ALZHEIMER RESPONDE POR CERCA DE 70% DOS CASOS DE DEMÊNCIA NO MUNDO

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Alzheimer responde por cerca de 70% dos casos de demência no mundo, conforme OMS

No Brasil, a patologia já acomete 1,2 milhão de pessoas

A expectativa de vida da população brasileira vem aumentando nos últimos anos e, com isso, é preciso maior atenção com a saúde física e mental na terceira idade. Um problema comumente ligado ao envelhecimento é a demência, doença mental caracterizada por prejuízo cognitivo, que pode incluir alterações de memória, desorientação tempo-espacial e perda de raciocínio e concentração. Uma das principais causas de demência é a doença de Alzheimer, responsável por cerca de 70% dos casos em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). A alta incidência da doença, que se manifesta majoritariamente na terceira idade, faz com que especialistas destaquem a necessidade de que a sociedade e a classe médica dediquem mais atenção ao Alzheimer.

A OMS estipula que, no mundo inteiro, 47 milhões de pessoas sofram de demência e, a cada ano, cerca de 10 milhões de novos casos sejam registrados. No Brasil, a patologia já atinge 1,2 milhão de pessoas, segundo a Academia Brasileira de Alzheimer. “Na maioria das pessoas, a doença se manifesta depois dos 60 anos. Depois dos 65, a frequência da doença praticamente dobra a cada cinco anos. Dessa forma, como a expectativa de vida da população brasileira está aumentando, cada vez mais teremos pessoas com Alzheimer”, aponta Marco Túlio Azevedo Tanure, coordenador do serviço de neurologia do Instituto Biocor.

Segundo o neurologista, a doença é lenta e progressiva, e afeta diretamente o cérebro, levando à degradação e morte dos neurônios relacionados a diversas funções cognitivas como memória, capacidade de planejamento, orientação têmporo-espacial e linguagem, entre outras. De acordo com Marco Túlio, a patologia afeta a comunicação, o metabolismo e o reparo dos neurônios, que são os três principais processos que os mantêm saudáveis. “Certas células nervosas no cérebro ‘param de trabalhar’, perdem ligações com outras células nervosas e, por fim, morrem, causando os sintomas característicos da doença”, explica. 

 Apesar de ser um tipo de demência muito sério, os sintomas do Alzheimer podem ser muito sutis nas fases iniciais. Portanto, é preciso estar bastante atento ao comportamento dos idosos. “Geralmente, a perda de memória é o primeiro sintoma percebido pelos familiares. Inicialmente, a memória para fatos recentes é comprometida, mas com a evolução da doença, memórias mais remotas são afetadas”, ressalta Marco Túlio. Outros sintomas frequentes são a desorientação espacial e temporal, dificuldade de linguagem e de planejamento, problemas com cálculos, entre outros. 

Além disso, alguns quadros clínicos, como a depressão ou o hipotireoidismo, podem dificultar a diferenciação entre o Alzheimer e outras doenças, já que ambos podem se apresentar com prejuízos da memória e capacidade de concentração. “Não tendo um exame específico que detecte a patologia, o médico deve seguir uma sequência para excluir doenças gerais e neurológicas a partir de exames de imagem e laboratoriais”, diz o especialista.

PROGRESSÃO

Paulo Caramelli, neurologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), esclarece que a doença tem três fases: leve, moderado e grave. Existem situações em que o paciente esquece o nome de pessoas, objetos, palavras, mas, dependendo do estágio em que se encontre, pode haver uma mudança de comportamento mais acentuada com sinais de depressão, apatia e agressividade. “No início, apenas algumas áreas são atingidas, mas, em um período de 10 anos, todo o cérebro é acometido pela patologia”, destaca. Paulo reforça que a demência causada pelo Alzheimer tem consequências no físico, psicológico e social do indivíduo, e, por isso é “essencial a presença dos familiares para entender e ajudar seu ente querido nessa fase delicada em que a memória está se perdendo”.

O especialista conta que, com o avançar do Alzheimer, o paciente torna-se cada vez mais dependente de cuidadores e familiares, tendo a necessidade de estar sempre acompanhado em sua rotina diária. “É necessário que haja paciência, dedicação e amor, pois os indivíduos acometidos pela doença não fazem ideia da gravidade do problema e não conseguem ter autonomia. Estimular a conversa, a realização de jogos de memória e a interação diária são fundamentais para o bem viver. O esforço coletivo é a maneira mais adequada para possibilitar uma melhor qualidade de vida para esses pacientes”, finaliza o neurologista.

Sinais da doença
O paciente com Alzheimer pode apresentar:

» Perda de memória recente com repetição das mesmas perguntas ou dos mesmos assuntos
» Dificuldade para perceber uma situação de risco, para cuidar do próprio dinheiro e de seus bens pessoais, para tomar decisões e para planejar atividades mais complexas
» Dificuldade para se orientar no tempo e no espaço
» Incapacidade em reconhecer faces ou objetos comuns, podendo não conseguir reconhecer pessoas conhecidas
» Dificuldade para manusear utensílios, para se vestir, e em atividades que envolvam autocuidado
» Dificuldade para encontrar e/ou compreender palavras, cometendo erros ao falar e ao escrever
» Alterações no comportamento ou na personalidade: pode se tornar agitado, apático, desinteressado, isolado, desinibido, inadequado e até agressivo
» Interpretações delirantes da realidade, sendo comuns quadros paranoicos ao achar que está sendo roubado, perseguido ou enganado por alguém. Esquecer o que aconteceu ou o que ficou combinado pode contribuir para esse quadro
» Alucinações visuais (ver o que não existe) ou auditivas (ouvir vozes) podem ocorrer, sendo mais frequentes da metade para o final do dia
» Alteração do apetite, com tendência a comer exageradamente, ou, ao contrário, pode ocorrer diminuição da fome
» Agitação noturna ou insônia com troca do dia pela noite

Fonte: Associação Brasileira de Alzheimer

Patologia sem cura
Pacientes com Alzheimer têm a seu favor tratamento farmacológico que ajuda a ajustar a quantidade de alguns neurotransmissores cerebrais, visando estabilizar a doença
Apesar do avanço da medicina, a cura para o Alzheimer ainda não foi descoberta. No entanto, os pacientes podem contar com o tratamento farmacológico, que tem o intuito de ajustar a quantidade de alguns neurotransmissores cerebrais, visando estabilizar a doença e reduzir a sua velocidade de progressão. “Os pacientes com a doença têm redução da síntese de uma substância denominada acetilcolina, gerando impacto na atividade colinérgica cerebral. Portanto, medicações que aumentam a transmissão colinérgica produzem resultados terapêuticos positivos”, aponta Leandro Boson Gambogi, psiquiatra e psicogeriatra do Hospital Felício Rocho. Contudo, o médico reforça que, embora as medicações atuais não possam impedir que a doença progrida, elas podem desacelerar a piora e, especialmente, aumentar a qualidade de vida dos pacientes.

Além do tratamento médico/farmacológico, a estimulação cognitiva, exercícios físicos e estímulos sociais são fundamentais para o tratamento da patologia e para que os pacientes tenham uma melhor qualidade de vida. A musicoterapia, por exemplo, é uma alternativa para muitos indivíduos que sofrem de demência. “Está bem estabelecido que a musicoterapia é responsável por muitos efeitos que estimulam e melhoram o humor dos pacientes com doença de Alzheimer”, diz Leandro. No entanto, destaca, não está claro se esses benefícios se estendem a resultados cognitivos. “São necessárias maiores evidências com investigações clínicas mais rigorosas. Por fim, suspeita-se do benefício da combinação de musicoterapia com outros estímulos cognitivos, como a dança e exercícios físicos, na busca de melhores resultados.”

ALFABETIZAÇÃO

Em 2015, a pesquisadora e neurologista Elisa de Paula França Resende realizou um estudo, orientado pelo professor Paulo Caramelli, que apontou a influência da alfabetização para a maior integridade estrutural cerebral no idoso e a relação dessa integridade com a memória. “O objetivo do trabalho foi avaliar a estrutura cerebral do idoso com baixo nível educacional, uma vez que o número de idosos nessa condição vem crescendo nos países em desenvolvimento”, explica Elisa.

Dos 31 idosos analisados no trabalho, 10 eram analfabetos e 21 tinham algum nível de escolaridade. De acordo com Elisa, os resultados mostraram que a integridade estrutural se relacionou com o desempenho em testes de memória episódica, a memória para fatos recentes, que pode ser evocada de modo consciente, sempre que desejado. Essa relação se dá de forma direta, ou seja, se o indivíduo é alfabetizado, a estrutura cerebral é mais íntegra. “A maior integridade da conectividade estrutural dos indivíduos alfabetizados ocorreu em feixes de neurônios importantes para funções de linguagem e memória. O fato de um indivíduo ter mais integridade dos neurônios que fazem essa conexão sugere que ele tem melhor eficiência nessas funções.” Na prática, isso significa que, caso sofra de uma doença neurodegenerativa como o Alzheimer, será necessária uma lesão maior para que o idoso apresente sintomas cognitivos.

Para Elisa, os dados refletem a importância do investimento em educação nos países em desenvolvimento, já que sair da condição de analfabetismo é suficiente para modificar a estrutura cerebral e pode contribuir para a redução da incidência de doenças neurodegenerativas em longo prazo.

PALAVRA DE ESPECIALISTA:
Leandro Boson Gambogi, psiquiatra e psicogeriatra do Hospital Felício Rocho

O melhor caminho

“Ao contrário do que se pensava, a doença de Alzheimer terá impacto maior nas economias em desenvolvimento quando comparadas às do Primeiro Mundo. Apesar de o envelhecimento ser maior nos países ricos, houve redução da incidência nos últimos anos. Isso se deve, provavelmente, ao impacto de melhoria da educação e do controle da saúde em geral. Assim, políticas de saúde preventivas eficazes e educação parecem ser o caminho até que a cura não esteja disponível.”

Fonte:https://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2017/11/23/noticias-saude,217176/alzheimer-responde-por-cerca-de-70-dos-casos-de-demencia-no-mundo-co.shtml

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