ALZHEIMER: ATIVIDADE FÍSICA É IMPORTANTE FATOR DE PROTEÇÃO PARA DEMÊNCIA POIS ESTIMULA A NEUROPLASTICIDADE
Estudos indicam que exercícios físicos têm função protetora dos neurônios — Foto: iStock Getty Images
Alzheimer: atividade física é importante fator de proteção para demência
Novo estudo apresentado este mês na reunião anual da American Psychological Association encontrou menos marcas associadas ao Alzheimer nos cérebros de idosos que fazem exercícios
Por Flávia Ribeiro — Rio de Janeiro
21/09/2019 15h41 Atualizado há 3 anos
O Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença de Alzheimer, celebrado 21/09, é uma data voltada para a divulgação em relação à doença neurodegenerativa. Estima-se que, no mundo, haja mais de 47 milhões de pessoas sofrendo com demência, e que mais de 50% delas tenham Alzheimer. Com o envelhecimento da população, a tendência é que esses números aumentem nos próximos anos. A doença é alvo de pesquisas em todo o mundo. Um novo estudo apresentado este mês na reunião anual da American Psychological Association reforçou o que trabalhos anteriores já têm ressaltado: que o exercício físico é um importante fator de proteção para a demência e, especialmente, para o Alzheimer.
O novo estudo encontrou menos marcas associadas ao Alzheimer nos cérebros de idosos que praticam atividades físicas. Isso porque a proteína beta-amilóide, encontrada na membrana gordurosa que envolve as células nervosas, costuma formar placas ao redor dos neurônios de pacientes que sofrem com a doença, numa relação que ainda está sendo estudada. O que a pesquisa revela é que o exercício físico previne a formação dessas placas.
- Segundo a teoria do depósito de beta-amilóide nos neurônios, ele seria um dos responsáveis pelo Alzheimer. A proteína se depositaria no cérebro e levaria à morte das células cerebrais. As pesquisas estão sendo feitas, mas não há ainda certeza de nada. O que a gente sabe é que as pessoas que fazem atividades físicas estão mais protegidas do que as sedentárias. Isso não significa que quem faz exercícios não vai ter Alzheimer, mas sim que ele melhora suas chances de não ter - explica a psiquiatra Rita Cecília Ferreira, do Programa de Terceira Idade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Rita destaca que a atividade física atua ainda no controle de problemas que afetam a saúde e, consequentemente, podem agravar os quadros de demência, como pressão arterial, colesterol, triglicerídeos e glicemia. O controle da pressão arterial é, inclusive, fundamental para retardar o surgimento da doença, segundo estudo do Instituto Nacional do Envelhecimento (National Institute on Aging), em Bethesda, Estados Unidos. Além disso, praticar exercícios é decisivo para amenizar sintomas típicos do Alzheimer, como depressão e ansiedade.
- A atividade física ajuda muito porque controla tanto os fatores de risco quanto alguns dos sintomas neuropsiquiátricos. A depressão e a ansiedade são sintomas que já costumam aparecer no início da doença - comenta a psiquiatra. - O exercício também melhora o metabolismo e as funções cardiovasculares, o que aumenta a oxigenação cerebral. A gente indica a atividade física porque os benefícios são tanto para a saúde emocional quanto a física.
Idosa sai para caminhada leve: é importante respeitar os limites do corpo — Foto: Istock
A neuropsicóloga Elaine Di Sarno, especializada em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica e Terapia Cognitivo Comportamental, explica que a atividade física acelera também a produção do hormônio irisina, que teria a função de proteger o cérebro do comprometimento cognitivo.
- Mas é importante respeitar os limites do corpo do idoso e encontrar uma atividade que lhe dê prazer. Geralmente as caminhadas são muito indicadas - diz Elaine, que é pesquisadora e colaboradora do PROJESQ (Projeto Esquizofrenia) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Para Rita Cecília, é ainda difícil apontar apenas a irisina como a substância produzida pelo corpo que pode proteger o cérebro do Alzheimer. No entanto, o exercício libera, além da irisina, neurotransmissores como a serotonina, a dopamina e a endorfina, que afetam o humor e o bem-estar mental.
- A atividade física mobiliza uma série de hormônios e substâncias que, em conjunto, têm uma ação protetora. Mas a gente ainda sabe muito pouco sobre o papel desses hormônios em relação à demência - afirma Rita.
A atividade física controla fatores de risco, como pressão arterial, glicemia, colesterol e triglicerídeos — Foto: Getty Images
Benefícios do exercício sobre o Alzheimer:
1. Função protetora dos neurônios: estudos indicam que quem faz atividade física previne o depósito da proteína beta-amilóide em torno das células nervosas;
2. Libera hormônios e substâncias como irisina, dopamina, endorfina e serotonina, que em conjunto protegem o cérebro e agem sobre a saúde mental;
3. Tem efeito benéfico contra sintomas da demência, como depressão e ansiedade;
4. Controla fatores de risco, como pressão arterial, glicemia, colesterol e triglicerídeos;
5. Melhora o metabolismo e as funções cardiovasculares, o que aumenta a oxigenação cerebral.
Fazer uma atividade tem efeito benéfico contra sintomas da demência, como depressão e ansiedade — Foto: iStock
Exercícios indicados
Caminhar cinco vezes por semana por meia hora é uma atividade altamente recomendada para qualquer pessoa, mas especialmente para idosos. Hidroginástica, natação, dança, musculação, corrida e outras atividades também são recomendadas.
- O importante é achar um exercício de que a pessoa goste, senão vira castigo - comenta Elaine. - O ideal é traçar estratégias individuais, de acordo com os interesse de cada um.
- Caminhada
- Corrida leve
- Musculação
- Hidroginástica
- Natação
- Dança
Para isso, Elaine recomenda que se faça um teste com um neuropsicólogo, que vai indicar que terapias e exercícios são indicados em cada caso. Nesse teste, avalia-se que questões estão mais comprometidas no paciente com Alzheimer. Entre as possibilidades, destacam-se sintomas como:
- Concentração;
- Atenção;
- Raciocínio;
- Memória, especialmente a de curto prazo;
- Tomada de decisão;
- Flexibilidade mental;
- Autocontrole.
- Além da atividade física, é importante que haja atividades de estimulação cognitiva. Tenho uma paciente que sempre foi muito ligada à música, à arte e à filosofia. Então o tratamento dela inclui tocar piano uma hora por dia, ouvir seus músicos favoritos, conversar sobre pintores e quadros. Ela tem 75 anos e anda esquecendo os nomes dos filhos e outras coisas. Então conversamos sobre isso e espalhamos post-its pela casa, com esses nomes e outras informações de que ela precisa. Além disso, ela faz caminhadas. Quando você caminha, você toma sol, que é importante para a vitamina D - exemplifica Elaine, que acredita em um trabalho conjunto que inclua psiquiatra, psicólogo, nutricionista, educador físico e terapeuta ocupacional.
A conjunção de atividades artísticas, físicas e intelectuais também é defendida por Rita Cecília. A psiquiatra lembra que quando se faz uma caminhada ou corrida, por exemplo, muda-se de ambiente e coloca-se o cérebro, mais que as pernas, em movimento.
- O ideal é a união de um tratamento não farmacológico, que inclui alimentação balanceada, exercícios e terapias que estimulem a cognição, com o tratamento farmacológico, com medicação para reduzir ou estabilizar, ao menos por um tempo, a progressão da doença - avalia a psiquiatra.
Idosos bem preparados fisicamente podem até participar de corridas — Foto: iStock Getty Images
Fonte: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/dia-mundial-do-alzheimer-atividade-fisica-e-fator-de-protecao-para-demencia.ghtml
Exercício físico e neuroplasticidade: entenda a relação
Médico endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, médico do esporte, professor e pesquisador pela Fundação de Amparo/FAPERJ.
O médico endocrinologista Guilherme Renke explica como a capacidade do cérebro de se adaptar pode influenciar na prática de exercícios físico e sugere alimentos importantes para a saúde cognitiva
Rio de Janeiro
22/07/2021 14h07 Atualizado há 3 anos
Você já deve ter ouvido o termo neuroplasticidade. É uma palavra bastante recente no mundo da neurociência que trouxe muito conhecimento sobre a atividade cerebral e a saúde cognitiva. Há relativamente pouco tempo, os especialistas acreditavam que o desenvolvimento dos nossos cérebros estava concluído no final da adolescência, sem capacidade de se modificar após esse período, e que, em termos de neurônios, tudo estava em declínio a partir daí. Mas, graças à ciência, hoje sabemos que isso não é verdade. As pesquisas mais recentes provaram o oposto: nossos cérebros podem realmente crescer e mudar durante a vida adulta. Cada vez que esse órgão processa informações, neurônios são disparados, novos caminhos se formam e o cérebro maleável altera sua forma e estrutura.
Segundo estudo, a prática de exercícios não melhora só coração, pulmões e músculos, melhora também o cérebro — Foto: Istock Getty Images
O que é neuroplasticidade? O conceito refere-se à capacidade do cérebro de se reestruturar ou se reconectar quando reconhece a necessidade de adaptação. Em outras palavras, ele pode continuar se desenvolvendo e mudando ao longo da vida. Atualmente, buscamos compreender quais estímulos podemos oferecer ao nosso cérebro para que ele possa, então, se modificar e se desenvolver, apoiando positivamente a atividade cerebral.
Atividade física e neuroplasticidade
O cérebro humano se adapta às novas demandas, alterando suas propriedades funcionais e estruturais (neuroplasticidade), o que resulta na aprendizagem e aquisição de habilidades. Evidências convergentes de estudos com humanos e animais sugerem que a prática esportiva facilita a neuroplasticidade de certas estruturas cerebrais e, como resultado, as funções cognitivas.
Pesquisas em animais identificaram um aumento da formação de novos neurônios, sinapses e vasos sanguíneos, além da liberação de neurotrofinas (proteínas que atuam na manutenção e sobrevivência de células neuronais), como mecanismos neurais mediando efeitos cognitivos benéficos do exercício.
A atividade física pode desencadear processos facilitadores da neuroplasticidade e, com isso, potencializar a capacidade do indivíduo de responder a novas demandas com adaptações comportamentais. Alguns estudos recentes sugeriram que a combinação de treinamento físico e cognitivo pode resultar em um aprimoramento mútuo de ambas as intervenções. Além disso, novos dados sugerem que, para manter os benefícios neurocognitivos induzidos pela prática esportiva, deve-se manter um aumento no nível de aptidão cardiovascular.
Efeito do exercício aeróbico no cérebro
O processo de envelhecimento cerebral é um fenômeno comum relacionado à idade. Exames de imagem cerebral mostram alterações da substância branca, formada principalmente por uma porção de prolongamentos de neurônios. A deterioração dessa substância está associada ao prejuízo cognitivo no envelhecimento saudável e à doença de Alzheimer
A ciência busca compreender como é possível amenizar os declínios relacionados à idade de forma mais proativa. Ou seja, o que devemos fazer ao longo da vida para diminuir as consequências do envelhecimento cerebral.
Um recente estudo, publicado em 2021, avaliou a neuroplasticidade da substância branca no cérebro adulto por meio de exames de imagem e verificou que houve efeitos benéficos no grupo que realizou caminhadas aeróbicas durante 6 meses. Sugeriu-se que a substância branca, região vulnerável ao envelhecimento, no cérebro adulto retém a plasticidade induzida pelo exercício aeróbio em curto prazo (6 meses). E, por isso, é um aliado na saúde cognitiva.
Alimentação e saúde cognitiva
Os alimentos que você ingere desempenha um papel na manutenção da saúde do cérebro e pode melhorar tarefas mentais específicas, como memória e concentração.
Peixes gordurosos
Salmão, truta, atum, arenque e sardinha. Todos esses peixes são ricos em ácidos graxos ômega-3, importante bloco de construção do cérebro. DHA, um tipo de ômega-3, é responsável por 40% dos ácidos graxos poliinsaturados do cérebro. Para compreendermos mais facilmente: o cérebro usa ômega-3 para construir células cerebrais e nervosas, e essas gorduras são essenciais para o aprendizado e a memória.
Frutas vermelhas
Mirtilos e outras frutas de cores vermelhas fornecem antocianinas, grupo de compostos vegetais com efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes. Os antioxidantes atuam contra o estresse oxidativo e a inflamação, condições que podem contribuir para o envelhecimento do cérebro e doenças neurodegenerativas
Ovos
Os ovos são uma boa fonte de vários nutrientes ligados à saúde do cérebro, incluindo vitaminas B6 e B12, folato e colina (nutriente importante para formação do neurotransmissor acetilcolina, ajuda na memória e função mental)
Chá verde
O chá verde é uma excelente bebida para o cérebro, já que contém cafeína associada à L-teanina, aminoácido capaz de atravessar a barreira hematoencefálica e aumentar a atividade do neurotransmissor GABA. É também rico em polifenóis e antioxidantes, os quais podem proteger o cérebro do declínio mental e reduzir o risco de Alzheimer e Parkinson.
Concluindo
Evidências indicam que o exercício pode melhorar o aprendizado e a memória, bem como atenuar a neurodegeneração, incluindo a doença de Alzheimer (DA). Além de melhorar a neuroplasticidade por meio da alteração da estrutura e função sináptica em várias regiões do cérebro, o exercício também modula sistemas como a angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos) e a ativação glial (células da glia auxiliam na nutrição e suporte dos neurônios), que são conhecidos por apoiar a neuroplasticidade.
Não há dúvida de que a saúde do cérebro pode ser melhorada por meio de exercícios físicos. Procure sempre a orientação adequada de profissionais da saúde capacitados em atender suas respectivas necessidades individuais.
Referências
1. Hötting K, Röder B. (2013) Beneficial effects of physical exercise on neuroplasticity and cognition. Neurosci Biobehav Rev. 2013 Nov;37(9 Pt B):2243-57. doi: 10.1016/j.neubiorev.2013.04.005. Epub 2013 Apr 25. PMID: 23623982.
2. Lin, T. W., Tsai, S. F., & Kuo, Y. M. (2018). Physical Exercise Enhances Neuroplasticity and Delays Alzheimer's Disease. Brain plasticity (Amsterdam, Netherlands), 4(1), 95–110. https://doi.org/10.3233/BPL-180073
* As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do ge / Eu Atleta.
Fonte:https://www.blogger.com/blog/post/edit/4017745838114193890/3603560413843118919
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