COVID AINDA MATA 10 VEZES MAIS DO QUE A DENGUE EM 2024 NO BRASIL

  Células humanas (azul) sendo infectadas pelo coronavírus (partículas roxas).

Covid ainda mata 10 vezes mais do que dengue em 2024 no Brasil

Números do Ministério da Saúde mostram que, apesar da melhora significativa do cenário, coronavírus continua a ser mais letal do que a arbovirose, que avança pelo país

Por 

Bernardo Yoneshigue

25/02/2024 00h00  Atualizado há 2 semanas

Apesar da melhora do cenário epidemiológico, com uma média semanal de mortes 100 vezes menor da registrada nos piores momentos da pandemia, a Covid-19 ainda causa 10,8 vezes mais mortes no Brasil do que a dengue, mostram dados do Ministério da Saúde.


Segundo o monitoramento de 2024 até a sétima semana epidemiológica, que terminou no dia 17 de fevereiro, foram 122 óbitos confirmados para a dengue no período, e outros 456 em investigação. Já para a Covid-19, foram 1.325 vítimas fatais.


— As duas são doenças importantes, mas os impactos na saúde e os mecanismos de controle são muito diferentes. A Covid tem um impacto em perdas de vidas muito maior, a letalidade é superior. Mas a dengue enche mais os prontos-socorros porque ela é mais sintomática. São doenças bastante distintas — diz André Ribas Freitas, professor de Epidemiologia da Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic, de Campinas e doutor em Epidemiologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).


Ainda assim, o cenário do coronavírus não é o mesmo de alarme como em outros momentos da pandemia – a Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, deu fim à Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) pela doença em maio do ano passado.

Com a combinação da maior campanha de vacinação já realizada no planeta, que até agora chegou a mais de 13,5 bilhões de doses administradas e a 70,6% da população global com ao menos a primeira aplicação, segundo dados do Our World in Data, da Universidade de Oxford, a mortalidade caiu drasticamente.

No Brasil, hoje são em média 192 mortes por Covid-19 a cada 7 dias, com base nos dados das últimas quatro semanas epidemiológicas. No mesmo período do ano passado, esse número era 448, 57% mais alto. Já na pior época da pandemia, em abril de 2021, quando a imunização avançava a passos lentos no país, o Brasil chegou a registrar uma média de 19.731 óbitos a cada semana – mais de 100 vezes acima da taxa atual.

Para evitar uma onda de casos graves, porém, é importante a manutenção de medidas, como estar em dia com o esquema vacinal. Segundo o painel de imunização do Ministério da Saúde, apenas 19,7% da população elegível recebeu a dose bivalente da vacina, atualizada para a variante Ômicron e disponível nos postos de saúde.

— Temos que nos preocupar com a Covid e agir atualizando a situação vacinal, especialmente grupos de risco para Covid grave, idosos, crianças, gestantes, imunossuprimidos, que também devem considerar o uso de máscara em ambientes fechados e com muita gente. Em caso de sintomas respiratórios, é importante testar para Covid e usar máscara por, no mínimo, 7 dias, independentemente da causa do quadro respiratório — diz a professora de Infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Raquel Stucchi.

Dengue bate recordes

Embora a situação da Covid-19 tenha melhorado em relação aos últimos anos, a da dengue bate recordes que preocupam autoridades de saúde. Isso porque já são mais de 740 mil casos neste ano, o que representa, em menos de dois meses, quase metade de todos os diagnósticos registrados em 2023 (1.658.816). Além disso, ultrapassa por completo anos como os de 2021, 2018 e 2017.

Segundo projeções da pasta da Saúde, o país deve bater 4,2 milhões de infecções até o fim do ano, o que ultrapassará em 149% o pior da série histórica até agora, 2015. O cenário já levou ao menos seis estados (Minas Gerais; Acre; Goiás; Rio de Janeiro; Espírito Santo e Santa Catarina), além do Distrito Federal e de três capitais (Belo Horizonte; Rio de Janeiro e Florianópolis), a decretarem estado de emergência em saúde.

Especialistas atribuem a maior disseminação da arbovirose a fatores como a introdução de novas versões do vírus no país, o impacto das mudanças climáticas e a falta de medidas preventivas durante o ano.

— Esse aumento de casos é multifatorial e uma grande preocupação. Temos, por exemplo, o El Niño, fenômeno que provoca chuvas volumosas e calor intenso, condições perfeitas para proliferação do Aedes. Além do descarte inadequado do lixo pela população, a falta de rede de esgoto e coleta insuficiente do lixo — diz Stucchi.

Ribas Freitas destaca ainda impacto o da pandemia na epidemiologia das arboviroses e a maior disseminação também de chikungunya, que assim como a dengue é transmitida pelo Aedes aegypti:

— Houve um período de silêncio muito grande da dengue por conta do isolamento social, porque diminuiu a circulação viral. Então tem uma quantidade muito grande de pessoas suscetíveis que não se infectaram nos últimos anos. Temos também alternância de sorotipos, que geram novos casos. E algumas regiões estão tendo uma transmissão significativa também de chikungunya, que tem uma manifestação clínica parecida. Isso agrava bastante a situação epidemiológica.

Ele lembra que, no ano passado, já houve uma epidemia de dengue no Brasil -- 2023 foi, inclusive, o segundo pior ano da série histórica mantida pelo Ministério da Saúde --, e que está acontecendo de novo. Diz ainda que a vacinação, que tem como público alvo apenas jovens de 10 a 14 anos de municípios selecionados, devido à baixa quantidade de doses, não terá impacto neste ano.

— O controle da doença é o controle do vetor, o Aedes. A vacinação neste ano não vai impactar substancialmente na epidemia, até porque são duas doses separadas por três meses entre elas, quando chegar a segunda a época de epidemia já vai ter acabado. Para proteção individual, o uso de repelente é importante. Se você tiver oportunidade de ligar o ar condicionado em ambientes fechados, ajuda, porque a baixa temperatura diminui a atividade do mosquito caso algum tenha entrado no local. As pessoas também precisam cuidar dos quintais, dos criadouros dos mosquitos, mas essa é uma ação que precisa ser feita durante o ano, no momento de alta já não é tão efetiva — orienta.


Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2024/02/25/covid-ainda-mata-10-vezes-mais-do-que-dengue-em-2024-no-brasil.ghtml

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