NUTRIÇÃO PARA PREVENIR DOENÇAS

Nutricao para prevenir doencas

O elevado calor das brasas de churrasco e das grelhas  sobre a gordura libera substâncias cancerígenas.
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Nutrição para prevenir doenças


Até 1870 não havia registros de mortes por câncer do intestino grosso ou infarto agudo do miocárdio. A causa das (então) novas fatalidades pode estar ligada ao surgimento da farinha de trigo especial na segunda metade do século XIX. “O homem reduziu a quantidade de fibras consumidas ao substituir o ingrediente integral pelo produto refinado. Essa alteração resultou na carência da substância cujas propriedades minimizam o surgimento de câncer”, indica Sidney Federmann, médico da Secretaria Estadual da Saúde, de SP, da divisão de Doenças Crônicas Não Transmissíveis. O especialista é o autor do livro Prevenção de doenças crônicas — o melhor investimento (Escala), que oferece recomendações alimentares com o objetivo de diminuir a incidência de câncer e de outras doenças crônicas no mundo – (como infarto cardíaco, acidente vascular cerebral (AVC) e pressão alta). VivaSaúde entrevistou Federmann para conhecer a “dieta que previne”, que inclui 90 receitas feitas com alimentos ricos em fibras. Segundo o autor, todas deliciosas e de efeito comprovado: “meu sogro tem 102 anos, está lúcido e goza de boa saúde. Por isso, posso dizer que uma alimentação equilibrada é sinônimo de longevidade”.

Como a dieta reduz o desenvolvimento de câncer e outras doenças?

Sidney Federmann: Os alimentos ricos em fibras combatem as células que causam o câncer do esôfago e, de uma maneira mais intensa, do câncer de intestino grosso. Eles também reduzem o risco de infarto, diabetes, doenças cardiovasculares e obesidade. No topo desta escala estão os cereais integrais, justamente um grupo de alimentos que quase não comemos. Feijão, legumes, verduras e frutas também têm a substância, mas em menor quantidade. Em 1870 o homem criou o processo de fabricação da farinha especial e passou a usá-la em muitas receitas. Em relação ao produto integral, esse ingrediente perde 80% de ferro, 50% de cálcio, 30% das proteínas e todo o complexo B. Aliado à carência dessas substâncias, houve um crescimento no consumo de alimentos animais. Desde então, a ingestão de carnes aumentou 70%, enquanto a do queijo subiu em 320%. As gorduras saturadas do derivado do leite elevam o risco de infarto cardíaco e de AVC.

Como as fibras agem no organismo?

Elas sugam as gorduras saturadas ingeridas, impedindo a absorção pelo organismo. Depois da digestão, transitam pelo intestino e saem pelas fezes, levando a gordura para fora do corpo. Sem uma quantidade mínima de fibras, perdemos esse poderoso mecanismo de proteção. Se consumo diário de fibras era de 30 g a 40 g, atualmente oscila entre 5 g e 10 g.

Então é só procurar os produtos integrais no supermercado?

Alguns itens são comercializados com rótulo informando que são integrais, mas são fabricados com 90% ou 94% de farinha branca. Para serem benéficos à saúde, esses produtos devem ser 100% integrais. A dica é checar a composição.

Quais alimentos não podem faltar na dieta de quem quer evitar doenças crônicas?

Os integrais (cereais, farinha de trigo e de centeio, milho, aveia e arroz) têm cinco vezes mais fibras do que o feijão, dez vezes a mais em relação aos legumes, e 15 vezes se comparado às frutas. As substâncias de todos esses alimentos têm ação complementar sinérgica em grudar as gorduras, eliminar, formar massa, acelerar e normalizar o funcionamento do intestino e facilitar as evacuações, evitando prisão de ventre, hemorroidas e doenças intestinais. Vegetais sem amido diminuem o risco de câncer de boca, de faringe, laringe, nasofaringe, esôfago, pulmão, estômago, cólon e reto. Feijões, ervilha, lentilha e grãos-de-bico protegem contra o câncer de estômago.

Como as frutas colaboram?

Elas protegem contra o câncer de boca, de faringe, laringe, nasofaringe, esôfago, pulmão, estômago, pâncreas, fígado, cólon e reto. O suco é um capítulo à parte. Se o epitélio (membrana que protege a garganta) está íntegro, fica resistente à penetração de bactérias. Beber sucos de frutas ácidas com muita frequência pode causar lesões na região, facilitando a entrada de micro-organismos que provocam inflamações. Procure opções menos ácidas, como melancia, manga ou pêssego. O ideal é a ingestão de frutas em sua forma natural e não o de seu suco. A mastigação injeta saliva, um potente antiácido que evita as lesões na garganta.

E quais alimentos aumentam os riscos de doenças crônicas?

Estudos de todo o mundo apresentam evidências convincentes de que os produtos animais como as carnes vermelhas e as embutidas (presunto, salsicha, mortadela, salame) estão entre as causas de câncer de intestino grosso. A Fundação Mundial de Pesquisas sobre o Câncer recomenda que a população centralize a alimentação no arroz integral, milho, feijão, legumes, verduras e frutas, e consuma os produtos animais em menor quantidade. A carne vermelha, por exemplo, é fonte de vitamina B12, ferro e proteínas, por isso deve fazer parte da dieta. O peixe reduz as chances de câncer de cólon. Já o frango não gera risco nem proteção. E lembre-se: ao comer carnes, prefira técnicas brandas de cozimento.

Como a soja contribui nessa dieta?

Dez pesquisas consultadas demonstram que quanto maior o consumo de produtos da soja, menor é o risco de câncer de próstata. Os fitoestrógenos do alimento impedem que o excesso de testosterona provoque o crescimento da próstata. Na China, em 2006, a taxa desse tipo de tumor era de 1,7 casos em 100 mil, contra 50 no Brasil e 135 nos EUA. A dieta dos chineses é composta em 71% de cereais, feijões, legumes, verduras e frutas. Lá o consumo de produtos animais é de apenas 15%, enquanto os norte-americanos comem cerca de 60%. A soja diminui o risco de doenças cadiovasculares, pois sua proteína reduz a produção de colesterol. As gorduras da soja também substituem as saturadas, e aí os ganhos são contra o diabetes. A gordura saturada em excesso é lesiva às células do pâncreas, que produzem a insulina.

Como preparar uma receita “protetora” sem perder o sabor?

É só usar a farinha de trigo integral e trocar a margarina por óleos de girassol, gergelim e canola. Uma pizza pode ser feita com molho de tomate, ervilha, palmito e até fatias de queijo. Equilibrando com fibras, a gordura saturada será eliminada com mais facilidade.

Pessoas com histórico familiar de câncer devem estar mais atentas à alimentação?

Claro, porém é bom lembrar que o histórico de câncer na família é relativo. Nos tumores de mama, por exemplo, apenas 5% dos casos são genéticos. Os outros 95% são relacionadas a fatores alimentares ou ambientais.

Fonte:http://revistavivasaude.uol.com.br/nutricao/nutricao-para-prevenir-doencas/2185/

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