Saiba quais exercícios são recomendados para recuperados da Covid longa
Especialistas explicam como resgatar a qualidade de vida com treinamentos específicos para pacientes que tiveram sintomas prolongados da doença.
A Covid-19 ainda não está totalmente esclarecida pela comunidade médica global. A doença de transmissão respiratória pode provocar uma série de sintomas que vão além dos reflexos de danos aos pulmões, como a dificuldade para respirar.
Pessoas que sofrem com a chamada “Covid-19 longa” podem apresentar quadros que incluem alterações neurológicas, de comportamento, insônia, dores musculares e nas articulações.
Um novo estudo do Instituto Todos pela Saúde e pelo Hospital Israelita Albert Einstein aponta que mulheres e pessoas que tiveram mais de uma infecção pelo coronavírus podem ter risco aumentado de Covid longa.
Uma equipe técnica de preparadores físicos elaborou um protocolo de exercícios considerando as diversas especificidades de sintomas de pacientes que tiveram quadros graves da Covid-19. As atividades físicas moderadas têm como objetivo resgatar funções do organismo de acordo com o perfil de cada indivíduo.
O protocolo foi elaborado pelo preparador físico Rodrigo Sangion, CEO da Les Cinq Gym, em parceria com o médico Henry Dina, do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo.
“O objetivo é recuperar, gradativamente, aqueles que, mesmo liberados para a prática de exercícios físicos, ainda apresentam sequelas da doença, confusão mental, dor muscular, dormência ou formigamento em alguma parte do corpo, falta de ar, insônia e tontura”, explica Rodrigo.
Conheça quais exercícios são recomendados de acordo com cada tipo de sintoma prevalente:
Confusão mental
Embora a Covid-19 seja causada por um vírus de transmissão respiratória, estudos mostraram que parte dos pacientes pode apresentar sintomas de confusão mental, também chamada de “brain fog” ou “névoa mental”.
Estudos revelaram que o novo coronavírus tem a capacidade de invadir as células do sistema nervoso e provocar danos ao cérebro. O vírus desencadeia a resposta inflamatória no organismo que, quando exacerbada, pode danificar as células do próprio corpo.
Um estudo publicado na revista Cell também indicou que o sintoma de confusão mental pode estar relacionado à presença de moléculas inflamatórias no líquido cefalorraquidiano, fluido presente ao redor do cérebro e da medula espinhal.
O que pode ser feito: musculação (com algumas exceções de exercícios que exijam grande estabilidade ou deslocamento) e atividades cardiorrespiratórias moderadas. É permitido fazer aulas de bicicleta ergométrica e caminhar na esteira, desde que as mãos estejam apoiadas.
O que evitar: exercícios físicos ou modalidades que exijam grande estabilidade ou deslocamento, como lutas em geral, aulas de dança, circuitos de treinamento e avanço (exercícios para pernas e glúteos, comuns na musculação).
Dor muscular, dormência ou formigamento
Pacientes com a Covid-19 longa relatam a ocorrência de dores nos músculos e nas articulações que podem durar semanas ou meses.
Um estudo publicado no formato preprint, sem revisão por pares, mostrou que 1 em cada 10 pacientes com os sintomas prolongados da doença apresentaram dores musculares. Em relação às dores nas articulações, o número aumentou de 1 para cada 5 pessoas.
Outros pacientes desenvolvem sinais de formigamento ou dormência que estão relacionados a quadros de polineuropatia, uma disfunção de vários nervos periféricos do corpo causada pelo coronavírus.
A médica Luciana Castilho de Figueiredo, supervisora da fisioterapia da UTI do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, enfatiza a necessidade de reabilitação com a participação de uma equipe multiprofissional dos pacientes pós-Covid-19 graves, envolvendo fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos e nutricionistas.
“Sintomas como a perda de paladar e olfato já eram sinais de algo muito sério em relação ao hábito alimentar e agrava-se mais por causa da disfagia (dificuldade de engolir) decorrentes da intubação prolongada e traqueostomia”, disse Luciana em um comunicado.
O que pode ser feito: musculação com cargas baixas ou moderadas, alongamento, atividades cardiorrespiratórias sem sobrecarga (inclusive aulas de bicicleta ergométrica, desde que não haja muita resistência nos pedais) ou que desafiam a mobilidade, como circuitos de treinamento (também com cargas leves ou moderadas).
O que evitar: musculação com cargas elevadas, visando o aumento da massa muscular ou qualquer outra atividade física de alta intensidade, como lutas, ou que pedem saltos.
Falta de ar
Após a infecção, o coronavírus ataca as células dos pulmões, o que pode levar a lesões nos tecidos e comprometer a capacidade respiratória. A falta de ar é um sintoma preocupante da doença, as pessoas podem apresentar inicialmente sinais de cansaço excessivo, que evoluem para um estado ofegante, chiado no peito e dificuldade para respirar. Nos casos mais graves, podem ser necessários hospitalização e procedimentos como intubação e ventilação artificial.
Os especialistas orientam que as pessoas recuperadas que enfrentaram esse tipo de complicação retornem às atividades de forma moderada, respeitando os limites indicados pelo próprio corpo. “Com a prática, há um estímulo do bem-estar físico, mental, melhor condicionamento do sistema cardiorrespiratório, maior força muscular, além de ajudar com comorbidades da doença, como a obesidade”, disse Rodrigo.
O que pode ser feito: atividades físicas moderadas que não elevem a frequência cardíaca acima de 70% da capacidade máxima de esforço, como caminhadas.
O que não fazer: atividades físicas que exigem grande frequência cardíaca. É vetado, por exemplo, qualquer treino estabelecido no treinamento intervalado de alta intensidade, conhecido como HIIT (High Intensity Interval Training, na sigla em inglês).
Insônia
Um estudo realizado por especialistas da Universidade de Stanford, dos Estados Unidos, indicou que a insônia fez parte de uma ampla variedade de sintomas persistentes em mais de 70% dos pacientes, meses após a recuperação da fase inicial da Covid-19. Os cientistas analisaram resultados de 45 estudos diferentes publicados entre janeiro de 2020 e março de 2021.
O conjunto de dados reuniu um total de 9.751 pacientes, dos quais 83% haviam sido hospitalizados. Entre os sintomas mais comuns relatados estão falta de ar, fadiga e distúrbios do sono. Segundo o estudo, foram relatados 84 sintomas e sinais clínicos diferentes, incluindo perda do paladar e do olfato, distúrbios cognitivos, dores no peito e febre.
Segundo os especialistas, a atividade física regular pode contribuir para o aumento da qualidade do sono, prejudicada pela Covid-19.
“Quando a uma pessoa pratica atividades físicas como, por exemplo, musculação, corrida ou exercício cardio, automaticamente, está investindo em um fortalecimento de seus pulmões e sua musculatura, o que pode ajudar tanto nos sintomas da doença, quanto em uma recuperação mais rápida das sequelas”, afirmou Rodrigo.
O que pode ser feito: exercícios físicos que ajudam a relaxar, como ioga ou corrida de baixa intensidade, por cerca de meia hora, por exemplo.
O que evitar: atividades físicas intensas e de longa duração (mais de uma hora de corrida, por exemplo). Evitar principalmente atividades intensas em horários próximos ao sono (menos de duas horas antes de dormir).
Tontura de um modo geral ou ao se levantar
Além das dores de cabeça, confusão mental e lapsos de memória, pacientes com sintomas prolongados da Covid-19 podem apresentar tontura com frequência ou quando se levantam.
O que pode ser feito: atividades ou exercícios físicos na posição vertical (em pé) ou sentados, que não sejam de alta intensidade ou em deslocamento. Exemplo: bicicleta ergométrica.
O que evitar: qualquer atividade ou exercício físico na posição horizontal, deitado ou no solo, como ioga e abdominais. Evitar exercícios que exijam deslocamento, como corrida ou ciclismo convencional.
Fonte:https://www.cnnbrasil.com.br/saude/saiba-quais-exercicios-sao-recomendados-para-recuperados-de-covid-19-grave/
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