MAGREZA EXTREMA NAS PASSARELAS: UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA

  Magreza extrema nas passarelas: uma questão de saúde pública

Magreza extrema nas passarelas: uma questão de saúde pública

As modelos estão mais magras do que nunca e a diversidade corporal diminuiu drasticamente nos desfiles de Paris, Milão, Londres e Nova York

Por Maria Rita Alonso, de Paris

04/03/2023 12h10  Atualizado há um ano


Estou cobrindo a semana de moda em Paris e testemunhei no banheiro de uma brasserie, nas redondezas do Jardim de Tuilerie, uma cena que me deixou consternada. Uma moça entrou no banheiro, sorriu e disse bom dia e, enquanto eu lavava as mãos, ela se ajoelhou e forçou o vômito.


Foi especialmente perturbador porque eu havia acabado de sair de um desfile e constatado que o casting de modelos nessa temporada da Paris Fashion Week realmente está priorizando meninas muito magras e excluindo corpos diversos e gordos.

Esse assunto já tomou conta do debate na imprensa de moda semanas atrás, durante os desfiles de Nova York, Londres e Milão A magreza extrema vem sendo cultuada novamente nas passarelas. Parece que os anos 90 voltaram – e isso é como um pesadelo.

Nessa época, a questão da indução à magreza, como padrão de beleza vigente, criou uma epidemia de transtornos alimentares especialmente em adolescentes. A bulimia e a anorexia nervosa eram associadas ao culto ao corpo ideal magro e a cobrança aos padrões de beleza e de moda.

Levou anos até que esses padrões fossem questionados e que a indústria da moda encarasse seu papel social com mais responsabilidade. Parece que agora isso está em jogo novamente, há uma regressão moral em curso.

Inúmeras publicações estão alertando sobre essa volta deprimente ao culto da magreza.

"O corpo da mulher é um assunto difícil de comentar, independentemente do seu tamanho. Francamente, não deveria ser algo que alguém comentasse. Mas, tendo estado na London Fashion Week nos últimos oito anos e ouvido histórias intermináveis de modelos passando fome antes dos desfiles, ou sendo instruídas a diminuir o tamanho do manequim em dois dias para serem escaladas para um desfile, fiquei cada vez mais preocupada com a saúde e o bem-estar das modelos e a falta de representatividade em termos de forma corporal", escreveu Olivia Petter, jornalista do Independent.

Ela ressalta que o que é ainda mais preocupante, é que ninguém parece se importar. Pelo menos não o suficiente para fazer algo a respeito.

Antes disso, Vanessa Friedman, diretora de moda do The New York Times, twittou: “Até eu me distraio com a extrema magreza de muitas das modelos do desfile de Jason Wu”. O tweet gerou centenas de comentários, e ela esclareceu mais tarde.

“Já passei por muitos distúrbios alimentares em minha vida, assim como muitas pessoas naturalmente magras, e a diferença entre os dois não é difícil de reconhecer. Posso dizer que pelo menos duas das modelos se enquadram nessa categoria. O objetivo não era envergonhar as modelos, mas chamar a atenção para o assunto. Eu realmente acredito que é hora de a moda refletir toda a população que usa roupas, em raça, gênero, tamanho e idade.”

É preciso dizer e repetir que a aceitação de diversos corpos não pode ser uma questão de moda ou de tendência. Isso cria uma série de transtornos e vira questão de saúde pública. Aqui em Paris não é difícil perceber que a obsessão pela magreza nunca desapareceu das passarelas. Mas ainda é tempo da moda não andar para trás glamorizando a magreza extrema.


Fonte:https://revistamarieclaire.globo.com/moda/noticia/2023/03/magreza-extrema-nas-passarelas-uma-questao-de-saude-publica.ghtml

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