Prazer ou felicidade?
Picos de dopamina levam nossos hormônios a procurarem um caminho de volta ao equilíbrio. Sobe rápido, volta rápido
Por
Marcio Atalla
29/11/2023 04h31 Atualizado há 3 semanas
Nosso cérebro é um coletor de recompensas. É altamente estimulado quando sabe que vai receber algo em troca de uma tarefa bem-sucedida. Por isso, nós buscamos o prazer, a satisfação, a dopamina fluindo a mil em nosso organismo.
Na busca pelo prazer, achamos que teremos felicidade. Mas, qual é a diferença entre prazer e felicidade? O somatório de muitos momentos de prazer, seria nosso estado de felicidade? Duvido muito. Te convido a refletir comigo. O que te deixa feliz? Para mim, coisas bem simples, como estar com meus cachorros, passar tempo com a minha família, jantar com meus amigos, fazer atividade física. Então, eu concluo que tenho vários momentos de felicidade dentro da minha rotina. Já o prazer é aquele pico de felicidade, uma felicidade que não se sustenta, vamos dizer assim.
Vamos ilustrar a cena: quando você compra um telefone novo, por exemplo. Aquele momento que você chega na loja e escolhe dá uma sensação de prazer, de dopamina pura. Mas, você vai se sentir feliz, toda vez que olhar o telefone novo? Muito provavelmente não. Menos ainda quando chegar a fatura do cartão. Brincadeiras à parte, é assim que funciona quando comemos algo gostoso. Puro prazer naquela garfada, naqueles segundos. Depois, já foi... passou.
Eu não estou dizendo que o prazer é uma coisa ruim. Muitas vezes o prazer está associado à felicidade, como é o prazer do sexo quando feito com quem amamos. Mas, a busca pelo prazer a toda hora e a todo custo pode ser perigosa e se tornar um vício. Assim como drogas, remédios, álcool, jogos de azar são estimuladores da produção de dopamina em nosso organismo, e todos são altamente viciáveis.
Na verdade, a dopamina, esse neurotransmissor do cérebro que tem características ligadas à recompensa, foi descoberto recentemente, em 1957 pelo neurofarmacologista sueco Arvid Carlsson. Um experimento com ratos demonstrou como a dopamina é acionada com alguns estímulos, como por exemplo comer chocolate, que provoca um aumento de 55%. O sexo aumenta em 100%, a nicotina em 150%. Drogas, como a cocaína, em 225%, anfetaminas em 1.000%. Por isso o perigo. Uma pessoa que busca o tempo todo a dopamina, a recompensa, cria uma certa tolerância ao estimulo do prazer, e seu cérebro passa a necessitar de doses maiores e mais frequentes para obter “aquele pico de felicidade”.
Nosso corpo também gosta de equilíbrio. Picos de dopamina levam nossos hormônios a procurarem um caminho de volta ao estado de equilíbrio. Então, imaginem um gráfico em que se tem uma linha continua no meio, e que as vezes sobe rapidamente, com picos de prazer. Do mesmo jeito que sobe rápido, volta rápido, e nosso corpo produz hormônios para essa volta... rápida. O que pode provocar um pico pra baixo nesse gráfico, e picos pra baixo é o que não queremos. Muitas vezes fica bem clara essa “descida”, como a rebordosa de comer muito ou uma ressaca depois de uma noitada de regada a álcool e drogas. Só que muitas vezes ela é sutil, e vem em doses homeopáticas de ansiedade, irritabilidade, depressão. Esse quadro pode ir se agravando e acabar se convertendo em algum transtorno psíquico.
A boa noticia é que a atividade física também libera hormônio do bem-estar e do prazer. Até mesmo um banho gelado provoca essa liberação hormonal. Ou seja, não é apenas o que faz mal à saúde que provoca momentos de prazer. E a explicação é que precisamos enfrentar o desconforto para termos o momento de recompensa, do “eu sou capaz”, “eu posso”. A dopamina nesse caso é liberada por algo que nós fazemos de forma ativa e não de forma passiva, usando substâncias, alimentos, estímulos externos. E isso deixa claro que tudo está dentro de nós: a dor, o prazer, a felicidade. Só precisamos encontrar o caminho certo.
Fonte:https://oglobo.globo.com/blogs/espiritualidade-e-bem-estar/post/2023/11/prazer-ou-felicidade.ghtml
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