AUMENTAM OS CASOS DE CÂNCER ENTRE OS MAIS JOVENS.POR QUÊ?: VACINA, 5G, WI-FI, MICROONDAS, AGROTÓXICO OU ALIMENTAÇÃO

  


Vacina, agrotóxico ou alimentação? Veja respostas para dúvidas dos leitores sobre câncer entre jovens

Após reportagem mostrar aumento de 284% nos diagnósticos entre pessoas de até 50 anos, especialistas esclarecem mitos e explicam o que se sabe sobre o fenômeno.

Por Talyta Vespa, g1

15/10/2025 03h01  Atualizado há um mês


 

Diagnósticos de câncer em jovens adultos cresceram quase quatro vezes em cerca de 10 anos, segundo dados do DataSUS apresentados em levantamento realizado pelo g1. Mas o que causa essa "explosão de casos"?

ATUALIZAÇÃOApós a publicação desta reportagem, o INCA informou que o aumento de registros de câncer no SUS desde 2019 se deve à melhoria na captação de dados e não representa um aumento real de diagnósticos. Segundo o órgão, os dados disponíveis no DataSUS e consultados pelo g1 sob a classificação de "casos segundo ano do diagnóstico" apresentam uma alta que é reflexo da implementação de novas regras do sistema. Leia mais sobre a explicação do INCA.

🗨️SUA DÚVIDA 📲Este texto responde às principais perguntas dos leitores nos comentários da reportagem "Casos de câncer em jovens adultos de até 50 anos aumentam 284% no SUS entre 2013 e 2024". Você também pode mandar sugestões pelo VC no g1.

Na reportagem sobre o tema, leitores enviaram perguntas sobre as possíveis causas, questionando desde um suposto papel de vacinas, dos agrotóxicos e dos adoçantes até os efeitos do estresse, da alimentação e do uso de tecnologias.

g1 reuniu as respostas com base em evidências científicas e dados oficiais. Veja abaixo:

💉 1. As vacinas podem causar câncer?

Não. Nenhuma vacina — nem contra a Covid-19, nem outras do calendário nacional — tem relação causal com câncer.

“Vacina não causa câncer”, enfatiza Stephen Stefani, oncologista do grupo Oncoclínicas e da Americas Health Foundation. “As pessoas podem ficar tranquilas — não há nenhum dado que relacione imunizantes à doença. Pelo contrário: a tecnologia desenvolvida para as vacinas da Covid-19 ajudou a impulsionar novas plataformas de terapias oncológicas.”

As vacinas contra o HPV, por exemplo, previnem um tipo de câncer, o de colo do útero.

Além disso, o aumento recente de tumores em adultos jovens começou anos antes da pandemia, e estudos internacionais, como o publicado na revista Nature Medicine (2022)não encontraram qualquer vínculo entre vacinas e aumento de risco oncológico.

☠️ 2. O uso de agrotóxicos está relacionado ao aumento de casos?

Há evidências de risco aumentado em exposições prolongadas, mas isso não explica sozinho o crescimento dos casos.

“Sim, há dados que mostram que o consumo de alimentos com quantidade acima da recomendada de agrotóxicos aumenta o risco. Não é um aumento explosivo, mas ele está relacionado, estatisticamente, ao aumento de tumores”, explica Stephen Stefani.

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também reconhecem que a exposição a pesticidas pode elevar o risco de alguns tumores, sobretudo em trabalhadores rurais e populações vulneráveis.

No entanto, especialistas alertam que dieta, obesidade e sedentarismo têm peso muito maior na origem do câncer do que a contaminação química isolada.

Vale a pena substituir o açúcar pelo adoçante? Veja 5 benefícios dessa troca — Foto: Shutterstock

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🧁 3. O aspartame causa câncer?

Em julho de 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou os resultados da avaliação de perigo e risco do aspartame. O adoçante foi classificado como “possivelmente cancerígeno”, mas a própria OMS e a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) afirmaram que o limite atual de ingestão é considerado seguro.

“O aspartame é classificado como possível risco, mas não está bem estabelecido que vá aumentar o risco de câncer”, explica Stefani.

“É preciso calibrar esse debate para não gerar alarme e levar as pessoas a trocar o adoçante pelo açúcar — e o açúcar, sim, contribui para o ganho de peso, que é um fator de risco bem documentado.”

🌐 4. O 5G, o Wi-Fi ou o micro-ondas causam câncer?

Não.

“Não, 5G e Wi-Fi não têm como causar câncer. O conteúdo biológico é absolutamente inverossímil — essas ondas não têm energia suficiente para danificar o DNA, que é o que precisaria acontecer para gerar uma doença oncológica”, afirma Stefani.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não há qualquer evidência de aumento de risco de câncer associado à exposição a redes sem fio, celulares, antenas ou aparelhos domésticos.

😣 5. O estresse pode causar câncer?

Não diretamente. O estresse não causa mutações genéticas nem danos celulares suficientes para iniciar um tumor.

“O estresse não é o causador, mas pode diminuir a imunidade em algumas situações e isso está relacionado ao crescimento de doenças existentes”, explica Stefani. "Eu gosto de colocar de forma prática: o estresse não é a semente; ele é o ambiente — a terra, a luz e a água para essa semente crescer.”

Ou seja, o estresse não cria o câncer, mas pode favorecer a progressão de uma doença já instalada, dificultar o tratamento e interferir no sistema imunológico.

Aditivos alimentares e ultraprocessados — Foto: Freepik

Aditivos alimentares e ultraprocessados — Foto: Freepik

🍔 6. A alimentação tem influência?

Sim, e muitaA alimentação é hoje um dos principais fatores modificáveis de risco.

Estudos do Inca e da Agência Internacional de Pesquia em Câncer emostram que dietas ricas em ultraprocessados, bebidas açucaradas e carnes processadas estão relacionadas à maior incidência de tumores colorretais, de mama e de fígado.

“É uma doença de estilo de vida. Só 5% dos casos são hereditários; 90% têm relação com alimentação, sedentarismo e obesidade”, explica Samuel Aguiar, líder do Centro de Referência de Tumores Colorretais do A.C.Camargo Cancer Center e diretor do programa de residência médica da instituição.

Segundo a médica nuclear e coordenadora do PET-CT da Clínica Villela Pedras Sumara Abdo, a obesidade é um fator central, porque “a gordura abdominal é um tecido biologicamente ativo que produz substâncias inflamatórias capazes de estimular o crescimento celular e favorecer mutações”.

“O corpo é forçado a se regenerar o tempo todo num ambiente hostil. É um processo inflamatório silencioso, difícil de reverter”, conclui Stefani.

🩺 7. O que realmente causa câncer?

Segundo especialistas ouvidos pelo g1, o risco está mais ligado a comportamentos e exposições acumuladas ao longo da vida, como:

  • consumo excessivo de álcool;
  • tabagismo;
  • alimentação ultraprocessada e obesidade;
  • radiação solar sem proteção;
  • poluição e exposição química crônica.

“Temos coisas que realmente agridem o DNA e o danificam ao longo da vida: álcool, cigarro, sol em excesso e poluição”, resume Stephen Stefani. “A bebida alcoólica, por exemplo, não tem dose segura — assim como o sol. Já o cigarro, com 7 mil substâncias e 300 delas cancerígenas, é o maior vilão conhecido.”

📊 Fontes: Painel Oncologia BR – DataSUS; entrevistas com Stephen Stefani (Oncoclínicas e Americas Health Foundation), Sumara Abdo Lacerda Matedi (Inca), Samuel Aguiar (A.C.Camargo Cancer Center); OMS; Inca; Anvisa; Nature Medicine (2022); Iarc (2023).


Fonte:https://g1.globo.com/saude/noticia/2025/10/15/vacina-agrotoxico-ou-erro-em-dados-veja-respostas-sobre-casos-de-cancer-entre-jovens.ghtml


Aumentam os casos de câncer entre os mais jovens. Por quê?

Em apenas três décadas, houve um aumento de 79% na quantidade de novos casos de câncer descobertos anualmente em pessoas com menos de 50 anos.

 

Por The Conversation Brasil

30/06/2025 06h56  Atualizado há 5 meses

Muitas vezes associado a idades mais avançadas, o câncer está sendo diagnosticado cada vez mais cedo. Um levantamento global mostrou que houve um aumento de 79% na quantidade de novos casos de câncer descobertos anualmente em pessoas com menos de 50 anos.

Tumores de mama, intestino, próstata, entre outros, estão surgindo precocemente. O risco parece crescer a cada geração, e essa tendência tem se manifestado de várias formas. Globalmente, destacaram-se os tumores de mama, tireoide e colo do útero, com os casos novos de câncer subindo 26% entre pessoas de 20 a 39 anos em 2022, em comparação a 2012.

Nos Estados Unidos, o notável aumento do câncer de intestino em jovens, nas últimas décadas, tornou esse tumor a principal causa de morte por câncer em homens com menos de 50 anos no país. Além destes, tumores menos comuns, como os de intestino delgado, vesícula e o sarcoma de Kaposi, vêm mostrando uma incidência crescente.

A realidade no Brasil não parece ser diferente. Estamos vendo, por exemplo, um aumento da proporção de câncer de mama entre mulheres com menos de 40 anos. Em uma avaliação feita no ICESP (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), essa proporção passou de 8% em 2009 para 22% em 2020. Esses dados se contrapõem à antiga ideia de que câncer é uma doença apenas de indivíduos mais velhos.

O câncer pode ser mais agressivo em jovens

Precisamos, ainda, destacar um ponto crucial: em pessoas mais novas, o câncer tende a se manifestar de forma mais agressiva e ser descoberto em estágios mais avançados. Vejamos o caso do câncer de mama, por exemplo. Existem três subtipos principais: o luminal (aquele que tem receptores hormonais, mas não tem uma proteína chamada HER-2 em grande quantidade); o HER-2 positivo (que tem a proteína HER-2 em grande quantidade) e o triplo-negativo (sem receptores hormonais e sem HER-2 em grande quantidade).

Mulheres jovens têm maiores possibilidades de apresentar subtipos mais graves de câncer de mama, com maior risco de recorrência e disseminação para outros órgãos, como é o caso do triplo-negativo. Este é um dos subtipos mais desafiadores, sendo bem menos comum em mulheres mais velhas, nas quais o tumor luminal costuma prevalecer.

A maior agressividade e a tendência a diagnósticos mais tardios fazem com que o câncer de mama nessa faixa etária se apresente em estadiamentos mais avançados. Isso porque muitas jovens estão fora da idade recomendada para os exames de rotina (como a mamografia) e costumam subestimar os sintomas iniciais, pela baixa conscientização sobre o risco de câncer nessa idade. Sem contar que a maior densidade das mamas em mulheres mais novas pode dificultar a precisão dos exames.

Por essa razão, os programas de conscientização são fundamentais, assim como a revisão das estratégias de prevenção. Exemplo disso é a colonoscopia para câncer de intestino, agora indicada mais precocemente, a partir dos 45 anos (e não mais 50 anos). Ao mesmo tempo, iniciativas promissoras, como o uso de inteligência artificial para análise de mamografias, também buscam melhorar a detecção de tumores, especialmente em mamas mais densas.

Além desses aspectos, não podemos ignorar que os jovens com câncer enfrentam desafios físicos e emocionais únicos devido à doença e ao tratamento, com impactos significativos na qualidade de vida como um todo.

 A queda de cabelo, as alterações de peso, cirurgias e eventuais cicatrizes podem ter um efeito profundo na autoimagem, nos relacionamentos, na saúde mental e também na sexualidade. Somado a isso, alguns tratamentos podem causar alterações nos níveis hormonais e até mesmo menopausa precoce e infertilidade permanente, com todas as consequências físicas e emocionais para uma população em plena idade fértil.

Igualmente, a jornada do diagnóstico, tratamento e recuperação afeta a vida diária e a convivência social, bem como as finanças, os estudos e a carreira profissional desses pacientes em idade ativa. Tudo isso deve ser levado em conta no tratamento e acompanhamento desses indivíduos.

Tipos de câncer mais comuns em mulheres — Foto: Reprodução/TV Globo

Tipos de câncer mais comuns em mulheres — Foto: Reprodução/TV Globo

Tipos de câncer mais comuns em homens — Foto: Reprodução/TV

Tipos de câncer mais comuns em homens — Foto: Reprodução/TV

Mudança de hábitos para prevenir

Diante disso, o que podemos fazer para mudar esse cenário? Acima de tudo, precisamos melhorar o nosso estilo de vida. É verdade que os fatores genéticos são particularmente relevantes em pessoas jovens, porém eles não são os únicos culpados. Na realidade, mais de 80% dos tumores nessa população não têm origem hereditária. Por isso, os resultados dos testes genéticos devem sempre ser avaliados por um médico especialista. Só ele saberá informar o real impacto dos resultados desses testes no risco de câncer e o que precisa ser feito.

Assim, ainda que a genética tenha seu papel, são os hábitos de vida pouco saudáveis (cada vez mais comuns no mundo inteiro) os grandes responsáveis por essa tendência mundial. Estima-se que ao menos 30% de todos os casos de câncer poderiam ser evitados com mudanças no estilo de vida.

Até mesmo pacientes com mutações genéticas, que apresentam alto risco de desenvolver um câncer, podem ter este risco diminuído por mudanças de hábitos de vida. Estamos falando de uma alimentação desequilibrada, rica em açúcar, farinha refinada (pão, arroz branco), ultraprocessados e carne vermelha. Esse tipo de dieta aumenta o risco de câncer ao induzir uma inflamação crônica no organismo, o que cria um ambiente propício para o surgimento e a sobrevivência de células tumorais. Isso porque a inflamação persistente pode prejudicar a imunidade, causar danos ao DNA e liberar substâncias que estimulam o crescimento de células cancerígenas.

O tabagismo, o consumo de álcool, a obesidade e o sedentarismo também têm um impacto negativo. No caso da obesidade, ela não só induz uma inflamação crônica no corpo, como também gera um desequilíbrio hormonal que favorece o surgimento de tumores. Por outro lado, a prática regular de atividade física possui um efeito protetor, podendo diminuir em 10% a 40% o risco de câncer.

Por tudo isso, precisamos melhorar o quanto antes os nossos hábitos de vida para reduzirmos a possibilidade dessa doença no longo prazo. Quanto mais mudanças favoráveis adotarmos, mesmo na idade adulta , maior será o impacto na nossa saúde e na redução do risco de câncer.

O aumento do câncer em jovens é uma realidade que exige a nossa atenção. É importante reforçar que não somos impotentes diante dessa realidade. Assumir o controle da nossa saúde adotando hábitos saudáveis é uma ferramenta poderosa na luta e prevenção do câncer.

Desde 2011, A.C.Buzaid é Diretor Médico Geral do Centro Oncológico da BP (Beneficência Portuguesa de São Paulo).

A oncologista Jessica Ribeiro Gomes é integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer.


Fonte:https://g1.globo.com/saude/noticia/2025/06/30/aumentam-os-casos-de-cancer-entre-os-mais-jovens-por-que.ghtml

 

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