Microbiota intestinal: desequilíbrio entre bactérias do sistema digestivo ameaça a saúde
Estudo revela que consumo de alimentos industrializados está relacionado à diminuição da população de microrganismos do intestino humano. Veja como proteger esse delicado equilíbrio
Por Flávia Ribeiro — Rio de Janeiro
31/10/2019 16h22 Atualizado há 3 ano
Interferem negativamente na microbiota
- Uso indiscriminado de antibióticos:
- Os antibióticos não discriminam entre bactérias boas e ruins, eles matam todas. É claro que eles são fundamentais, antes deles morria-se cedo de doenças que hoje são tratáveis. Mas seu uso deve ser feito com muito critério - explica o médico. - Hábitos alimentares, especialmente com o consumo de alimentos ultraprocessados, desprovidos de fibras.
- Estresse.
- Má alimentação.
- Bebida alcoólica.
- Excesso de exercício físico (alto consumo de oxigênio).
Condições que podem sofrer influência do desequilíbrio na microbiota
- Obesidade;
- Diabetes tipo 2;
- Doenças cardiovasculares;
- Doenças gastrointestinais;
- Alguns tipos de câncer;
- Doenças autoimunes;
- Úlcera;
- Alzheimer;
- Depressão;
- Autismo.
Como manter o equilíbrio?
A nossa microbiota intestinal é reflexo da nossa dieta. É o que explica o médico Dan Waitzberg, nutrólogo e professor do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da USP. Se queremos uma microbiota saudável, devemos ter uma alimentação saudável e balanceada, com o bom e velho prato colorido e apostando na máxima que pede: "Descasque mais, desembale menos". Waitzberg avalia ainda que a moda dos probióticos, alimentos à base de microrganismos vivos, pode não ser tão benéfica quanto se pensa e que deveríamos investir mais no consumo de prebióticos, ou alimentos com fibras não digeríveis pelos seres humanos, como frutas, verduras, legumes e leguminosas.
- Probióticos não devem ser usados indiscriminadamente. Eles mesmos podem desenvolver um desequilíbrio na microbiota. Devem ser receitados de acordo com as necessidades de cada indivíduo, a partir de uma análise de sua saúde e de sua microbiota - afirma Waitzberg, que faz ainda ressalvas em relação ao kefir e à kombucha caseiros. - Eles podem estar contaminados com microrganismos ruins para o ser humano. Claro que eles têm propriedades, muitas ainda em estudo. Mas não podem ser tomados indiscriminadamente, e sim aplicados de forma criteriosa na medicina.
Já o consumo diário de alimentos ricos em prebióticos faz toda a diferença na saúde, segundo o médico nutrólogo.
- Os prebióticos têm várias funções. São substrato para a fermentação de microrganismos comensais ou simbióticos, ou seja, bactérias do bem. São ainda degradados em ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato, que é um agente imunomodulador, que reduz estados inflamatórios do intestino - ensina ele, lembrando ainda que além dos probióticos e prebióticos, os psicobióticos, que atuam no cérebro, estão sendo amplamente estudados. - O estudo da microbiota vai revolucionar a medicina e a saúde nos próximos anos - acredita.
Mas o que seriam os prebióticos e onde são encontrados? São fibras como fos e inulina, não digeríveis pelos seres humanos. Nutricionista e colunista do EU Atleta, Cris Perroni explica onde elas podem ser encontradas.
- As fibras estão nas frutas, verduras, legumes, cereais integrais, farelos e leguminosas. O ideal é ingerir pelo menos cinco porções diárias de frutas, verduras e legumes e 40 ml água por kg peso por dia. Estudos realizados com prebióticos mostraram maior produção intestinal de ácidos graxos de cadeia curta, associados ao aumento da saciedade e à consequente redução da ingestão alimentar - afirma Cris, enumerando outros benefícios do consumo de fibras solúveis. - O consumo adequado de fibras, de 25 a 30 gramas por dia, está associado à redução do colesterol sanguíneo, com aumento da excreção fecal de colesterol e ácidos biliares; a um melhor controle glicêmico, com redução da velocidade de absorção de carboidratos, aumento do bolo fecal, regularização do funcionamento intestinal, maior saciedade contribuindo para controle da ingestão alimentar, e menores níveis de proteína C reativa (marcador inflamatório).
Dicas para manter o equilíbrio da microbiota
- Apostar no bom e velho prato colorido, com comida feita em casa e menos alimentos ultraprocessados:
- Nos alimentos beneficiados, a fibra muitas vezes é retirada. E as fibras são fundamentais para a saúde intestinal - comenta Quilici. - Incluir mais fibras na alimentação e ficar atento aos prebióticos:
- Aspargos, alface, cebola, chicória e frutas em geral são fontes importantes de prebióticos, assim como outros vegetais e legumes. Uma mudança na alimentação pode fazer toda a diferença - diz Waitzberg. - Ingerir bastante água, pelo menos 40 ml água por quilo de peso por dia.
- Evitar adoçantes; açúcares; gorduras saturadas e frituras; e excesso de carne vermelha, que é rica em gorduras saturadas.
- Tomar cuidado com o uso excessivo de suplementos alimentares;
- Apostar em alimentos com propriedades anti-inflamatórios e antioxidantes, como gengibre, frutas vermelhas, alimentos fontes de vitamina A (ovos, atum, vegetais folhosos verde-escuros, frutas amarelo-alaranjadas e vermelhas) e alimentos fontes de zinco (mariscos, ostras, carnes vermelhas com moderação, fígado, miúdos, ovos, nozes, leite e leguminosas).
- Não abusar do álcool.
- Não fumar. O tabagismo é um inimigo do bom funcionamento intestinal.
- Fazer atividades físicas, mas sem exageros. O sedentarismo desequilibra a microbiota, mas exercícios em excesso, como no famoso overtraining, também.
Efeitos de uma microbiota saudável sobre o organismo
- Redução estados inflamatórios do intestino;
- Diminuição do colesterol sanguíneo;
- Melhor controle glicêmico;
- Regularização do funcionamento intestinal;
- Maior saciedade;
- Menores níveis de proteína C reativa (marcador inflamatório).
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