Quais são as
doenças que aumentam no outono? Saiba como se prevenir
A estação favorece o aparecimento de
doenças respiratórias causadas por vírus, como a gripe, ou de origem alérgica,
como a sinusite, e crônica, como a asma
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— São Paulo
06/04/2024 04h30 Atualizado há 4 dias
O outono começou oficialmente há pouco mais de duas semanas e já mostrou uma das principais características da estação: as mudanças bruscas de temperatura. Outras particularidades da estação incluem baixa umidade do ar, maior concentração de poeira, poluentes e pólen no ar. Tudo isso gera um ambiente quase perfeito para o aumento de doenças respiratórias, sejam aquelas causadas por vírus, como a gripe, ou de origem alérgica, como a sinusite, e crônica, como a asma.
— O outono é uma estação bonita, mas complicada do ponto de vista da saúde respiratória — avalia a pneumologista Silvia Carla Sousa Rodrigues, do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) de São Paulo.
As “doenças de outono” podem afetar qualquer pessoa. Entretanto, idosos e crianças pequenas tendem a ser mais impactados, tanto em frequência quanto intensidade, por terem um sistema imune que não funciona tão bem. Justamente por isso, eles fazem parte do grupo prioritário para doenças da estação, como a gripe.
Doenças respiratórias causadas por vírus, como gripe, resfriado e Covid-19, são as mais comuns na estação. Isso acontece por uma união de alguns fatores. Primeiro, as temperaturas mais amenas favorecem a circulação dos vírus influenza, vírus sincicial respiratório (VSR), coronavírus, rinovírus, adenovírus, enterovírus, entre outros que causam essas doenças. Além disso, as pessoas tendem a se aglomerar mais em locais fechados, com pouca circulação de ar, o que propicia a transmissão dessas doenças.
Por último, o clima frio e seco provoca alterações no organismo que reduzem um pouco nosso mecanismo de defesa e facilitam a entrada desses vírus no corpo. As mucosas ficam muito expostas às mudanças bruscas de temperatura e as vias aéreas podem ficar mais inflamadas e irritadas, o que aumenta o risco de infecções.
— É importante frisar que não é um frio que causa a doença, e sim os vírus — pontua o pediatra, médico sanitarista e professor do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Daniel Becker, que também é colunista do GLOBO.
As síndromes gripais causadas por vírus em geral causam sintomas leves como dor de garganta, coriza, espirros, tosse, mal estar e febre baixa. Os resfriados duram cerca de dois a três dias e não causam muita sintomatologia sistêmica. Já gripe e Covid são infecções cujos sintomas duram mais tempo, geralmente de cinco dias a uma semana e além das vias aéreas superiores, também causam um quadro maior de prostração. O paciente pode ter dor muscular, febre, cefaleia e sintomas gastrointestinais.
Em relação ao tratamento, a terapêutica de todos esses quadros consiste em muita hidratação, repouso e alimentação saudável. Se houver dor e febre, é possível medicar com um antitérmico. Nos casos gripais, é recomendado lavar bastante o nariz e fazer hidratação da via respiratória com nebulização com soro. Para pessoas com complicações ou em risco de complicações em decorrência do influenza, existe o Tamiflu, um antiviral que pode ser tomado nas 48 horas após os primeiros sintomas de infeção.
Embora a maioria das pessoas não desenvolva sintomas graves, essas viroses podem se complicar e dar origem a um quadro de pneumonia viral ou bacteriana, por isso é preciso estar atento aos sintomas e procurar atendimento médico, se necessário. Sinais de alerta incluem dificuldade ou desconforto para respirar, sensação de peso ou pressão no peito, febre alta e prolongada, tosse intensa e constante, prostração, chiado e aumento da frequência respiratória. Para crianças, queda de estado geral, mesmo sem febre, indica a necessidade de procurar atendimento médico.
Outras recomendações dos especialistas incluem nunca mandar uma criança com doença aguda para a creche ou escola, não visitar outras pessoas se estiver com sintomas de síndrome respiratória, usar máscara para diminuir a transmissão e estar atento às medidas de higiene respiratória.
A bronquiolite, inflamação dos bronquíolos, é outra doença muito comum nessa época, em especial em crianças de até dois anos de idade. Embora possa ser causada por diversos vírus, a principal causa da doença nessa faixa etária é o VSR. A inflamação dificulta a passagem do ar e a criança pode ter dificuldade para respirar. Os sintomas de alerta para procurar atendimento médico são respiração ruidosa, principalmente na expiração, e rápida.
Segundo Becker, a doença mão-pé-boca também é comum em crianças nessa época. Causada pelo vírus Coxsackie da família dos enterovírus, a condição começa com um quadro respiratório com coriza e tosse, mas logo evolui para o aparecimento de bolinhas pelo corpo, em especial na boca, nas mãos e nos pés.
— É uma doença leve, mas o grande problema é que se essas bolinhas surgem dentro da boca, a criança fica com dor, irritada e com dificuldade para se alimentar e beber água. Nesses casos, pode ser necessário internar para hidratar — diz o pediatra.
Já a prevenção de todas essas condições inclui manter a vacinação em dia – em especial para os mais vulneráveis –, ter uma alimentação saudável para garantir uma boa imunidade, manter a higiene das mãos com água e sabão ou álcool gel, evitar aglomerações em locais sem circulação de ar e evitar contato com pessoas doentes.
Rinite, sinusite e asma
No outono-inverno também ocorre a exacerbação das doenças respiratórias crônicas e alérgicas, como a rinite, sinusite, faringite e asma. Todas essas doenças se caracterizam pela inflamação das vias aéreas.
— As mucosas das vias aéreas ficam mais ressecadas e isso propicia o aparecimento das crises de rinite, sinusite, faringite e também a exacerbação da asma — diz Rodrigues.
A rinite, por exemplo, é uma doença alérgica que acomete as cavidades nasais. As pessoas apresentam crises de espirros, coriza, tosse e às vezes sintomas oculares, como lacrimejamento. A asma é uma doença inflamatória crônica que acomete o sistema respiratório, mais especificamente os brônquios, e, em algumas pessoas, ela também está associada à fenômenos alérgicos e a fatores ambientais como mudanças no clima. Geralmente as crises de asma se caracterizam com falta de ar, tosse e a presença de sibilos, popularmente conhecido como chiado no peito.
Poluição, pólen, poeira doméstica, vírus, oscilações bruscas de temperatura, fumaça de cigarro e cheiros de perfume ou de produtos de limpeza, não provocam essas doenças, mas podem desencadear crises de rinite ou asma.
A sinusite é a inflamação dos seios da face, responsáveis por aquecer o ar e diminuir o peso do crânio. Em geral, a doença está associada à rinite ou alguma síndrome gripal mal tratada porque essas condições fazem com que o nariz fique congestionado e encha de líquido, tornando o local propício para a proliferação de germes.
Os principais sintomas da sinusite são nariz entupido, dor de cabeça com sensação de pressão na região do nariz e dos seios nasais, secreção amarelada, além de mal estar geral e febre. A sinusite aguda, que surge após resfriados ou crises alérgicas, geralmente desaparece sem a necessidade de tratamento específico. Mas lavar o nariz frequentemente ajuda a aliviar os sintomas.
Já a faringite é a inflamação da faringe, órgão que está na parte de trás da garganta. Por conta disso, ela é mais conhecida como um tipo de “dor de garganta”. A condição pode ser causada por vírus, bactérias, mas também por alergias, quando uma crise alérgica afeta não apenas o nariz, mas as vias aéreas como um todo.
O tratamento das condições de origem alérgica inclui o uso de medicamentos antialérgicos, corticoides nasais e lavagem nasal com soro. No caso da asma, é necessário usar os medicamentos com ação anti-inflamatória e de alívio, com efeito broncodilatador. A prevenção de ambas as condições consiste em realizar o tratamento adequado e evitar deflagradores de crise como poeira, ar-condicionado, ar seco, fragrâncias e perfumes fortes, fumaça, poluição e produtos de limpeza.
Outra condição crônica que precisa de cuidado dobrado nessa época do ano é a doença pulmonar obstrutiva crônica, mais conhecida por sua sigla, DPOC. Essa doença está intrinsecamente associada ao uso de tabaco e se caracteriza pela alteração da função pulmonar. Os pacientes têm bronquite crônica, que é o estreitamento dos brônquios, e enfisema, que são lesões irreversíveis nos alvéolos.
Embora seja uma doença crônica, no outono há aumento do risco de exacerbação dos sintomas, ou seja, piora da condição respiratória em relação ao habitual, o que demanda mudança no tratamento. Para evitar que isso aconteça, pessoas com DPOC precisam estar devidamente tratadas com broncodilatadores, que relaxam as vias aéreas para mantê-las abertas. Também podem ser recomendados exercícios de reabilitação pulmonar e uso de oxigênio.
Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/medicina/noticia/2024/04/06/quais-sao-as-doencas-que-aumentam-no-outono-e-como-se-prevenir.ghtml
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