ALCOOL: NOVOS ESTUDOS MOSTRAM COMO O CONSUMO MODERADO PODE FAZER BEM AO CÉREBRO E IMPACTAR A LONGEVIDADE
Álcool: Novos
estudos mostram como o consumo moderado pode fazer bem ao cérebro e impactar na
longevidade
Os trabalhos também detalham o impacto
positivo de baixas doses na saúde do coração
Por Giulia Vidale —
São Paulo
02/06/2022 10h48 Atualizado 06/06/2
O consumo de álcool é um dos hábitos mais longevos da humanidade. Há pelo menos 10 mil anos, as pessoas tomam bebidas fermentadas. Os malefícios do consumo de álcool à saúde são um campo bem estabelecido. Já seus benefícios, ainda são controversos. Entretanto, diversos estudos publicados recentemente mostram que a ingestão moderada de bebida alcoólica pode reduzir o risco de doença cardíaca, diabetes e até mesmo demência.
Diversos estudos mostram que a ingestão moderada de álcool pode ajudar a proteger a função cognitiva e reduzir o risco de demência. Em doses moderadas, a bebida alcoólica pode diminuir a inflamação do cérebro e limpar as toxinas, inclusive as ligadas ao Alzheimer.
Um estudo revelou que baixas concentrações de álcool ativam o sistema glinfático, que funciona como protetor dos neurônios, as células cerebrais. Os benefícios foram encontrados na quantidade correspondente ao consumo de cerca de duas doses de bebidas alcoólicas ao dia para homens e uma para mulheres.
Os resultados mostraram que aqueles que consumiam uma quantidade moderada de álcool por dia - até dois copos de cerveja ou duas taças de vinho - tinham uma probabilidade 30% menor de desenvolver demência e 40% menor de sofrer de Alzheimer, em comparação com aqueles que não bebem. Segundo os pesquisadores, não foram observadas diferenças significativas de acordo com o tipo de bebida alcoólica consumida.
— Estudos que encontraram relação protetiva para o consumo moderado de álcool contra o Alzheimer justificam os achados supondo ações impeditivas para o acúmulo proteico sobre os neurônios envolvidos na cognição, evitando a condição que bloqueia a sinalização entre estas células — diz o médico Antonio Carlos do Nascimento, doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP.
Outra pesquisa, feita pelo Instituto Central de Saúde Mental de Mannheim, na Alemanha, pessoas com 75 anos ou mais que bebem diariamente uma cerveja ou uma taça de vinho correm menor risco de demência senil. A equipe chegou a essa conclusão após analisar mais de 3 mil pessoas dessa faixa etária, sem sinais de demência, que se consultaram com um clínico geral. Eles foram acompanhados depois de 18 meses e, novamente, depois de três anos. Nesse período, 217 indivíduos desenvolveram demência.
Álcool e coração
Segundo Nascimento, os melhores cenários da relação positiva entre o consumo moderado de álcool e benefícios para a saúde envolvem o sistema cardiovascular. Uma estudo sobre o impacto do consumo de álcool na saúde revelou que, ao longo de doze anos, pessoas que bebem moderadamente apresentaram 29% menos mortes por doenças cardiovasculares, em comparação aos abstêmios. O consumo moderado foi definido como quatro a catorze doses de bebidas alcoólicas semanais para homens e quatro a sete doses para mulheres.
O endocrinologista explica que a proteção seria dada pela modulação do colesterol, no que haveria um decréscimo da produção do LDL (o famosos "colesterol ruim", que contribui para a formação de placas) e elevação dos níveis de HDL (o "colesterol bom", classificado como protetor vascular). Estes efeitos seriam extensivos aos vasos do sistema nervoso central.
O consumo moderado também está associado à maior longevidade. No mesmo estudo, os bebedores moderados apresentaram 22% menos mortes por todas as causas.
Diabetes
Uma análise publicada na revista Diabetes Care observou uma redução "altamente significativa" do risco de diabetes tipo 2 entre pessoas que bebem álcool moderadamente, em comparação com pessoas que abusam do álcool e abstêmios, vinculando hábitos de vida saudáveis com aqueles que relatam uso moderado de álcool.
Vale lembrar que o consumo abusivo de álcool está associado a diversos problemas de saúde, incluindo aumento do risco de câncer e demência. A ingestão de altas doses de bebida alcoólica contribui para a inflamação do fígado (hepatite alcoólica) e pode levar à cirrose, uma doença potencialmente fatal. Pode aumentar a pressão arterial e causar cardiomiopatia. O uso pesado de álcool também tem sido associado a vários tipos de câncer, como de boca, faringe, laringe, esôfago, mama, fígado, cólon e reto.
Além disso, pesquisas recentes mostram que não há quantidade segura de consumo de álcool, visto que a baixa ingestão já é suficiente para aumentar a probabilidade de problemas de saúde, como alguns tipos de câncer. Entre crianças e jovens, o consumo de qualquer quantidade de álcool é fortemente contraindicado. A substância é tóxica para o cérebro e pode ter efeitos devastadores em um período em que o órgão ainda está em formação, além de aumentar o risco de alcoolismo na idade adulta.
O que é o consumo moderado
O consumo moderado de álcool é definido como até dois drinques por dia para homens e um para mulheres. Uma dose de álcool equivale a 14 gramas de álcool puro ou uma lata de 350 ml de cerveja, uma taça de 150 ml de vinho ou uma dose de 45 ml bebida destilada. Consumir álcool além dessas quantidades aumenta significativamente o risco à saúde.
Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/medicina/noticia/2022/06/alcool-novos-estudos-mostram-como-o-consumo-moderado-pode-fazer-bem-ao-cerebro-e-impactar-na-longevidade.ghtml
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