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'O exercício físico é a melhor ferramenta para prevenir demência', diz guru da longevidade
Em visita ao Brasil, Peter Attia falou sobre envelhecimento saudável e quais armas temos contra o Alzheimer e a demência
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— São Paulo
08/11/2025 04h00 Atualizado agora
O médico Peter Attia, formado na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, tem uma série de ideias sobre como envelhecer bem. A mais central delas é evitar quatro classes de doenças: problemas cardiovasculares, câncer, doenças de ordem neurodegenativas e problemas metabólicos. É na distância de problemas de saúde do tipo que entramos no que ele chama de “Medicina 3.0”, cuja palavra de ordem é a prevenção das doenças — e não remediá-las depois que se instalaram no organismo. Para disseminar suas ideias, o especialista de 52 anos escreveu o livro “Outlive: a arte e a ciência de viver mais e melhor” (lançado no Brasil pela Editora Intrínseca) e chegou a ocupar, com a publicação, o topo dos livros mais vendidos do jornal The New York Times. Com o sucesso de seus livros, além de podcasts e palestras, o médico tornou-se um tipo de celebridade ao tratar sobre o desafio da longevidade e do bom envelhecimento. Para falar sobre esses mesmos temas, Attia esteve ontem em uma palestra que ocorreu no evento HSM+, em São Paulo. Antes de subir ao palco, porém, conversou com o GLOBO sobre suplementação de proteína, consumo de álcool e por que a saúde dos nossos pais importa para o nosso futuro.
Existe um limite de idade para buscar a melhoria dos corpos e um bom envelhecimento?
Há, sim, se uma pessoa está no seu leito de morte, é provavelmente muito tarde para fazer qualquer coisa. Se está na última semana da sua vida, ou no último mês, sendo realista, eu acho que a oportunidade passou. Por outro lado, se uma pessoa está com mais idade, mas com saúde razoável e talvez apenas um pouco frágil, eu acho que não é muito tarde para começar. Claro, quanto mais cedo você começar a buscar mais saúde, melhor.
Há uma certa obsessão ao consumo de proteína diários. Para que serve consumir tanto desse nutriente?
Bem, quanto devemos consumir diariamente e o que acontece se falharmos não é um mistério, embora pareça ser algo que ficou confuso por conta de algumas pessoas. Os dados científicos são bastante claros que com volumes de proteína de cerca de 1,6 gramas por kg corporal, por dia, teremos quantidades incríveis do que chamamos de sintetização de proteína muscular (responsável por reparar os músculos, a partir de aminoácidos). A razão central porque precisamos disso diariamente é que não podemos guardar, armazenas a proteína. Não podemos guardar aminoácidos. Então é preciso entregar esses aminoácidos todos os dias para manter a massa muscular. É muito difícil comer muita proteína. Por isso, acho que é inteligente dizer para as pessoas que precisam buscar a meta de um pouco mais do que 1,6 gramas de proteína por kg. Eu diria que a meta é alcançar 2 gramas por kg por dia. Porque se alcançar essa meta, não há problemas e se falhar, ainda dá para chegar a 1,6g grama. Agora, se planejar chegar a 1,6g e comer só 1g, estará abaixo do que precisa e não está otimizando sua síntese de proteína muscular.
Deveríamos todos estar suplementando proteína?
Para a maioria das pessoas que têm controle sobre o que estão comendo e buscam esse caminho, acho que é possível fazer isso até que facilmente através de comida. Eu não acho que seja necessária a suplementação. Acho que os suplementos de proteína se tornam ajudantes quando a sua vida é frenética. Quando você viaja o tempo todo, quando não existe tempo para refeições. Mas a forma fundamental de alcançar a proteína deveria sempre ser com comida, comida de verdade.
Em um dos seus cursos é dito que pode ser mais útil olhar para a saúde dos nossos pais do que fazer alguns testes genéticos. Por quê?
Nem todo mundo tem o luxo de poder olhar para a saúde de seus pais. Ou às vezes eles eram fumantes, morreram jovens por isso, entre outros cenários. Mas considerando que você seja próximo de seus pais e que eles vivam o suficiente para ver quais doenças os acometeram ou até os levaram a morte, isso traz mais informações do que um teste genético. Isso porque para a maioria das doenças que sabemos que têm um componente genético é sabido também que ela não é causada por um único gene. Então, ao fazer um teste genético, ele talvez seja bom em identificar 5% dos problemas, mas 95% de outras coisas, como um tipo de câncer relacionado à família, ou problemas com demência, no coração, não aparecem em um exame do tipo. Saber a história da sua família te dará mais informação genética.
Mas os hábitos da família também parecem ter influência…
Um exemplo: se seu pai morreu de câncer de pulmão, mas ele fumava dois maços de cigarro por dia e você não é fumante, essa informação não é útil para você. Porém, se sua mãe e sua avó morreram de câncer de mama e você for mulher, essa informação é muito importante. Mesmo que seu exame não mostre um gene relacionado a câncer de mama.
Por que o senhor fala muito mais de síndrome metabólica do que de obesidade?
Prefiro falar sobre saúde metabólica e síndrome metabólica do que obesidade porque o primeiro é um determinante maior de saúde. Claro, a obesidade é também um determinante de saúde, e é negativo. Mas a maioria desses casos são caracterizados por síndromes metabólicas. E fora da obesidade extrema, muitos dos efeitos negativos da obesidade vão embora uma vez que você corrigir essa síndrome. Sim, ainda há muitas razões para não querer ter obesidade do ponto de vista, por exemplo, do funcionamento dos joelhos. Ter um peso considerado “normal” é o ideal, mas ser um pouco obeso, sem problemas metabólicos, não parece ser um grande problema. Focar demais na obesidade e não prestar atenção na saúde metabólica nos leva a perder a janela de oportunidade que queremos focar.
Temos alguma arma viável conta o Alzheimer e a demência?
Com certeza, exercício físico é provavelmente a ferramenta mais importante para prevenir a demência. Ter um sono de qualidade, saúde metabólica, boa saúde vascular, pressão sanguínea controlada, boa sensibilidade à insulina, evitar batidas de cabeça e até o uso de sauna parece ser bastante útil também, se feito corretamente. E, por fim, manter níveis de colesterol controlados. Então, há muitas coisas que estão à nossa disposição para controlar isso.
O senhor já disse que fazer sudoku e palavras-cruzadas é menos eficiente que, por exemplo, dançar para prevenir esse tipo de doença. Por quê?
A dança envolve mais padrões cerebrais. O objetivo (para a prevenção de doenças cognitivas) é manter o cérebro o mais engajado possível, e a melhor forma de engajar o cérebro é quando combinamos movimento, planejamento e reação ao mesmo tempo. Ao fazer Sudoku ou palavras-cruzadas, estamos usando um tipo específico de área do cérebro. E, ao fazer isso, você vai ficar cada vez melhor nessa tarefa. Não há nada de errado com isso. Mas o foco devem ser as atividades que são muito mais multifacetadas, que exigem mais habilidades. Fazer um esporte com raquete é um ótimo exemplo. Pode ser até melhor do que correr. Porque correr é, de certa forma, repetir o mesmo movimento continuamente. Mas ao jogar tênis, por exemplo, precisamos nos movimentar o tempo todo e reagir a uma bola que vem em uma direção ou outra. Então, acho que é por isso que vemos mais benefícios (mentais) em esportes complexos.
Quais são seus pensamentos sobre o consumo de álcool. Deveríamos parar para, por exemplo, reduzir as chances de ter câncer?
Acho que há evidências crescentes de que talvez até os níveis moderados de álcool estão potencialmente aumentando o risco de câncer. Olhando para as principais doenças crônicas, porém, eu acho que a evidência mais forte para o álcool é um impacto negativo para casos de demência. Mas sim, pode estar relacionado aos aumentos de casos oncológicos como fumar e ter síndrome metabólica.
Pessoalmente, o que acha mais difícil para você na sua cartilha de envelhecer bem?
Provavelmente a parte emocional, tentar manter o equilíbrio na vida, lidar com pensamentos e preocupações. Tentar encontrar a felicidade.
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