'DIETAS COM ALTO TEOR DE SAL LEVAM A OBESIDADE',DIZEM NUTRICIONISTAS AMERICANAS

As irmãs Tammy e Lyssie Lakatos: autoras de dieta antissal provocaram reação da indústria alimentícia - Divulgação / Divulgação

'Dietas com alto teor de sal levam à obesidade', diz nutricionista americana

Celebrada nos EUA, Lyssie Lakatos acredita ter encontrado no sódio um vilão invisível

Conhecidas como as “nutritional twins” (“gêmeas da nutrição”), Tammy e Lyssie Lakatos causaram reboliço quando publicaram nos EUA, há cinco anos, seu segundo livro, finalmente lançado agora no Brasil. “Dieta antissal — Quatro semanas para emagrecer e tornar-se mais saudável” (Best Seller) colocou as irmãs no centro de uma querela entre especialistas da área e a indústria alimentícia nos EUA. A obra interpreta uma série de dados oficiais para mostrar que a maioria dos cidadãos naquele país consome muito mais sal do que deveria, e não do saleiro. De acordo com as Lakatos, cerca de 75% do sal que os americanos ingeriam em 2013 vinha de alimentos prontos, em sua maioria produtos processados, mas também do pão nosso de cada dia, mesmo o integral. Ou de estrelas comuns das dietas, como, por exemplo, o queijo cottage.
A promessa de um emagrecimento real em quatro semanas com a redução do sal, o desinchar do corpo com menos água acumulada no organismo e os resultados visíveis apresentados em horário nobre pelos artistas e funcionários da NBC, que fechou uma parceria com a dupla, impulsionaram a carreira das gêmeas, personal trainers e nutricionistas. Os números recentes da presença delas nas redes sociais impressionam: são 3,6 milhões de seguidores únicos no Pinterest e 23 mil no Twitter.
A “Dieta antissal”, defendem elas, oferece opções para uma reinvenção do comer de forma saudável com uma mudança paulatina do paladar. Aos poucos, garantem, as pessoas percebem que a maioria dos alimentos são saborosos sem a necessidade daquela pitadinha extra de sal antes de devorá-los. Lyssie, que torce por uma tradução para o português de seu mais recente livro, “Veggie cure”, lançado em 2014 e centrado no protagonismo dos vegetais para uma dieta saudável, conversou com O GLOBO sobre a descoberta do sal como vilão de quase todas as dietas e um dos principais responsáveis pelo fatídico efeito sanfona.
O GLOBO - Atores-celebridades que precisam emagrecer em tempo exíguo muitas vezes apostam em regimes de privações, arriscados para quem não conta com o acompanhamento proporcionado pela estrutura oferecida por Hollywood. Para os artistas da NBC, vocês bolaram uma dieta mais radical do que a apresentada no livro?
LYSSIE LAKATOS - Não, é exatamente a mesma, e somos contra qualquer tipo de privação alimentar. Nossos clientes, celebridades ou não, comem normalmente carboidratos e proteínas magras. Não acreditamos em esquemas que incluam apenas saladas, ou só proteínas, ou uma dieta exclusivamente líquida para perder peso rapidamente. O que eles estarão cortando é o sal em todas as frentes, eliminando naturalmente o excesso de concentração de líquido, o inchaço que as pessoas querem evitar nas fotos.
Por que excesso de sal significa excesso de peso?
Partimos de um estudo publicado em 2007 na “Obesity research” que mostra que dietas ricas em sal estão diretamente ligadas ao aumento de células de gordura no corpo. E o acúmulo de sal aumenta a densidade das células de gordura já presentes no organismo. Nosso corpo está preparado para lidar com 1.500 a 2.400 mg de sal/dia e hoje, nos EUA, o número médio é de 4.000 a 6.000 mg/dia, afetando metabolismo e capacidade de queimar gordura e reparar perda muscular. Dietas de elevado teor de sal também levam à obesidade porque o sal aumenta a sensação de fome. Nossas pesquisas mostram que o consumo excessivo pode levar a uma retenção de até 4,5 kg de líquido extra, algo como 20 garrafas de água de 250 ml. Mesmo que você não esteja acima do peso, vai parecer gordo e inchado.
Desde o lançamento do livro nos EUA, o que mudou no comportamento dos americanos em relação ao consumo de sal?
Menos de um ano depois do lançamento, o governo Obama anunciou suas metas voluntárias para baixar o nível de sódio na indústria alimentícia e nos restaurantes do país até 2020, chamando a atenção para a conexão entre o consumo exagerado de sal e doenças do coração e pressão alta. O objetivo era uma redução gradual de até 40%. A reação foi forte, e muitas marcas começaram a mexer na fórmula de seus produtos para informar aos consumidores que eles passaram a ter agora concentração menor de sódio. Quando escrevemos o livro, havia uma discrepância na proporção de sal presente em cereais da mesma marca, na Europa e nos EUA: lá o mesmo produto tinha menos sódio. Isso está mudando gradualmente por conta da pressão dos consumidores.
O livro fala da necessidade de as pessoas se educarem a respeito da concentração de sal em alimentos insuspeitos. Pode dar um exemplo?
O pão comprado, qualquer um, mesmo o integral. Uma fatia de pão tem concentração de sal maior do que a do saco de batatas chip. Tente fazer o pão em casa ou descubra a quantidade de sódio usada na sua padaria preferida. Aqui nos EUA, muitos padeiros já estão usando sal apenas na superfície externa do pão como forma de reduzir o sódio.
Comer fora também acaba sendo um problema, não?
Há, sim, uma enorme diferença entre cozinhar em casa e comer em restaurantes com assiduidade. Sempre aconselhamos nossos clientes a pedir explicitamente para que seus pratos sejam feitos sem sal. E que eles adicionem depois a quantidade ideal. Um dos substitutos mais comuns do sal por chefs de cozinha conscientes é o limão. E o sal grosso de qualidade é sempre mais aconselhável do que o fino, porque vai usar naturalmente uma quantidade menor para se chegar à mesma sensação do paladar.

O sal é um vilão maior do que o açúcar para quem sofre com a balança?
Nos EUA, não há como eleger apenas um vilão, a não ser o do consumo exagerado. Tudo parece muito básico, mas a primeira decisão é diminuir o tamanho de suas porções nas refeições. O sal, ao contrário do açúcar, está presente em quase todos os alimentos. Como tínhamos de criar as receitas para o livro, uma de nossas maiores dificuldades foi perceber quanta coisa precisava ser excluída: quase todos os molhos para saladas e, surpresa, o queijo cottage. Muitas marcas de purê e molhos de tomate, quase todas as sopas e os refrigerantes e laticínios com caloria zero, mas com alto grau de sódio, também foram riscados do nosso mapa.
O sal como grande vilão da saúde apareceu na capa da revista “Time” em 1982. De lá para cá há uma guerra entre pesquisadores ora concordando, ora interpretando números mostrando que uma maior quantidade de sódio no organismo não significa necessariamente um sinal vermelho para doenças cardíacas. O mesmo aconteceu em relação ao sal como inimigo do emagrecimento?
Sim, mas aí você vai descobrir que os estudos que tentam descaracterizar o sal como fato importante no inchaço e no efeito sanfona são todos financiados pela poderosa indústria alimentícia, que está interessada em produtos que prendam o consumidor pelo paladar. Defendemos uma mudança de cultura. Com o tempo, o paladar muda. Não precisamos mais aumentar o teor de sal em nada, e isso desagrada, obviamente, aos barões da indústria.
A “Dieta antissal” as ajudou a chegar a “Veggie cure”?
Sim. Um livro nasceu do outro. E uma das razões centrais para isso é o fato de as verduras, especialmente, serem armas secretas para alcançarmos com mais rapidez a tríade essencial da “Dieta antissal”: o anti-inchaço, a limpeza e o emagrecimento. Elas são opostas exatas aos alimentos que contribuem para o excesso de sal no organismo.


Fonte: https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/dietas-com-alto-teor-de-sal-levam-obesidade-diz-nutricionista-22567953#ixzz5BzYphDsn 

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