uma gestação após os 40, os óvulos serão “jovens”. As taxas de sucesso de reprodução assistida em uma mulher entre 40 e 42 anos, por exemplo, é de 20%, mas com óvulos congelados até os 35 anos essa taxa sobe para 60%. Tenho hoje como rotina uma conversa com minhas pacientes que estão entre seus 30 a 35 anos, sem perspectiva neste momento de engravidar, mas que querem ser mães. Não podemos perder este momento decisivo.

 

USE TODAS AS FERRAMENTAS (NA HORA CERTA) PARA EVITAR O CÂNCER DE MAMA

É importante deixar claro que todas nós mulheres temos risco para câncer de mama e acabar com a ideia de que só quem tem casos na família está sujeita. Sabemos que existem mulheres com risco mais alto (cerca de 10% dos casos), e essas precisam ser avaliadas de forma específica. Mas, diferente do câncer de pulmão, cuja principal causa é o tabagismo, e do câncer de colo de útero, cujo causador é o vírus HPV, o câncer de mama é uma doença multifatorial, ligada à vida moderna, ao perfil hormonal e metabólico e ao estresse. Por isso, dificilmente conseguimos controlar seu aparecimento. A principal arma que temos contra este inimigo é o diagnóstico precoce, ou seja, encontrar o tumor pequeno, que ainda não “soltou” células para a circulação. Nesse momento, temos alta possibilidade de cura, com tratamentos menos agressivos. Para isso, devemos iniciar nosso rastreamento (mamografia de rotina) aos 40 anos e realizá-lo anualmente. Podemos e devemos fazer o autoexame e frequentar a ginecologista ou mastologista uma vez por ano, porém é imprescindível a mamografia.

 

MENOPAUSA: NINGUÉM TEM QUE SOFRER COM FALTA DE LIBIDO E ONDA DE CALOR

Vocês já pensaram que nós vamos viver um terço de nossas vidas após a nossa última menstruação (menopausa)? A parada da produção fisiológica de hormônios sexuais (climatério) acarreta mudanças em vários aspectos: físico, orgânico, psicológico e inclusive na sexualidade. A maior parte de nós apresenta sintomas leves e moderados, que duram 2 ou 3 anos e que devem ser observados e tratados de acordo com cada caso. Os mais comuns são as ondas de calor, alterações do sono, depressão, ansiedade, irritabilidade, cansaço, dificuldades de libido e orgasmo, ressecamento vaginal, dores musculares e articulares, palpitação e falta de ar, entre outros. É fundamental a orientação médica neste momento, para diagnóstico preciso, avaliação clínica e exames laboratoriais e de imagem para garantir que a saúde esteja em dia. Com isso, pode ser feita a sugestão de tratamento, que não se resume à reposição hormonal – aliás essa terapia é coadjuvante no tratamento dos sintomas da menopausa. A mulher não precisa sofrer com a baixa de libido da menopausa nem com ondas de calor. Há inúmeras opções, que vão de cremes a aplicações de lasers.

Fonte:https://infograficos.oglobo.globo.com/tem-que-ler/sexo-saude-da-mulher-e-menopausa-dicas-da-ginecologista-marianne-pinotti.html?

 

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